A língua digital

OPINIÃO - Arnaldo Jardim*
16/04/2003 18:50

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Não se pode negar as vantagens advindas da Internet - especialmente quando ela funciona. Provedores ineptos e quedas de energia à parte, a facilidade de comunicação representada por esse sistema chega a ser aterradora. É possível alguém de algum rincão desconhecido do mundo entrar na rede para ter à sua disposição informações preciosas sobre os últimos acontecimentos em todas as áreas - política, economia, esporte e cultura, desde que tenha acesso ao sistema.

A Internet amplia a velocidade da comunicação mundial e leva os jovens a escrever mais, o que força positivamente um aperfeiçoamento da expressão. Isto é constatado nas salas de bate-papo, onde os jovens têm se comunicado como nunca, seja para trocar informações sobre culturas de diferentes países ou para paquerar. Ela também acelera a comunicação, pois ao invés do jovem ligar para os cinco amigos para combinar a "balada" da sexta, ele envia um único e-mail para todos. Especialistas chegam a afirmar que a comunicação pela rede pode estar preparando terreno para novas formas de expressão no futuro, inclusive na literatura.

Este aparente milagre da comunicação, porém, tem lá suas mazelas, causando diversas polêmicas entre os estudiosos da língua portuguesa - a famosa "última flor do Lácio, inculta e bela" do poeta Olavo Bilac. A Internet, pela sua rapidez e dinamismo, tem levado os jovens a abusarem das abreviações, criando novos códigos. A pontuação é cada vez menos freqüente, os acentos agudos são substituídos pela letra "h" e as letras maiúsculas perdem espaço para as minúsculas. Isto, para alguns, representa um sério risco para o aprendizado. Para outros, uma oportunidade de criação e transformação.

Muitos se divertem com a tradicional publicação, após os exames vestibulares, dos disparates perpetrados pelos alunos nas provas. No entanto, é um divertimento com sabor amargo à medida que nos traz a dimensão da falha em nossa educação de base. O português pode não ser a única vítima da falta de acentuação e das abreviações tão comuns na Internet, da qual o idioma inglês é um dos poucos beneficiados. Porém, as redações de futuros vestibulandos servirão de testemunho de nossa competência em fazer da Internet um instrumento de comunicação que não torture a nossa herança cultural.

Além de aprimorar o ensino de nossa língua, é fundamental democratizar o acesso à Internet. É verdadeiramente um crime que um meio de comunicação tão importante esteja reduzido, no Brasil, a apenas 8,3% dos cidadãos - os felizardos que têm acesso à rede. O próprio computador pode ser visto como artigo de luxo, ao estar disponível a só 12,5% da população. Falta investimento público para levar o acesso à Internet para as populações mais carentes desse país - justamente as que precisam mais de informação para ter uma noção melhor da própria cidadania.

Por estas e outras razões é que cumprimento, com entusiasmo, o governador Geraldo Alckmin e a secretária de Cultura, Cláudia Costin, pelo lançamento da campanha pelo incremento da leitura, para a população de São Paulo.

Este é um desafio a que as autoridades e a sociedade não podem se furtar, pois trata-se de uma ferramenta fundamental para melhorar a escolaridade do povo brasileiro, democratizar a informação e diminuir as desigualdades sociais.



*Arnaldo Jardim é deputado estadual, engenheiro civil, ex-secretário da Habitação (1993) e relator geral do Fórum SP Século XXI

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