Carnaval do crime e da vulgaridade

OPINIÃO - Afanasio Jazadji*
27/02/2004 17:05

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Duas moças israelenses foram feridas a tiros, em 24 de fevereiro. Uma delas, em estado grave, precisou passar por uma cirurgia. No mesmo dia, um rapaz de Israel foi atacado numa avenida e acabou refém dos seqüestradores, que o libertaram depois de levarem sua carteira com 5 mil dólares. Estas cenas de violência, típicas de uma nação em guerra, na verdade não ocorreram no Oriente Médio, tão conhecido das três vítimas, mas sim no Brasil, em época de Carnaval.

Centenas de jovens acostumados aos confrontos entre o militares de Israel e grupos terroristas palestinos decidiram buscar momentos de alegria, tentando conferir as maravilhas do Carnaval brasileiro. E seguiram para várias cidades do País: alguns optaram pelo Rio de Janeiro, outros por Salvador e uma parte preferiu Recife e Olinda.

Na Praça do Carmo, em Olinda, duas moças foram atingidas por balas perdidas: Noran Bonfiek, de 21 anos, sofreu ferimentos no baço e no pulmão; sua amiga Noga Eshed, de 20 anos, ficou ferida levemente. No Rio, a uma distância de 2.300 quilômetros daquela cena, o jovem comissário de bordo israelense Avi Lancry passou por um susto maior que em seus passeios pela tensa Jerusalém. Ele ficou meia hora em poder de seqüestradores. Um detalhe: os seqüestradores eram dois policiais militares cariocas, que o abordaram em plena Avenida Atlântica e só o soltaram após terem roubado sua carteira.

Uma pergunta, uma lição: quando o País vai aprender a respeitar o turista?

Esse tipo de notícia corre pelo mundo e contribui para prejudicar o conceito do Brasil entre os turistas em potencial. Felizmente, o navio Queen Mary, o maior transatlântico do planeta, zarpou do Rio, em 25 de fevereiro, com todos os seus mais de 1.800 turistas americanos que haviam chegado quatro dias antes. Sem mortes. Um esquema de segurança digno de filme de Holywood protegeu os visitantes que se empolgaram com os desfiles de escola de samba no Sambódromo. Pura ficção: a gente sabe que, no dia-a-dia, os cariocas convivem com a criminalidade e a violência, a ponto de PMs terem agido como assaltantes e seqüestradores na Avenida Atlântica, onde o jovem comissário de bordo Israelense foi uma das vítimas.

A violência só não é maior porque o Supremo Tribunal Federal derrubou decisão de instância inferior e determinou que o maior bandido do Rio, Fernandinho Beira-Mar, permanecesse isolado num presídio de segurança máxima do Interior de São Paulo.

Pena que no Rio e em São Paulo prevaleça o lado imoral de mulheres nuas e homenagens compradas, superando a linda tradição dessa festa popular. O desfile carioca teve uma escola financiada pela apresentadora de TV Xuxa para que fosse contada a história da artista. Os quadros da história, porém, ignoraram pessoas importantes da carreira da "homenageada", como Pelé, Ayrton Senna e Marlene Matos. Já em São Paulo, perde-se a oportunidade de reviver os bailes de salão, o Carnaval de rua e os blocos de bairros.

Afanasio Jazadji é advogado, radialista e deputado estadual pelo PFL

alesp