60 ANOS DO FIM DA II GRANDE GUERRA MUNDIAL

O Brasil na Guerra - Parte 1
06/05/2005 19:27

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Summer Welles, representante dos EUA é aclamado na conferência de chanceleres no Rio, em 1942 <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/summer3.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Ministro Oswaldo Aranha declara rompimento de relações com o Eixo <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/MInistroOswaldoAranha.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Presidente Roosevelt fala no Congresso dos EUA após o ataque a Pearl Harbor <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/Roosevelt2.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Para melhor entendimento dos leitores da Agência de Notícias da Assembléia Legislativa, apresentamos, inicialmente, em ordem cronológica os fatos que antecederam a entrada do Brasil na II Grande Guerra.

Como os demais paises do mundo, o Brasil também estava preocupado com a possibilidade de um conflito mundial no ano de 1939. No dia 1º de setembro, ao ser informado da invasão alemã à Polônia e eclosão da II Grande Guerra Mundial, o presidente Getúlio Vargas recebeu o ministro da Fazenda, Arthur Souza Costa, que sugeriu a decretação de feriado bancário, para evitar uma corrida às agências bancárias, e de um seguro especial para o café brasileiro, o maior produto de exportação da época. Outra medida foi a convocação do ministério, que se reuniu no dia seguinte, para decidir pela neutralidade, decretar regras para a neutralidade e assegurar a manutenção da ordem e da segurança interna.

O ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra, em reunião com o presidente Vargas, expôs as suas apreensões sobre a guerra na Europa, que poderia ter reflexo interno, especialmente quanto à luta de doutrinas. Outra preocupação do titular da Guerra era o suprimento das indústrias bélicas brasileiras.

Com a guerra européia foi convocada a I Reunião de Consulta de Chanceleres das Republicas Americanas, realizada na cidade de Panamá, quando foram discutidos os problemas e as conseqüências caso o conflito se espalhasse. Desse modo, aprovaram, em 3 de outubro de 1939, a Declaração do Panamá, que por unanimidade instituía uma zona neutra nas Américas e também propunha medidas para a defesa territorial do comércio e da navegação.

No mesmo dia, o navio alemão Olinda foi atacado e posto a pique pelo cruzador inglês Ájax, ao largo do Rio Grande, 40 milhas da costa brasileira. A neutralidade das nações americanas foi novamente violada em 30 de setembro de 1939, quando o navio mercante inglês Clement foi interceptado e afundado pelo couraçado de bolso alemão Admiral Graf Spee, perto de 70 milhas da costa de Alagoas. Em 17 de dezembro de 1939, o Graf Spee foi afundado pela própria tripulação no Rio de Prata, próximo a Montevidéu, após uma batalha com navios da Marinha inglesa.

Bloqueio furado

No dia 12 de fevereiro de 1940, o cargueiro alemão Wakama foi afundado pelo cruzador inglês Hakins, ao tentar furar o bloqueio naval imposto pela Inglaterra e França. O navio da Alemanha estava no Rio de Janeiro desde 27 de agosto de 1939, onde permaneceu ancorado até a madrugada de 11 de fevereiro de 1940. Quando partiu, no dia seguinte, foi atacado quando navegava a 18 milhas de Cabo Frio. As nações americanas protestaram contra a agressão e a mais uma violação da neutralidade.

Preocupadas com uma possível agressão aos seus próprios territórios, as nações do continente americano, em 30 de julho, realizaram em Havana a II Reunião dos Ministros das Relações Exteriores. Os participantes deliberaram ao final da conferência renovar o decreto da I Grande Guerra, do antigo presidente uruguaio Baltazar Brum, de 18 de julho de 1917, que preconizava: "todo atentando da parte de um Estado não americano contra a integridade ou a inviolabilidade do território da soberania ou da independência política de um Estado americano deverá ser considerado como um ato de agressão contra todos os Estados americanos."

As crises diplomáticas foram surgindo, como o confinamento pela Marinha inglesa do navio mercante Siqueira Campos, que transportava armas alemãs para o Brasil, adquiridas antes da guerra. O governo brasileiro solicitou em 11 de outubro de 1940, ao governo britânico a sua liberação. A embarcação somente chegaria ao Rio em 8 de janeiro de 1941. Em dezembro, um novo incidente, agora com o navio Buarque, também apresado pelos britânicos.

No Rio de Janeiro foi instalada, em 14 de janeiro de 1941, a Comissão Interamericana de Neutralidade, criada pela Conferência do Panamá. Os governos britânico e alemão não aceitaram as decisões da Declaração do Panamá. Os ingleses ainda afirmaram que não acatariam a inviolabilidade das águas da zona de segurança. Quatro dias depois, quando navegando em águas territoriais brasileiras, o navio francês Mendoza foi capturado por um cruzador inglês. O governo do Brasil protestou.

Primeiro sacrifício

Com o recrudescimento da situação, o presidente Getúlio Vargas baixou normas restringindo a atuação de cidadãos de países em guerra no Brasil e a internação de integrantes de forças beligerantes que penetrassem no território brasileiro.

Mas o primeiro sacrifício da marinha mercante do Brasil não tardaria. Em março de 1941, o Santa Clara desapareceu nas proximidades das ilhas Bermudas. As investigações concluíram que a embarcação havia sido torpedeada por um submarino de nacionalidade desconhecida. Quatro dias depois, foi metralhado por aviões alemães, quando navegava no Mediterrâneo, o navio Taubaté. O ataque resultou em um morto e ferimentos em 13 membros da tripulação. O Brasil protestou e os alemães prometeram investigar, mas nada fizeram.

Por um pedido feito pelos Estados Unidos, o governo brasileiro autorizou, em 18 de abril de 1941, aos americanos a utilização dos portos de Recife e Salvador, e uma semana depois, em contrapartida, ofereceram-se para instruir pilotos brasileiros em seu país.

Por precaução, foi estabelecido em 14 de maio um programa de exportação de materiais estratégicos brasileiros para os Estados Unidos e de armamentos para o Brasil. Com a boa vontade do governo brasileiro, o embaixador dos Estados Unidos, Jefferson Caffery, advertiu ao subsecretário Summer Welles sobre a necessidade do governo americano melhor informar o presidente Vargas dos planos do governo de Washington referentes à guerra. Dias depois, Welles respondeu que tudo que fosse considerado importante seria comunicado ao governo brasileiro. No dia 28 de maio, Getúlio Vargas informou ao governo americano que honraria as obrigações contraídas nas Conferências do Panamá e de Havana, não deixando dúvidas quanto à sua posição no rumo do conflito que se estendia pelo mundo.

Reunida em Washington, a Comissão Conjunta de Planejamento americana sugeriu, em 4 de junho de 1941, a movimentação de tropas do Exército e da Marinha dos Estados Unidos para o nordeste brasileiro, admitindo a possibilidade de uma ocupação alemã naquela região. No mesmo dia, o próprio embaixador norte-americano, Jefferson Caffery, em telegrama a Summer Welles, advertiu que, enquanto as autoridades brasileiras estavam tomando providências no atendimento das solicitações dos norte-americanos, estes não cumpriam as promessas de remessa de armamentos.

Ocupação do Nordeste

O subsecretário de Estado Summer Welles havia solicitado, em 10 de junho, ao general George Marshall um expediente, explicando exatamente o que o Departamento de Guerra dos Estados Unidos queria no Nordeste do Brasil. Em sua resposta, no dia 17, Marshall alertava da possibilidade de ocupação do Nordeste brasileiro por tropas alemãs e apontava as medidas necessárias para a defesa. Em 26, a informação foi passada ao Caffery no Rio de Janeiro, ressaltando que a agressão era iminente e envolveria todo o Hemisfério Ocidental. No dia seguinte, o embaixador afirmou que o presidente Vargas estava definitivamente ao lado dos Aliados, mas que ainda não seria oportuno solicitar a devida permissão para o envio de tropas americanas para o Brasil.

Novamente, o navio Siqueira Campos era interceptado, dessa vez por um submarino alemão, que com um tiro de canhão de advertência fez a embarcação brasileira parar, sendo vistoriada e fotografada toda a documentação de bordo, e liberada em seguida. Mais uma vez o governo brasileiro protestou.

O embaixador Carlos Martins, da capital norte-americana, comunicou, em 19 de junho, a Getúlio Vargas ter conseguido assegurar a prioridade para o material de instalação da usina siderúrgica. Desde 22 de setembro de 1939, Getúlio discutia a necessidade da implantação de uma siderurgia no Brasil, inclusive, na ocasião, havia a presença no país de técnicos americanos estudando a viabilidade da pretensão brasileira.

Em 2 de julho, o embaixador Caffery insiste junto ao Departamento de Estado no fornecimento de todo o equipamento necessário a completar o armamento de uma divisão brasileira. Cinco dias depois, em Washington, são entregues ao embaixador Carlos Martins e ao general Amaro Bittencourt, adido militar à Embaixada do Brasil nos EUA, as cópias da minuta de um acordo básico para o programa de Empréstimo e Arrendamento ("Lend & Lease"), de transferência de material estratégico para o Brasil. O acordo só seria assinado em 1º de outubro.

Por oficio datado de 8 de julho, o embaixador Carlos Martins informou ao ministro Oswaldo Aranha a repercussão do relatório do chefe do Estado Maior americano que apontava a necessidade de ser modificada a lei de conscrição, para que o novo exército pudesse atuar além dos limites do hemisfério ocidental. Havia necessidade de uma alteração na legislação dos Estados Unidos para que as tropas pudessem ser enviadas para fora das Américas, já que essa pretensão era até então proibida.

A posição política e geográfica do Brasil levou o general Marshall a comparecer perante a Comissão de Assuntos Militares, do Senado americano, sendo ouvido pelos congressistas. Marshall deu várias informações envolvendo o Brasil e a defesa do hemisfério. O presidente Roosevelt, em carta a Getúlio, afirmou a necessidade de os dois chefes de Estado manterem contatos mais diretos. Vargas respondeu concordando.

Com a invasão da Holanda pelos nazistas, o governo brasileiro havia sido consultado sobre a participação na ocupação do Suriname. Getúlio declarou a Oswaldo Aranha, em 21 de agosto, que fosse informado o governo americano que, "em caso de serem satisfatórias as negociações com a Holanda, o Brasil estaria disposto a colaborar na ocupação do Suriname". A ocupação ocorreria em 24 de novembro, mas somente com tropas norte-americanas.

Após vários incidentes envolvendo seus navios e de Aliados em águas americanas, em 9 de setembro, Roosevelt ordenou à Marinha dos Estados Unidos atirar em navios suspeitos em águas da defesa do continente.

Cooperação Brasil-EUA

O presidente Franklin Roosevelt e seu governo sabiam da importância do Brasil e, em 1º de outubro, os dois paises firmaram acordo relativo ao fornecimento de informações e artigos de defesa, em cooperação para a segurança do Continente. Apesar da boa vontade de Roosevelt, Caffery escreveu para Washington, em 24 de outubro, aconselhando mudanças na atitude do Departamento de Estado nas negociações com o Brasil.

Do Rio de Janeiro, o adido militar americano general Lehman W. Miller tinha enviado, em 8 de agosto, um relatório ao Departamento de Guerra sobre o andamento dos projetos para a defesa do hemisfério que envolviam o Brasil. E, em 29 de outubro, o general Góes Monteiro discutiu com Miller os propósitos brasileiros na questão de cooperação militar com os Estados Unidos.

No domingo, 7 de dezembro de 1941, todo o mundo foi surpreendido pelo ataque japonês à base naval de Pearl Harbor, no Havaí. De Washington, o embaixador Carlos Martins telegrafou ao Itamarati, informando que o presidente Roosevelt desejava saber, com urgência, a opinião do Brasil sobre os últimos acontecimentos, pois pretendia convocar, imediatamente, uma conferência de consulta de chanceleres americanos. Getúlio reuniu o ministério, que decidiu por unanimidade declarar solidariedade aos Estados Unidos. Vargas, ao término da reunião, telegrafou a Roosevelt hipotecando a solidariedade do governo do Brasil.

Por sugestão do governo americano, a cidade escolhida para sede da Conferência dos Chanceleres foi o Rio de Janeiro. Em 15 de dezembro, o ministro Oswaldo Aranha telegrafou ao embaixador Carlos Martins para que informasse Summer Welles da concordância do Brasil com a escolha, após consulta ao presidente Vargas.

No Brasil, nem todos eram favoráveis à presença de estrangeiros no Brasil e, no dia 18 de dezembro, os generais Gustavo Cordeiro de Farias, Mascarenhas de Morais e Zenóbio da Costa protestaram junto ao ministro da Guerra, Eurico Dutra, contra a chegada de "técnicos" norte-americanos em Natal e Recife. Na realidade, esses "técnicos" eram militares.

A participação efetiva do Brasil na II Guerra Mundial foi realizada mesmo antes da entrada do país no conflito. Tanto é verdade que, em 7 de janeiro de 1942, Roosevelt escreveu a Getúlio Vargas agradecendo as facilidades dadas pelos brasileiros para manterem o corredor aéreo para a África e a utilização dos portos e campos de aviação do Nordeste para operações de patrulha. O chamado "Trampolim da Vitória", uma verdadeira ponte aérea entre Natal no Rio Grande do Norte e Dakar, no Senegal, foi o responsável pelo envio de aviões, armamentos e tropas para o norte da África, e de lá para os outros países que estavam sobre o controle dos exércitos nazi-fascistas, ajudando inclusive na derrota dos Afrika Korps, do general Rommel.

Para discutir o ataque do Japão ao Havaí, em 15 de janeiro de 1942, foi instalada, no Rio de Janeiro, a III Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas. No mesmo dia, Oswaldo Aranha foi eleito presidente da conferência.

Contrariados, os embaixadores da Alemanha e da Itália escreveram, no dia seguinte, ao ministro Oswaldo Aranha "advertindo quanto às conseqüências de um rompimento do Brasil com as potencias do Eixo". Um dia depois, o embaixador japonês fez o mesmo. Em resposta, o ministro das Relações Exteriores respondeu que "o Brasil se manteria fiel aos princípios do pan-americanismo".

O chefe da delegação dos Estados Unidos na Conferência dos Chanceleres foi o subsecretário de Estado Summer Welles, que, em 19 de janeiro, informou pessoalmente ao presidente Getúlio Vargas o que Roosevelt havia determinado: o governo americano enviaria o material bélico que o Brasil necessitava.

Sob a pressão dos embaixadores do Eixo, o presidente Vargas decretou a pena de morte para os sabotadores. Apesar da posição da opinião pública brasileira e do governo, capitaneado por Getúlio Vargas e Oswaldo Aranha, o general Góes Monteiro apresentou, em carta de 24 de janeiro, ao ministro da Guerra, parecer contrário ao rompimento de relações do Brasil com o Eixo. Encaminhado o expediente ao presidente Getúlio Vargas por Dutra, este endossou a opinião do chefe do Estado Maior, também desfavorável à medida. Eurico Dutra entendia que era necessário, primeiro, o Brasil se armar para, depois, agir.

Gratidão americana

No encerramento da Reunião dos Chanceleres, no dia 28 de janeiro, no Palácio Tiradentes, foi aprovada apenas uma recomendação para que os países americanos rompessem com o Eixo, e não o rompimento de relações continentais, por causa da negativa dos representantes da Argentina e do Chile, notoriamente nazi-fascista. Mas o Brasil rompeu relações diplomáticas com os paises do Eixo. O presidente Roosevelt em correspondência com Vargas expressou a gratidão dos povos do continente pela atuação do Brasil na Conferência do Rio de Janeiro.

Em resposta, Getúlio escreveu dando conta dos resultados da Conferência do Rio de Janeiro e recomendou que o ministro da Fazenda fosse aos Estados Unidos em missão econômica, e que fizesse entendimentos com os técnicos americanos. Souza Costa levou uma lista organizada pelos militares brasileiros, contendo as necessidades bélicas das Forças Armadas brasileiras, que foi entregue ao chefe-executivo do conselho distribuidor de material bélico, general Burns.

Em visita à Casa Branca, em 10 de fevereiro, Souza Costa ouviu do presidente americano que as solicitações do Brasil seriam atendidas, e do subsecretário Welles que o material bélico pedido seria embarcado ainda no mês de fevereiro.

Em 14 de fevereiro, Getúlio Vargas antevendo uma situação grave, pressionou Sousa Costa a fim de que obtivesse a urgente entrega do material bélico encomendado, após receber denúncia de atividades de paises vizinhos do sul, em combinação com agentes nazistas. No dia seguinte, o ministro da Fazenda reiterou o pedido do presidente brasileiro às autoridades americanas para uma solução referente às encomendas militares.

No mesmo dia, o Brasil seria vítima de um brutal ato criminoso, ceifando dezenas de vidas de cidadãos brasileiros.

alesp