Norha Beltrán cria, com ironia, opulentos e alegres personagens repletos de lirismo

Emanuel von Lauenstein Massarani
07/04/2003 17:08

Compartilhar:

Norha Beltrán<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/Norha Beltran.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A exaltação da forma através da sensualidade é uma tendência que existe desde quando se criou uma historia da arte. Entretanto, na arte contemporânea, onde não existem barreiras, essa característica torna-se mais espetacular e às vezes até mesmo mais agressiva. Na arte moderna existe muito mais liberdade. Houve um tempo em que, além dessa tendência, existia um respeito pelo real, respeitava-se a realidade mesmo dentro de uma determinada tendência estética.

A temática da pintora Norha Beltrán é bem latino-americana, mas também uma realidade da arte. Seus personagens, apesar de suas dimensões superdotadas são alegres e agradáveis. A artista pinta-os ao mesmo tempo com ironia e amor, como o mundo dos anões. Sempre no âmbito da cultura latino-americana lendo, por exemplo, "Cem anos de solidão" de Gabriel Garcia Márquez e "Pantaleão e as visitadoras" de Vargas Llosa, os personagens parecem sair de seus quadros.

É próprio da arte latino-americana, tanto literária quanto plástica, essa tendência à deformação, essa exageração total como encontramos em Garcia Márquez. É a caricatura da realidade na pintura e na literatura.

Devemos ressaltar que, na história da arte, pintores como Ingres e Renoir sempre tiveram um fascínio pelas formas gordas e opulentas. Por quê? Sensualidade? Ou resultado de um tipo de pesquisa que Berenson denominava de "valores do tato"?

O fato está que tanto Norha Beltrán no Brasil quanto Antônio Bueno na Itália e Fernando Botero na Colômbia criam os seus personagens extremamente dilatados e desfrutam de uma liberdade que seus grandes predecessores não tiveram e que a fotografia tornou possível à pintura moderna.

Essa artista brasileira, nascida na Bolívia, trabalha mais com a imaginação do que a realidade. Inspirando-se na sua memória, elabora seus personagens através de uma informação suficiente da realidade sem necessitar, portanto, de modelos. Suas cores vibrantes são trabalhadas com habilidade e as transparências que delas resultam surpreendem, criando, como na obra "La Espera", doada ao Acervo Artístico do Palácio 9 de Julho, uma atmosfera repleta de originalidade e gracioso lirismo.

A Artista

Norah Beltrán nasceu na Bolívia e naturalizou-se brasileira. Cursou Belas Artes na Europa e no Brasil e estudou Museologia e Psicologia.

Participou de numerosas exposições coletivas e particulares, destacando entre elas: Galeria Strohkoffer, Viena, Áustria; Museu de Arte - Salzburg - Áustria (1953); I Salão de Artes Plásticas A.C.A. - Buenos Aires - Argentina; XI Salão de Aquarelas e Desenho - Galeria Van Riel - Argentina; Galeria Penguin - Rio de Janeiro; Galeria Domus - Cataguases - Minas Gerais (1958); V Bienal de São Paulo Internacional (1959); Salão Oficial de Arte - São Paulo (1962); XII Salão de Arte Moderna - São Paulo (1963); Salão de Arte Nacional - Rio de Janeiro (1962 e 1965); Museu de Arte Moderna - Campinas; Galeria Chelsea - São Paulo (1965); Galeria Girassol - Campinas; Galeria F. Domingo - São Paulo; Galeria Eucat - São Paulo (1972)

alesp