Há 27 anos, a morte de Herzog e a "abertura política"
DA REDAÇÃO
Há 27 anos, no dia 24 de outubro, se apresentava ao Doi-Codi/SP, mediante intimação, o jornalista Wladimir Herzog, sob acusação de ligações com o Partido Comunista Brasileiro. No dia seguinte, Herzog morreu em decorrência de torturas sofridas. A versão oficial do governo militar foi a de que o jornalista teria se enforcado com o cinto de seu macacão de presidiário. E assim foi apresentado à imprensa: pendurado em uma grade pelo pescoço. Apesar dessa grade ter altura inferior à do jornalista, foi mantida, no relatório das Forças Armadas, a versão de suicídio.
Entretanto, segundo os depoimentos de Jorge Benigno, Jathay Duque Estrada e Leandro Konder, presos juntamente com Herzog, o jornalista havia sido assassinado sob tortura. Os depoentes ouviram com nitidez o interrogatório e as torturas aplicados a Herzog.
A versão militar caiu por terra quando o rabino Henry Sobel decidiu que Herzog não seria enterrado como suicida (no canto do cemitério, sem homenagens). Na época, Sobel afirmou que o comitê funerário Shevra Kadisha o havia informado de que o corpo do jornalista apresentava sinais de tortura. "Para marcar a defesa dos direitos humanos, resolvi que Vlado seria enterrado bem no centro do cemitério, com as honrarias que merece um cidadão judeu honrado", declarou o rabino.
No dia 31 de outubro, Sobel realizou, juntamente com o pastor James Wright e o cardeal arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns, culto ecumênico que reuniu mais de 8 mil pessoas, no Largo São Francisco, para homenagear o jornalista.
A "abertura política"
A morte de Herzog causou forte reação na opinião pública e a indignação se intensificou três meses depois, com o assassinato, também sob tortura, do operário Manuel Fiel Filho.
Os dois incidentes foram o ponto de partida para a abertura político-democrática que culminou no fim do regime militar.
Desde que assumiu o poder, em 31/03/1964, o regime militar perseguiu e torturou milhares de cidadãos. No total, segundo dados do Grupo Tortura Nunca Mais, foram cerca de 206 mortos oficiais e 151 desaparecidos.
Ao longo dos 21 anos em que ocuparam o governo, os militares cassaram direitos constitucionais e políticos, 'rasgaram' a Constituição com a edição de atos institucionais e implementaram um dos regimes mais autoritários da época, mediante crimes violentos contra os direitos humanos, resultantes da prática de torturas.
A partir da morte do jornalista Herzog e do operário Fiel Filho, a sociedade passou a pressionar o governo que não teve outra saída senão admitir, ainda que lentamente, um processo de abertura política.
O ano de 1976 foi marcado por manifestações estudantis, como os dois encontros nacionais dos estudantes, em São Carlos e São Paulo, nos meses de agosto e outubro.
O povo saiu às ruas em maio de 1977, quando duas concentrações no Largo São Francisco, em 3 e 19 de maio, reuniram perto de 10 mil pessoas cada uma. Finalmente ,no dia 22 de setembro desse ano, o III Encontro Nacional dos Estudantes, realizado na PUC/SP, culminou na invasão do campus e resultou no ferimento de 16 estudantes.
No ano de 1979, o governo do general Euclides Figueiredo editou a anistia que possibilitou a volta ao país de vários presos políticos.
No entanto, o Estado só admitiu a culpa pelos crimes praticados pela ditadura militar durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, quando foi publicada a Lei federal 9140, de 04/12/1995, que reconhece a participação do Estado no desaparecimento e na morte de presos políticos vítimas de torturas, no período entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979.
A lei também criou uma Comissão Especial que avaliou os casos de desaparecimento, de forma que as famílias pudessem ser indenizadas pelo poder público, conforme o Decreto 2255, de 16/06/1997.
Vinte anos se passaram entre a morte de Herzog e a edição da Lei dos Mortos e Desaparecidos Políticos. Um longo caminho de manifestações populares e de luta pela reconstrução política do Brasil foi percorrido até que o povo pudesse recuperar a cidadania e o direito ao voto direto, uma das expressões mais notórias da democracia.
Biografia
Wladimir Herzog nasceu em Osijsk, Iugoslávia, no ano de 1937. Foi professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e jornalista. Seu último trabalho foi como diretor de jornalismo da TV Cultura. Casado com Clarice, teve dois filhos: Ivo e André.
A família moveu processo contra o Estado e a Justiça só admitiu a culpa da União em 1978, mas foi em 21/06/1983 que o Tribunal Federal de Recursos manteve, por maioria de votos, a sentença do juiz José Moraes, da 7ª Vara Federal de São Paulo, que responsabilizou a União pela prisão, tortura e morte de Wladimir Herzog. A decisão em favor de uma indenização para a família só saiu em 1987 e foi paga no final da década de 90.
Notícias mais lidas
Lista de Deputados
Mesa Diretora
Líderes
Relação de Presidentes
Parlamentares desde 1947
Frentes Parlamentares
Prestação de Contas
Presença em Plenário
Código de Ética
Corregedoria Parlamentar
Perda de Mandato
Veículos do Gabinete
O Trabalho do Deputado
Pesquisa de Proposições
Sobre o Processo Legislativo
Regimento Interno
Questões de Ordem
Processos
Sessões Plenárias
Votações no Plenário
Ordem do Dia
Pauta
Consolidação de Leis
Notificação de Tramitação
Comissões Permanentes
CPIs
Relatórios Anuais
Pesquisa nas Atas das Comissões
O que é uma Comissão
Prêmio Beth Lobo
Prêmio Inezita Barroso
Prêmio Santo Dias
Legislação Estadual
Orçamento
Atos e Decisões
Constituições
Regimento Interno
Coletâneas de Leis
Constituinte Estadual 1988-89
Legislação Eleitoral
Notificação de Alterações