A nostalgia da obra de Gregório Grüber revela harmonia e lirismo poético

EMANUEL VON LAUENSTEIN MASSARANI
02/10/2002 18:48

Compartilhar:

A tela retrata o Palácio das Indústrias, antiga sede da Assembléia Legislativa<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/Gruber21002 copy.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Avesso a qualquer tipo de rotulação, Gregório Grüber percorre, com um sucesso ímpar, o caminho outrora desbravado pelos viajantes do século XVIII e XIX, que, atraídos pelo Eldorado, visitavam o Brasil de norte a sul, registrando sítios, povoações indígenas e cidades nascedouras.

Viajante do novo milênio, dentro dessa "Paulicéia desvairada", o artista retrata São Paulo com profunda maestria, onde o seu lado de urbanista fala alto ao pintar a cidade que vivencia intensamente. Arquiteto sem sê-lo, Gregório desenvolve seu trabalho com uma estrutura arquitetônica que monta a partir de esboços, seja em desenho ou aquarela.

Cronista do nosso tempo, pesquisando a transformação de nossa metrópole, procura registrar as etapas do seu desenvolvimento, mas também de sua decadência. A exemplo do homem urbano, seus quadros refletem a solidão do cotidiano.

Artista verdadeiro, reinventor da realidade e virtuoso em sua pintura, Gregório luta contra o virtuosismo, que conforme ele próprio afirma parece persegui-lo: "Muitas vezes chego ao final de um quadro e apago tudo para recomeçar de suas ruínas. Então aproveito as sugestões que aparecem ao acaso quando você apaga uma imagem. Incorporadas à nova versão, elas abrandam, com seu efeito inesperado, o rigor formal da execução".

Percorrendo praças, esquinas e logradouros importantes da vida paulistana, anotando seus detalhes mais intrínsecos com um olhar perscrutador, o artista pode ostentar com orgulho o título de "Iconógrafo paulista do novo milênio".

A interpretação do pintor sobre o Palácio das Indústrias, outrora sede da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, bem reflete o conceito de Miguel de Almeida que: "Se hoje fosse passado, Gregório estaria imaginando o futuro. Sua natureza é o urbano das metrópoles". Doada ao Acervo Artístico do Palácio 9 de Julho, pelo próprio artista, essa obra reinventa com profunda sensibilidade a arquitetura de linhas medievais florentinas desenhada por Ramos de Azevedo.

Como a música representa o seu elemento de re-equilíbrio em contraponto à pintura, a obra de Gregório revela perfeita harmonia e lirismo poético, repleto de nostalgia do que foi o nosso passado.

O Artista

Luiz Gregório Grüber Corrêa é pintor, escultor e gravador. Nasceu em Santos, em 1951, filho do gravador Mário Grüber. Em 1969, estudou desenho com Frederico Nasser.

Expôs no XXI Salão Paulista de Arte Moderna e na coletiva Panorama da Arte Atual Brasileira no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1971. No ano seguinte, freqüentou aula de modelo vivo em Paris e Londres; foi distinguido com o Prêmio de Aquisição no Salão de Arte Contemporânea de Campinas.

Em 1973, participou da mostra Em torno do real, na Galeria B no Rio de Janeiro. Em 1974 realizou sua 1ª mostra individual no Museu de Arte de São Paulo. Ganhou o Prêmio de Melhor Gravador pela Associação Paulista dos Críticos de Arte; coordenou o curso de desenho de modelo vivo na Pinacoteca do Estado.

Participou da Bienal de Cali, na Colômbia, em 1976. Conquistou o Prêmio de Aquisição no I Salão Nacional de Artes Plásticas no Rio de Janeiro, em 1978. No ano seguinte, participou da exposição Anatomias com suas esculturas na Galeria Luísa Strina (São Paulo).

De 1981 a 1986, participou de diversas exposições, com destaque na XII Bienal de Paris. Em 1989, mudou-se para Barcelona (Espanha), e no ano de 1993, expôs pinturas, esculturas em terracota e vidrotil na Galeria São Paulo; participou a seguir das XII e XV Bienais Internacionais de São Paulo.

Suas obras encontram-se no Museu de Arte Brasileira - FAAP, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, no Museu de Arte de São Paulo, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, no Museu de Arte Contemporânea de Campinas, Museo La Terrulia em Cali (Colômbia), Museu de Arte de São Caetano do Sul, Museo de Arte Americana de Maldonado (Uruguai), Museo Municipal de Artes Gráficas em Maracaibo (Venezuela), Fundação Window South em Nova Iorque (Estados Unidos), Museu de Arte de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea, Universidade Federal de Juiz de Fora (Minas Gerais), Instituto Cultural Itaú, The Gaia Foundation em Londres (Inglaterra) e Secretaria da Cultura de Santos

alesp