Opinião - Prostituição: glamour ou destruição?


21/03/2011 16:16

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O filme Bruna Surfistinha é atualmente uma das maiores e mais promovidas produções cinematográficas brasileiras. Em apenas dez dias de exibição, o longa ultrapassou a marca de um milhão de espectadores. E não é por menos, o roteiro vai pelo caminho de tantas outras receitas de sucesso que procuram colocar na tela uma história baseada em um fato real. Neste caso, a história de uma prostituta que tem muitos sonhos.

Não tiro os méritos do filme enquanto produto cinematográfico, mas cabe salientar que uma produção deste tipo não esgota o assunto. A prostituição é algo que vai muito além de sonhos, decepções e bilheteria. Não sou nenhum crítico de cinema, mas como parte da população brasileira, posso falar minha opinião sobre filmes produzidos por aqui. Não acho que a história rendeu bilheteria porque se trata de uma verdadeira obra de arte, mas simplesmente pela curiosidade em ver a história de uma moça que já recheou páginas de jornal, apareceu em inúmeros programas televisivos e ficou famosa por um blog em que postava sobre suas experiências e até dava notas.

A questão é que o filme, assim como o livro e outras aparições e reportagens sobre Raquel Pacheco - retratada pela atriz Deborah Seco " tem mostrado a história de uma prostituta que se deu bem na vida. O perigo, em minha opinião, não é tratar da prostituição de uma maneira próxima, contando a história de uma moça de classe média que não precisava "ganhar a vida" dessa maneira por necessidade, mas simplesmente porque queria fazer isso para não depender de ninguém. Só que a mídia tem visto o longa apenas como uma reprodução fiel do que seria a vida de uma garota de programa em nosso país.

Neste mês, o jornalista e crítico de cinema Zé Geraldo Couto, autor de vários livros, dentre eles "André Breton - A transparência do sonho", escreveu em seu blog que o filme parece mostrar que toda a trajetória de Bruna se justifica pelo desejo de independência profissional e financeira, quase como um filme de auto-ajuda, centralizado na mensagem "acredite nos seus sonhos". Realmente, parece que alguns esquecem que a vida da maioria das pessoas que resolveram entrar nessa espécie de comércio não é tão simples assim e quase nunca acaba com a vida de glamour, que agora parece ter com uma das atrizes globais mais famosas interpretando a personagem.

Minha crítica não diz respeito ao filme, mas a toda a repercussão da história de Bruna. Os programas de TV de grande audiência muitas vezes se esquecem de mostrar o outro lado, o da prostituição como algo que nem todas querem para si. Um mundo que muitas vezes está ligado ao consumo de drogas, ao crime, destruição de famílias, tráfico de mulheres, prostituição infantil ou mesmo a contração de doenças como a Aids. Bruna Surfistinha, o filme, é apenas um recorte de uma realidade muito mais complexa e obscura. Raquel pode ter alcançado seu objetivo de chegar ao topo, mas a maioria das mulheres que resolveram seguir o mesmo caminho não chegaram nem perto desse estrelato.



*Gilmaci Santos é deputado estadual e presidente estadual do PRB. Também participa das comissões de Defesa dos Direitos do Consumidor e de Economia e Planejamento.

alesp