Renascimento

Opinião
21/12/2005 18:47

Compartilhar:

Arnaldo Jardim <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/ajardim.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Durante a minha infância tive o privilégio de crescer acreditando em Papai Noel. Escrevia cartinhas, em que prestava contas de como havia me comportado em casa e na escola, confraternizava com a família, rezávamos juntos e, mais do que trocar presentes, fazíamos um balanço do ano que se findava. Por várias vezes, em companhia de meus pais e irmãos, visitávamos obras assistenciais, nos mobilizávamos para socorrer e auxiliar o próximo.

Hoje, testemunho com amargura a proliferação desenfreada de clones de Papai Noel, que deixaram de lado as chaminés e meias do imaginário infantil para vender supérfluos com parcelamentos a perder de vista, anunciar promoções imperdíveis " como se o afeto fosse medido pela capacidade de compra do indivíduo.

Parece que assassinaram o "bom velhinho original". Lembram-se dele? Aquele que pregava a paz, o amor e atiçava a fantasia de crianças de todas as idades. Talvez esteja com problemas no Serasa " afinal, os desejos sentimentais foram trocados por bens materiais de toda ordem. Quem sabe, não está preso em Guantánamo, acusado de instigar a tolerância entre os povos, ou no Juqueri, tratado como louco por pregar a paz em um mundo movido por conflitos armados. Quem sabe não está ressabiado, pensando: "Como podem ser capazes de fazer coisas maravilhosas ao mesmo tempo em que se destroem entre si?"

Não quero aqui condenar simplesmente a troca de presentes, até porque tem um sentido religioso, uma reedição da passagem bíblica dos Reis Magos, que presentearam o menino Jesus. Quero um Natal diferente, em que além de desejarmos, sejamos capazes de arregaçar as mangas para resgatar o verdadeiro sentido desta data " semear o amor.

Existem milhares de anônimos que dedicam um pequeno espaço do seu tempo para fazer o bem, seja em asilos, creches, associações que atendem menores carentes, instituições que tratam de crianças excepcionais, entidades que tratam de pessoas com problemas de saúde, ONGs, ou na distribuição de alimentos, remédios e brinquedos. São iniciativas que deixam claro: mais vale um sinal de afeto, um abraço, um sorriso que um presente qualquer. Que estas ações voluntárias se multipliquem ao longo do ano, atraindo cada vez mais pessoas, conscientes de que o verdadeiro sentido do Natal está em ajudar ao próximo sem esperar nada em troca. Volto a insistir, vamos fazer do voluntariado e da solidariedade um exercício diário, não apenas em uma data específica, mas ao longo de toda vida.

"Meu amigo volte logo, venha ensinar seu povo, que o amor é importante, vem dizer tudo de novo". Na letra de "Todos estão Surdos", de Roberto Carlos, reside o meu apelo neste Natal. Que possamos fazer deste Natal um momento de reflexão, que simbolize um renascimento para um mundo mais justo, fraterno e harmonioso. E, assim, conseguir ressuscitar o bom velhinho em nossos corações.



*Arnaldo Jardim é engenheiro Civil.

alesp