A emergência da questão ambiental

Opinião
21/10/2005 17:01

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Ricardo Tripoli<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/Ricardo Tripoli02.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Desde o início do surgimento de grupos preocupados com a questão ambiental, esta temática foi vista com certo descaso, praticamente como sendo uma questão menor, secundária, acessória, suntuária até, pois se acreditava que era problema de país rico, a ser debatida quando as questões econômicas e sociais já estivessem resolvidas, como dizia o discurso do regime militar.

Vários indicadores " em especial as catástrofes naturais ocorridas ou por ocorrer " desmentem de forma muito clara esta assertiva. O início da falência do ecossistema amazônico, resultando em seca jamais vista que transforma igarapés com alguns metros de largura em desertos, é apenas uma das imagens da crise ambiental na qual o Brasil e o mundo estão entrando. É o equivalente nacional do símbolo africano da crise com as neves do Kilimanjaro " que Hemingway chamou de eternas " derretendo e sumindo.

Agora já não é mais possível dizer que esta imagem só existe no discurso dos catastrofistas, porque ela já ganhou realidade e abre as primeiras chagas de uma doença detectada há décadas. Muitas outras chagas do mesmo tipo vão surgindo pelo mundo, furacões, doenças novas ou renascidas, alteração no clima, ondas de calor em muitos países.

Mas a emergência da questão se reflete não apenas nas grandes paisagens

globais, mas nas pequenas cenas urbanas. É nos deslizamentos de terra que matam pessoas, é na escassez de água, nas epidemias, nas enchentes e em muitos outros acontecimentos como estes degradando a qualidade de vida de todos " em especial dos mais pobres - que a questão ambiental prova aos seus detratores que ela não é um "luxo" de classe média ou um hobby, mas uma questão a ser considerada como central e estreitamente vinculada às questões sociais.

Não deixa de ser paradoxal o fato de que embora seja identificada e falsamente acusada de tema restrito da classe média, seja justamente a população carente a maior vítima da degradação ambiental. Em grande parte este efeito é derivado da concepção equivocada que restringe a temática ambiental a nichos, segmentos, opções de vida alternativa, ao invés dela ser tomada em seu sentido integral, como uma das preocupações básicas na formulação de políticas. Em função desta visão equivocada julga-se que é suficiente dar ao morador da periferia as coisas que se consideram mais básicas: um teto, um emprego. A cidade de São Paulo e outras cidades da região metropolitana expressaram por décadas esta concepção de que a questão ambiental é um luxo, um adorno, noção que felizmente está mudando por todo lugar com o aumento da consciência do impacto que o descaso com este assunto pode causar. Certamente os aspectos mais gerais e globais da questão ambiental são importantes e relevantes " até porque a chave da questão é compreender a profunda interligação que como uma onda espalha por todo o planeta os efeitos da degradação. A imensa população da periferia das grandes cidades " maior vítima do descaso com o equilíbrio do ambiente " deve ser conquistada e conscientizada para o fato de que sua qualidade de vida, sua saúde, sua segurança e seu futuro estão indissoluvelmente ligados a esta questão. Ao mesmo tempo em que esta qualidade de vida dos moradores da periferia é um direito destas comunidades, ela é também uma condição essencial para que se garanta a saúde da cidade como um todo.

Neste sentido a atual crise ambiental, demonstra que eventos ocorridos em lugares distantes do globo têm efeito direto sobre as nossas vidas " por exemplo o aquecimento global e a disseminação de novas epidemias "e têm o grande mérito de abrir nossos olhos para o fato de que o que ocorre em qualquer lugar da nossa região, em especial em nossa cidade, tem também efeito sobre nós. Se não conseguimos escapar das catástrofes globais, tampouco conseguiremos nos isolar em alguma "ilha urbana", portanto, tudo o que ocorre na cidade deve ser do nosso interesse.

*Ricardo Tripoli, advogado, é deputado estadual, líder da bancada do PSDB e membro da Comissão de Meio Ambiente na Assembléia Legislativa de São Paulo, foi Secretário de Estado do Meio Ambiente

rtripoli@al.sp.gov.br

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