ESPANHÓIS AGORA DIVIDEM O QUINTAL - OPINIÃO

Nivaldo Santana*
06/12/2000 16:44

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Em 7 de junho de 1494, Espanha e Portugal assinaram um tratado para estabelecer limites nas disputas sobre a propriedade de terras descobertas por Cristóvão Colombo e outros navegadores. Quinhentos anos depois, a ofensiva dos espanhóis sobre a economia brasileira parece reeditar o Tratado de Tordesilhas, numa vingança espanhola fora de época. Esta é a parte que poderia ser considerada cômica. A trágica é que as vítimas, agora como há 500 anos, continuam sendo os brasileiros, obrigados a conviver com esta nova fase do colonialismo.

A venda do Banespa para o Banco Santander Central Hispano, nas condições em que se deu, estimula a pensar que há algo de muito errado.

O Banespa é um gigante financeiro. Tem 3,053 milhões de contas correntes, 571 agências e 749 postos de atendimento. Antes da privatização, foi submetido a um enxugamento brutal. Para ficar em um só exemplo: em dezembro de 1994, o Banespa tinha 33.877 funcionários. Em dezembro de 1999, 20.098. Foram demitidos 40% dos funcionários, em cinco anos.

O ágio de 281% oferecido pelo Santander, longe de ser comemorado, deve gerar pesadas desconfianças; até porque, semanas antes do leilão da privatização, técnicos do Dieese e da Unicamp denunciaram a subavaliação do patrimônio do Banespa, realizada pelo Banco Fator.

Na verdade, os R$ 7 bilhões propostos pelo novo controlador do Banespa se encaixa na estratégia do banco de reforçar sua presença no Brasil, país que detém 35% do PIB da América Latina. A praça principal do banco, o Estado de São Paulo, conta com 45% dos depósitos e 40% das contas bancárias do país.

Segundo o The Wall Street Journal, a intenção dos novos donos do Banespa é comprar a participação dos acionistas minoritários, tornando o negócio ainda mais rentável. Até 2003, o Santander pretende que o lucro líquido do Banespa chegue a US$ 800 milhões, com um retorno sobre o patrimônio de 25%, em linha com os bancos espanhóis de melhor desempenho.

É claro que as perspectivas de lucro do banco são enormes, dadas as grandes facilidades do edital de privatização. Uma delas garante até 2007 a manutenção da atual sistemática de pagamento da conta-salário dos servidores públicos do Estado, o que significa depósitos mensais em torno de R$ 950 milhões.

Não bastassem todas as vantagens, os dirigentes do Santander agora falam em demitir cerca de 10 mil banespianos e fechar agências, agravando o drama do desemprego e reorientando a ação do banco não para atividades de fomento da nossa economia, mas para aquelas de maior rentabilidade, como qualquer banco privado. É a mesma receita aplicada em outras privatizações. Há dez meses, o BSHC comprou o Banco Meridional e já demitiu 1.448 funcionários. O número de agências também foi reduzido, passando de 169 para 156.

No setor de telefonia, ao comprar a Telesp os espanhóis da Telefônica também demitiram e, além disso, trouxeram de seu país de origem os executivos para ocuparem os melhores postos de trabalho. Hoje, a Telefônica importa da Espanha os equipamentos que utiliza. Outras empresas espanholas como a Atento, de telemarketing, compraram empresas brasileiras e hoje prestam serviços para a Telefônica.

A privatização do Banespa, portanto, é mais um episódio da política entreguista associada aos ataques contra os direitos dos trabalhadores. Os neoliberais tupiniquins já nem falam mais em usar recursos da privatização para as áreas sociais. Tudo é para pagar dívidas!

A continuidade da política de privatizações transforma cada vez mais o Brasil em nação subjugada, que perde espaço econômico no cenário internacional. A diferença é que agora o quintal, que era dos Estados Unidos, também comporta os espanhóis.

*Nivaldo Santana é deputado estadual, líder do PCdoB na Assembléia Legislativa.

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