O presidente da Duke Energy Paranapanema, Mickey Peters, compareceu à audiência pública realizada pelas comissões de Serviços e Obras Públicas e de Relações do Trabalho, realizada nesta quarta-feira, 18/8, no plenário D. Pedro da Assembléia Legislativa. Sua motivação foi defender a concessionária (que opera oito usinas hidrelétricas) das acusações feitas pelo Sindicato dos Trabalhadores Energéticos do Estado de São Paulo (Sinergia).A entidade sindical havia entregue ao deputado petista Sebastião Arcanjo um dossiê que apontava irregularidades na condução da empresa, entre elas, a demissão de funcionários, seguida de contratação de mão-de-obra terceirizada e sem qualificação.Uma primeira reunião, convocada para o dia 24/6, não pôde prosseguir porque Mickey Peters havia encaminhado um representante para falar em seu nome, atitude que os deputados consideraram desrespeitosa com a Casa.DossiêDirigida por Hamilton Pereira (PT), presidente da Comissão de Relações do Trabalho, e por Simão Pedro (PT), presidente da Comissão de Serviços e Obras Públicas, a audiência teve início com o depoimento de Wilson Marques, vice-presidente do Sinergia, que resumiu as acusações do sindicato constantes do dossiê entregue à CRT e à Delegacia Regional do Trabalho de Marília."A Duke começou a operar em 1999. Em julho de 2000, 84 trabalhadores já haviam sido afastados", informou Marques, que também relatou a falta de pagamento do adicional de periculosidade, de horas extras - já que a jornada ordinária da categoria é de seis horas e os empregados da Duke trabalham oito - e da manutenção de turnos de trabalho em que um único funcionário cuida dos equipamentos durante o horário noturno. "Em caso de acidente não há quem possa prestar socorro", informou.Marques também criticou o termo de confidencialidade ao qual os funcionários da Duke são obrigados a aderir. "O instrumento vai além da prerrogativa de sigilo profissional, inibindo a participação sindical com a ameaça de demissão imediata e multa de 50 mil reais".Em sua exposição, o auditor fiscal do Trabalho, Joaquim Gomes Pereira, destacou a inspeção feita na usina de Chavantes, no início do mês. "As irregularidades constantes do dossiê são procedentes. Algumas delas se embasam na legislação vigente. Outras somente serão obrigatórias a partir da edição de uma nova instrução normativa do Ministério do Trabalho e Emprego, que, embora já discutida, ainda não foi homologada".Quanto à terceirização de mão-de-obra, o auditor afirmou não haver impedimento legal, desde que não interfira na atividade-fim da empresa. "A exploração do fornecimento de energia foi objeto de licitação e, por conseguinte, é indelegável", afirmou.Modernização necessáriaMickey Peters, com auxílio de um intérprete, ponderou que apesar de contar com apenas cinco anos de atuação no Brasil, a Duke Energy tem mais de um século de experiência, o que se traduz na baixa ocorrência de acidentes de trabalho. "Estamos comemorando cinco milhões de horas sem afastamentos por acidente", pontuou, pedindo licença aos deputados para que o diretor de operações César Teodoro prosseguisse na explanação, por conhecer melhor o assunto.Por sua vez, o diretor escusou a empresa do enxugamento no quadro de funcionários, já que esta postura seria decorrente da imprescindível modernização dos equipamentos, única forma de manter a qualidade e a segurança na prestação dos serviços. Indagado por Sebastião Arcanjo (PT), Teodoro informou que a contagem de horas sem acidentes não leva em consideração os empregados de empresas terceirizadas.Os transformadores que utilizam como isolante o ascarel, óleo resultante da mistura de hidrocarbonetos a derivados de petróleo, não foram considerados de substituição prioritária pela empresa, apesar de o manuseio do produto causar danos irreversíveis ao sistema nervoso central, provocar câncer no fígado, no baço e nos rins, além de ameaçar de contaminação o solo, os rios e os lençóis freáticos. "A fabricação de equipamentos que utilizam ascarel foi proibida no Brasil em 1981, mas a lei não incluiu a utilização dos equipamentos que já existiam", justificou Teodoro.O deputado Sebastião Arcanjo corrigiu o diretor de operações da empresa, afirmando que o Brasil assinou, em 2001, a convenção de Estocolmo sobre poluentes orgânicos persistentes (POPs), de forma que o país está comprometido com sua erradicação. "As empresas que ainda utilizam o ascarel devem apresentar um projeto com cronograma de substituição dos equipamentos". Segundo o deputado, é fundamental que a Duke Energy cumpra o acordo coletivo firmado com o Sinergia, que fixa o mínimo de 320 funcionários. "Quando foi privatizada, a empresa contava com 420 trabalhadores diretos, hoje são apenas 285".Ao final da reunião, os deputados decidiram encaminhar, por escrito, à empresa as questões que ficaram pendentes durante a audiência, as quais deverão ser respondidas no prazo máximo de 30 dias.Também participaram da reunião os deputados Nivaldo Santana (PCdoB), Baleia Rossi (PMDB), Said Mourad (PFL), Geraldo Tenuta (PSDB) e Roberto Felício (PT).