Unesco, Conpaz, Instituto zeroAseis e Associação Monte Azul realizam audiência sobre políticas para a primeira infância

Especialistas destacam a importância do desenvolvimento do indivíduo, na primeira infância, na promoção da cultura de paz
17/04/2008 23:23

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Senador Pedro Simon fez um discurso sobre as sucessivas mortes de crianças por motivo de violência, geralmente doméstica, praticada por familiares<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/04-2008/PrimeiraInfancia-mmy (32).jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Senadores Pedro Simon e Eduardo Suplicy <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/04-2008/SuplicyPedroSimonInfancia.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> O presidente em exercício da Assembléia, Waldir Agnello (PTB), abriu a audiência pública que discutiu o tema Quebrando a cadeia de Violência<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/04-2008/PrimeiraInfancia1-mmy (2).jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Audiência debate políticas para a primeira infância <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/04-2008/PrimeiraInfancia-mmy (41).jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Convidando os presentes para "ouvirem e aprenderem sobre esse assunto tão importante que é a violência contra a criança", o presidente em exercício da Assembléia, Waldir Agnello (PTB), abriu a audiência pública que discutiu o tema "Quebrando a cadeia de Violência" nesta quinta-feira, 17/4. O público como que aceitando o convite do presidente, saboreou as intervenções dos deputados da Casa, que apontaram para a tempestividade da escolha da data " quando o caso Isabella ocupa as manchetes dos órgãos de comunicação " para discutir um assunto tão relevante.

Ocuparam a tribuna sucessivamente: deputado Hamilton Pereira (PT), membro fundador do Conpaz " Conselho Parlamentar pela Cultura da Paz, que disse considerar o maior desafio "educar os adultos para educarem as crianças"; deputado José Augusto (PSDB) que falou de sua alegria em ver um tema tão importante ser discutido, mas que se confessou triste por imaginar que a casa pudesse estar mais cheia " durante o evento o plenário acabou ficando lotado. Ao final o deputado disse que seu intuito não foi criticar, mas desafiar os presentes para envolverem mais pessoas nas discussões do Conpaz; e senador Pedro Simon, que fez um discurso emocionado sobre as sucessivas mortes de crianças por motivo de violência, geralmente doméstica, praticada por familiares, "justamente aqueles que deveriam zelar por sua segurança".

O senador lembrou as mortes do menino João Hélio e da carta-aberta que escreveu para a mãe do menino, solidarizando-se com sua dor, e que previa novas ocorrências de casos de violência contra crianças, o que veio, infelizmente, a se confirmar, com o caso Isabella, um ano após a morte do menino. Simon disse que seminários, como o desta quinta-feira, apontam caminhos da sociedade para criar mecanismos eficientes de proteção às crianças e comentou o papel maléfico da mídia nesse processo de banalização da violência.

O presidente do Instituto Primeira Infância e Cultura de Paz zeroAseis, João Augusto Figueiró, foi o quinto orador a falar sobre a violência contra crianças. E lançou a seguinte pergunta: "pode a ciência oferecer alguma coisa na prevenção à violência?". Ele mesmo respondeu que "pode". E falou que o Instituto zeroAseis ficou em gestação por dois anos até que no começo de 2008 começou a produzir e disseminar conhecimento científico relacionado à primeira infância " do período pré-natal aos seis anos " como instrumento de promoção da Cultura de Paz.

Médico e psicoterapeuta, Figueiró lamentou que, no Brasil, apenas um terço das crianças na primeira infância tenha acesso à educação infantil. Para demonstrar a importância da educação nessa faixa etária, ele mostrou fotografias do tecido nervoso de crianças ao nascimento, aos três anos e aos 14 anos. A constatação é que 90% das ligações neurais são definidas até o terceiro ano de idade.

O membro do Conselho Científico do instituto afirmou ainda que é nessa fase da vida que se desenvolve não apenas a capacidade cognitiva, mas a formação de valores. Por isso, ele advertiu que o investimento em educação infantil é na verdade uma medida de economia, pois é comprovado que, "a cada dólar investido, economizam-se sete na manutenção do sistema prisional".

Figueiró falou de sua intenção de solicitar espaço nas TVs públicas, como a TV Alesp, a TV Senado, a TV Câmara e as TVs educativas. Ele pretende que um programa semanal, complementado por um boletim eletrônico, auxilie na capacitação dos profissionais de educação.

Mostrando uma realidade ainda mais dura, o médico revelou ainda que, de 55 milhões de crianças menores de 14 anos, 12% são vítimas de violência. "Há 6,6 milhões de crianças agredidas no país."

A pedagoga Ute Craemer falou de sua experiência de 30 anos à frente da Associação Comunitária Monte Azul, que iniciou seus trabalhos com algumas crianças do Jardim Ângela e hoje atua em três bairros da capital, atendendo mais de 1.300 crianças. Segundo Ute, que baseou sua explanação em fatos constatados na prática, é importante que o educador tenha habilidades em trabalhos manuais, como crochê ou jardinagem, saiba contar histórias ou mesmo cantar, pois será com essas atividades que ele conquistará a criança. Mantendo-se, de preferência, o mesmo educador por vários anos em contato com os mesmos alunos, cria-se um vínculo afetivo e de referência para a criança, que se manterá em sua vida adulta.



Distribuição de renda



O senador Eduardo Suplicy falou da distribuição de renda como meio de se fomentar uma cultura de paz. Ele defende que as riquezas do Brasil, como os royalties do petróleo, sejam distribuídas de forma igualitária entre toda a população. "Todos vão receber a sua parte, até o Pelé, a Xuxa e o Antônio Ermírio", explicou, afirmando que a universalização do benefício até para os mais ricos traria muitas facilidades, evitando a burocracia dos cadastros e o estigma das declarações de pobreza. Ainda seria evitado o que o senador chamou de "armadilha" das bolsas assistenciais, que ocorre quando o beneficiado deixa de aceitar um emprego formal para não perder o benefício, perpetuando sua situação de pobreza.

Suplicy citou o exemplo do Alasca, onde 50% dos royalties do petróleo são divididos entre os habitantes do "mais igualitário Estado americano". No Brasil, o senador afirmou que a vila de Paranapiacaba, no município de Santo André, está seguindo o mesmo caminho com a adoção de um fundo permanente distribuído entre seus 1.400 habitantes. "Pode ser que nessa vila histórica surja esse novo mecanismo de cultura de paz, voltado para uma sociedade solidária."

A professora Vera Lúcia Anselmi Melis Paulillo, representando a Organização das Nações Unidas Para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), lembrou que o órgão da ONU surgiu logo após a Segunda Grande Guerra, tendo entre seus objetivos o fomento a uma cultura de paz. Para ela, o Brasil não está atrasado em implantar "os cuidados e a educação para a primeira infância", um dos direitos humanos absolutos. "Muito já foi feito, mas o Brasil é um país muito desigual. Ainda há muito por fazer."

Vera Lúcia destacou que atingir os cuidados com a primeira infância está incluído nas metas do milênio da Unesco, entre outras como erradicar a fome e a pobreza ou promover a igualdade entre os sexos. Ela destacou que, para que isso seja alcançado, é preciso investir na formação continuada dos educadores. "Lugar de criança é no Orçamento", advertiu, referindo-se especificamente às verbas federais destinadas ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef).

alesp