O brado "Independência ou Morte" ainda ecoa na lembrança dos brasileiros


06/09/2007 19:59

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D. Pedro I, escultura <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/ESPECIAL D PEDRO 35.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> O grito do Ipiranga, detalhe do painel São Paulo, obra de Rodrigues Coelho, acervo do Museu de Arte do Parlamento de São Paulo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/ESPECIAL 1 001.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> D. Pedro I, óleo sobre tela <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/ESPECIAL dpedro1.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Assinatura da carta de D. Pedro I <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/ESPECIAL assinatura.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> D. Pedro I, o grito<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/ESPECIAL GRITO.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

O brado "Independência ou Morte" selou o destino político do Brasil em relação a Portugal e ali, na colina histórica, à margem do riacho, diante de seus auxiliares e dos jovens vale-paraibanos integrantes da Guarda de Honra, o príncipe Dom Pedro separou o Reino do Brasil do Reino de Portugal, realizando o sonho de milhares de brasileiros e dando início a um novo império, o Império do Brasil, primeiro e único em terras americanas.

Ecoa na tarde bem paulistana do 7 de setembro de 1822, clara de sol, céu azul, sem viração e na quietude, a boa nova festejada e louvada com morteiros, girândolas, foguetes, civismo, amor, ternura, perenidade. É o brado a sacudir São Paulo, uma cidade pacata e predestinada a um grande destino e a mexer com os corações brasileiros.

Vale lembrar que na conclamação de 1º de agosto "Aos Povos do Reino do Brasil", o então príncipe regente afirmava: Já sois um povo soberano, já entrastes na grande sociedade das nações independentes, a que tínheis todo o direito". Com esse espírito, Dom Pedro garbosamente chegou para a honra e a glória da terra paulista nas festividades de uma façanha heróica.

Os despachos de Lisboa

Enquanto Dom Pedro viajava pela província de São Paulo, chegou ao Rio de Janeiro um navio trazendo novos despachos e ordens de Lisboa. José Bonifácio, inteirando-se da gravidade dos assuntos, de comum acordo com a princesa Leopoldina, reuniu o Ministério para deliberar sobre os rumos a tomar. No dia 2 de setembro, às 11h da manhã, reuniu-se no Paço da Boa Vista o Conselho de Estado, sob a presidência da própria princesa para deliberar sobre a situação criada pelas notícias recebidas.

Depois de José Bonifácio ter feito uma exposição verbal do estado em que se achavam os negócios públicos se deliberou que se escrevesse a Dom Pedro incitando-o a proclamar a independência sem perda de tempo. Tendo em vista a unanimidade dos ministros, a princesa real, entusiasmada em favor da causa do Brasil, sancionou imediatamente a deliberação do Conselho.

Tanto Leopoldina quanto José Bonifácio decidiram escrever imediatamente ao príncipe, em termos realistas, incentivando-o a separar o Reino do Brasil do Reino de Portugal. Assim se expressou a esposa do regente:

"Pedro, o Brasil está como um vulcão. Até no Paço há revolucionários. As Cortes portuguesas ordenaram a vossa partida imediatamente, ameaçam-vos e humilham-vos. O Conselho de Estado aconselha-vos a ficar".

Os emissários

Para levar as cartas, mensagens e decretos à São Paulo, foram escolhidos o oficial da Secretaria do Supremo Conselho Militar, Paulo Gerônimo Bregaro, e o major Antônio Ramos Cordeiro. Finalmente, ao entardecer do dia 7 de setembro de 1822, os mensageiros encontraram a comitiva do príncipe às margens do riacho do Ipiranga e, um pouco mais distante, o príncipe regente em companhia do padre Belchior Pinheiro de Oliveira, do tenente Francisco Gomes da Silva, o Chalaça, e dos criados do paço, João Carlota e João de Carvalho Rapozo.

O padre Belchior, testemunha ocular do momento histórico deixou por escrito que o príncipe lhe determinara ler alto as cartas trazidas pelos emissários. Após o que Dom Pedro, tremendo de raiva, arrancou de suas mãos os papéis e amarrotando-os, jogou-os na relva. Depois virou-se para ele e disse: "E Agora?". E Belchior respondeu imediatamente: "Se Vossa Alteza não se faz rei do Brasil será prisioneiro das Cortes e talvez seja deserdado por elas. Não há outro caminho senão a independência e a separação".

Dom Pedro caminhou alguns passos, silenciosamente, acompanhado também por Cordeiro, Bregaro e o Chalaça, e de repente no meio da estrada, diz: "Padre Belchior, eles o querem, terão a sua conta. As Cortes nos perseguern, chamam-me com desprezo, de rapazinho e de brasileiro. Pois verão agora quanto vale o rapazinho. De hoje em diante estão quebradas as nossas relações, nada mais quero do governo português e viva a liberdade do Brasil".

Todos responderam imediatamente: "Viva a Liberdade! Viva Dom Pedro!". 0 príncipe virou-se para seu ajudante-de-ordens e disse: "Diga a minha guarda que acabo de fazer a independência do Brasil, com a separação de Portugal". O tenente Canto e Melo cavalgou em direção a uma venda, onde se achavam quase todos os dragões-da-guarda, e com eles veio ao encontro do príncipe, dando vivas ao Brasil independente, a Dom Pedro e à religião!

O príncipe, diante de sua guarda, disse então: "Amigos, as Cortes portuguesas querem escravizar-nos e perseguem-nos. De hoje em diante nossas relações estão quebradas. Nenhum laço nos une mais!." E, arrancando do chapéu o laço azul e branco, decretado pelas Cortes, como símbolo da nação portuguesa, atirou-o ao chão, dizendo: "Laço fora, soldados! Viva a independência e a liberdade do Brasil!".

Dom Pedro! desembainhou a espada, no que foi acompanhado pelos militares; enquanto que os paisanos tiraram os chapéus. E grita: "Pelo meu sangue, pela minha honra, juro fazer a liberdade do Brasil". "Juramos", responderam todos! Dom Pedro embainhou a espada, no que foi imitado pela guarda, e pôs-se à frente da comitiva, e voltou-se, ficando em pé nos estribos: "Brasileiros, a nossa divisa de hoje em diante será Independência ou Morte e as nossas cores verde e amarelo, em substituição às das Cortes".

E como finaliza Padre Belchior sua descrição: "O Príncipe firmou-se nos arreios, esporeou a sua besta e galopou seguido do seu séquito, em direção a S. Paulo, onde foi hospedado pelo brigadeiro Jordão, capitão Antônio da Silva Prado e outros, que fizeram milagres para contentar o príncipe. Mal apeara da besta, Dom Pedro ordenou ao seu ajudante-de-ordens que fosse às pressas ao ourives Lessa e mandasse fazer um dístico em ouro com as palavras "Independência ou Morte", para ser colocado nos braços. E com ele apareceu no espetáculo onde foi chamado "Rei do Brasil" pelo alferes Aquino e pelo padre lldefonso Xavier. No teatro, por toda parte só se viam laços de cores verde e amarelo, tanto nas paredes como no palco, nos braços dos homens, nos cabelos e enfeites das mulheres" .

"Eu voltarei no meu derradeiro repouso!"

"Eu voltarei, leais paulistanos! Eu voltarei no meu derradeiro repouso! Eu voltarei, meu pequenino riacho do Ipiranga, cujas águas refrescam minhas mãos e meus lábios. Eu voltarei, São Paulo!" - com essas palavras, a 10 de setembro de 1822, despedia-se Dom Pedro do povo de São Paulo, que fora aclamar entusiástica e patrioticamente no Pátio do Colégio aquele que soube bem encarnar o ideal da independência, colocando sua espada libertadora a serviço do Brasil.

Exatamente a 22 de abril de 1972, quando se iniciavam as comemorações do sesquicentenário de nossa independência, Dom Pedro I, "Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil", voltava para o definitivo repouso que sonhou, aos pés da colina histórica, na terra que adotou e que amou até o fim de seus dias.

alesp