Matilde Ribeiro, ministra da Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial esteve, nesta quinta-feira, 25/8, em visita à Assembléia Legislativa, onde foi recepcionada pelo presidente da Casa, deputado Rodrigo Garcia (PFL), e outros deputados. A ministra participou como principal palestrante do 1º Seminário Lei 10.639/03 " Desafios e Possibilidades, que se realiza no auditório Franco Montoro. A Lei federal 10.639, de 2003, foi uma das primeiras leis sancionadas pelo presidente Lula, ainda em janeiro de 2003. Ela torna obrigatório, nos currículos do ensino fundamental e médio das escolas do país, a inclusão da temática "História e Cultura Afro-Brasileira".Rodrigo Garcia aproveitou a oportunidade da visita para anunciar que, já em setembro, deve funcionar na Assembléia o serviço denominado SOS-Racismo, destinado a recolher denúncias sobre crimes de racismo no Estado e encaminhá-las aos órgãos competentes. O serviço, segundo Garcia, integrará um projeto maior denominado Disque-Cidadania, que exercerá o papel de uma grande ouvidoria do Estado. Foram relatadas também outras iniciativas que vêm sendo desenvolvidas na Assembléia tendo como tema o combate ao racismo, como é caso das discussões sobre ações afirmativas na área da educação.Sinergia contra o racismoA ministra, por sua vez, enalteceu a trabalho que vem sendo realizado pelas assembléias legislativas, como as conferências estaduais contra o racismo, que aconteceram no ano passado e possibilitaram a realização da 1ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial em Brasília. Lembrou que no momento atual o Congresso Nacional se prepara para deliberar sobre o projeto que institui o Estatuto da Igualdade Racial, de autoria do senador Paulo Paim (PT). Segundo Matilde Ribeiro, será necessária uma ampla mobilização para que o texto, que já tramita há sete anos, seja aprovado. A ministra insistiu na importância da participação das assembléias e câmaras do país para acelerar a tramitação de leis que interessam à política de promoção da igualdade racial. "Nós sabemos que qualquer votação em Brasília é motivada pelas ações locais", observou.Dasafios e PossibilidadesO seminário sobre a Lei 10.639 iniciou-se sob o comando do deputado Renato Simões, líder do PT, que assinalou o momento de expressivo vigor que está sendo vivido pela Assembléia paulista, que tem afirmado seus compromissos com as políticas de promoção da igualdade racial, como é o caso da formação da Frente Parlamentar pela Igualdade Racial. Destacou também o papel importante que a Comissão de Educação pode desempenhar com foco nas disposições da Lei 10.639, além de lembrar a constituição do Grupo de Negros e Políticas Públicas da Assembléia, que deverá participar da implementação e operação do serviço SOS-Racismo. Simões frisou ainda a luta que será travada para que a lei federal não fique somente no papel, como ocorre com outras iniciativas que acabam ignoradas, de modo a possibilitar que "se repense a identidade nacional - como disse - reconhecendo o papel do negro na construção da sociedade nacional". Por fim, declarou que "essa lei (10.639) vai pegar, mas com pressão social, pois não tem lei boa que pegue sem tranco".Matilde e a lutaEm sua palestra, Matilde Ribeiro, começou lembrando a trajetória do movimento negro no Brasil que, segundo disse, "já esta passando da adolescência para a vida adulta". Reconhecendo que a luta contra a opressão aos negros já venha desde o tempo das senzalas, ela observou que a criação da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial (Sepir) constitui uma importante conquista do movimento negro. Assinalou também que o momento atual não é mais o da denúncia do racismo ou de sua constatação, mas o do desenvolvimento de ações que visem a promoção da igualdade racial. "É preciso reconhecer que avançamos nas estruturas, mas estamos ainda aquém em relação às medidas que não só coíbam o racismo, mas contribuam para a sua superação", disse a ministra. Em sua análise, o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira nos níveis fundamental e médio assumem imprtância estratégica. A medida adotada pelo governo Lula, segundo ela, é fundamental para revisar os currículos escolares, reconhecendo ao negro o seu verdadeiro papel na construção da sociedade brasileira. Para a implementação da lei, Matilde assinala a necessidade da participação das secretarias estaduais e municipais de Educação, coordenadas pelo Ministério da Educação, sem o que a legislação não alcançará os seus objetivos. Ela lamentou que a História da África não tenha feito parte da formação dos professores universitários, o que coloca a necessidade da capacitação de professores para a implementação da lei. Por fim, apontou a necessidade de conectar a ação na área educacional com outras áreas de ação pública, dentre as quais o Prouni, os projetos de lei de criação de cotas nas universidades, a política de regularização fundiária dos quilombos, entre outros. Concluiu declarando que não há democracia com racismo e sem justiça social.