Nos presídios brasileiros, o ano de 2006 começou do jeito que 2005 terminou: com rebeliões de presos. Se em pleno dia de Natal, houve um motim assustador no Presídio Urso Branco, em Porto Velho, capital de Rondônia, o dia de Ano Novo marcou de modo dramático a Casa de Custódia de Taubaté, no Vale do Paraíba, Estado de São Paulo. Nos dois episódios, ficou evidente a participação de facções criminosas, por meio de tentativas de impor exigências de privilégios dentro das cadeias. Uma vez que as autoridades perderam a força, os bandidos condenados a longas penas é que dão as cartas.O caso de Rondônia chamou a atenção principalmente quando os presos rebelados anunciaram que haviam matado 16 reféns. Menos mal que, ao final do motim, verificou-se que se tratava de uma mentira: desta vez, não houve mortes, ao contrário da rebelião de 2004, no mesmo Presídio Urso Branco, onde 14 presos foram assassinados por seus companheiros e alguns deles tiveram suas cabeças decepadas e exibidas no pátio.No entanto, os detentos tiveram uma vitória parcial, nos últimos dias de 2005, com a decisão das autoridades de manter o bandido Edinildo Paulo de Souza, o "Birrinha", de 27 anos, naquela cadeia, em vez de transferi-lo para um presídio de maior segurança. "Birrinha" comandou tanto o motim de 2004 quanto o de 2005 e, agora, entrou em 2006 com as antigas ameaças. Rondônia permanece, portanto, um barril de pólvora, a exemplo de outros Estados em que o problema dos presídios é gravíssimo.Já a rebelião de Taubaté, ocorrida uma semana após a de Porto Velho e, portanto, no primeiro dia de 2006, ficou caracterizada por uma velha questão não resolvida: a da incrível ação que facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), continuam tendo nos presídios paulistas. O motim começou na noite de domingo, 1.º de janeiro, quando um preso, Sócrates Galdino, de 26 anos, usando uma falsa pistola, feita de sabão, dominou três funcionários para tentar fugir.A Casa de Custódia de Taubaté é uma das cadeias mais seguras do Estado de São Paulo e, pelo menos desta vez, ninguém conseguiu escapar. Mas o detento Sócrates, um dos líderes da facção Terceiro Comando da Capital (TCC), rival do grupo do PCC, conseguiu armar uma sangrenta confusão: libertou das celas 90 homens e 72 mulheres que cumpriam pena. Em seguida, os presos rebelados provocaram a morte de dois detentos e ameaçaram vários outros. Marcelo Luiz dos Santos, o "Chiclete", de 27 anos, integrante do PCC, foi assassinado a facadas. Outro membro dessa facção, Wagner Tomás de Oliveira, foi obrigado a se enforcar em sua cela.Entre os ameaçados pelos líderes do TCC estavam dois presos que a Polícia Civil do Vale do Paraíba denunciou como integrantes da quadrilha do PCC que assassinou, em 23 de outubro de 2005, em Taubaté, o ex-funcionário José Ismael Pedrosa, antigo diretor da Casa de Custódia. Pedrosa, que defendia rigor contra os presos, era um profissional exemplar. E pagou isso com a vida.*Afanasio Jazadji é radialista, advogado e deputado estadual pelo PFL