Economista americana apresenta novo modelo de desenvolvimento

Marisa Mello
29/10/2003 23:42

Compartilhar:

Presidente Sidney Beraldo e Hazel Henderson<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/Hasel2.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A economista americana Hazel Henderson, conhecida internacionalmente por trabalhos publicados em mais de 400 jornais, apresentou nesta quarta-feira, 29/10, no Auditório Teotônio Vilela, palestra sobre novo modelo de desenvolvimento econômico baseado em sustentabilidade.

Hazel foi apresentada pelo presidente Sidney Beraldo que, ao falar sobre indicadores de desenvolvimento, destacou o Índice Paulista de Responsabilidade Social, de terceira geração e reconhecido pela ONU. "A sociedade só poderá mudar a partir de ações baseadas em indicadores realistas", afirmou Beraldo.

Globalização sem sustentabilidade

Para Hazel o mundo precisa repensar a economia e o desenvolvimento. "As atividades envolvendo transações financeiras superam em nove vezes as que estão afetas à produção. Isso não é saudável, uma vez que há grande procura por trabalhadores que ganhem menos e, por sua vez, esses migram em busca de melhores salários." Para exemplificar a questão, Hazel comentou o caso do México, que teve 300 empresas se mudando para a China, com o objetivo de pagar menores salários. Em contrapartida, os produtos chineses têm mais saída no mercado externo, sobretudo, nos EUA.

Outros pontos da globalização que Hazel considera negativos são o impacto da ação do homem contra o meio ambiente, a militarização do planeta e a imposição de culturas, como a instalação em série de Mac Donald's e lojas de departamento mundo afora.

"A visão limitada do atual modelo de PIB se baseia em quatro elementos: desemprego, inflação, déficit e taxas de juros", disse a economista, afirmando que se trata de um modelo falido, por gerar um círculo econômico vicioso.

A economia, baseada em indústrias que se utilizam de matérias não-renováveis ou combustíveis fósseis ou energia nuclear, está obsoleta. "Os setores emergentes são os que optam pelas fontes renováveis."

Questões a serem levadas em conta

De acordo com Hazel, há questões que o PIB não leva em conta, como a ambiental e o bem-estar. "Não se pode crescer dessa forma", destacou a economista que elaborou um 'bolo' de desenvolvimento, cuja base é formada pela natureza , por atividades voluntárias e domésticas, e a cobertura pelos setores público e privado. Segundo Hazel, não se alcança sustentabilidade sem a preservação do meio ambiente e sem o bem-estar dos trabalhadores. "A maioria dos empregados atualmente opta por ganhar menos desde que tenha mais tempo para atividades de lazer."

A educação, de acordo com Henzel, também é um ponto forte na nova economia, bem como infra-estrutura de vias e hospitais -- enfim, tudo que aponte para a melhoria da qualidade de vida. "Se a dívida brasileira computasse os resultados positivos de investimentos feitos nesses setores o valor cairia de 65% para 30% do PIB", citou Hazel, lembrando que nos EUA, em 1996, ela criou, com o governo Bill Clinton, uma nova fórmula de elaborar o PIB, incluindo valores ligados à infra-estrutura. "Essa iniciativa agregada ao boom de Wall Street e à redução no orçamento militar propiciou superávit na balança americana", destacou Hazel, lamentando que "a louca cruzada militar de Bush tenha gerado um déficit de 600 bilhões de dólares nos EUA".

O modelo que o mundo precisa

A economista informou que um novo modelo precisa se basear em investimentos em educação e gerenciamento de energia.

"O petróleo tem que ser preservado para usos que não o de combustível, como a fabricação de plásticos", declarou Hazel, informando que novas formas de energia têm sido alvo de pesquisa em muitos países, principalmente nos em desenvolvimento, uma vez que essas nações contam com economistas de visão mais flexível.

Para Hazel o comércio não é mais importante que a qualidade de vida e o meio ambiente: no futuro, o controle da poluição e a indústria de reciclagem serão os motores do desenvolvimento.

Os índices econômicos do novo modelo idealizado por Hazel devem se basear em educação, emprego, consumo de energia, saneamento, saúde, direitos humanos e moradia. O indicador de riqueza tem que considerar a diferença entre ricos e pobres, e o modelo de segurança deve analisar o tipo de risco: se voluntário (por exemplo, esportes radicais) ou involuntário (por exemplo, vítimas da poluição e de condições insalubres de trabalho).

A economista afirmou que bastaria 1/4 dos investimentos feitos em armamento para sanear as questões de infra-estrutura do planeta. "O mundo tem que aplicar mais em diplomacia internacional e menos em armas, pois é disso que os povos precisam", finalizou Hazel, acrescentando que a América Latina é o berço de um novo momento: "Os países latinos cultuam a paz".

alesp