A arqueologia celestial de Sonia Tamer, onde o silêncio é melódico e harmônico

Emanuel von Lauenstein Massarani
24/10/2002 16:00

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O artista por definição é projetado sempre em direção ao futuro. Por essa razão é obrigado a usar uma linguagem e conceitos que não são compreendidos, de imediato, pelos seus contemporâneos. Por outro lado, não há dúvida que a arte deve ser um catalisador da intuição e da percepção. Sonia Tamer se fez entender e se tornou transmissora dessa realidade.

O caráter dinâmico e vigoroso do temperamento da artista, transfere para sua obra a força de uma explosão cromática que advém, também, de um certo grau de misticismo acompanhado, sempre, de uma luminosidade intensa e poética. Essa sensibilidade nos transmite sons que ecoam sobre a tela formas etéreas.

Extraordinariamente receptiva aos acontecimentos externos, Sonia Tamer consegue, sem violência expressionista nem especulação caligráfica, criar outras imagens que sua visão reclama, impaciente não de transcrever, mas de transcender.

Seu panteísmo lírico, essa imaginação cósmica do espaço pictórico, se apoia sobre sólidas nervuras, cuja finalidade é simples: manter a arquitetura da paisagem imaginária no seio deletável e desordenado da criação.

A matéria exerce um papel importante. Fluída ou espessa, segundo por onde o pincel percorre, ela suscita contrastes de textura sobre os quais os amarelos, os vermelhos e os verdes na sua maioria lançam seus efeitos sutis flutuando de um lado para outro, deixando transparecer aqui e acolá, seus reflexos e suas sombras.

Livre, ousada e sem alguma hesitação, a artista torna-se um veículo, um instrumento da cromatização da obra. Carregada de todas as emoções do olhar, a tela se transforma num sopro de vida, enquanto que o sentimento da natureza se une, num só, com o sentimento religioso.

Vastas praias de cores com respirações doces e sonoras, suas manchas em grupo ou isoladas transmitem ritmos que reúnem verdadeiras sinfonias musicais. São largos movimentos que se convergem na forma. Que domínio do espaço e que audácia na ordem rítmica da obra!

Radha Abramo afirma que: "Sonia Tamer trata da arqueologia do inconsciente, do seu e do espectador. Mergulha na fantasia das abstrações, resgata-as para o concreto dos quadros tornando-as figuras de representação do imaginário particular e coletivo". No seu "Vale Silencioso" - doado pela artista ao Acervo Artístico da Assembléia Legislativa - ela usufrui da arqueologia celestial, para penetrar no espaço cósmico, entre nuvens sonoras de cor, onde o silêncio também é melódico e harmônico.

A Artista

Sonia Tamer nasceu em São Paulo, em 1959. Aos 18 anos saiu do país guiada pelo sonho de realizar seus estudos de Belas Artes no exterior. Instalou-se em Paris e cursou a Escola de Belas Artes da Sorbonne, onde teve a oportunidade de estudar com os professores e artistas Joel Kermarrec, Michel Geminiani, Daniel Sennelar e Daniel Lacomme. Obteve Menção Honrosa "Très Bien" dessa instituição.

A partir de 1987, participou de diversas exposições coletivas, onde destacam-se: 26º Salão Artístico de Clamart - Centro Cultural Jean Arp, Clamart, França (1987); Espaço Latino Americano, Paris (1987, 1988 e 1989); Salão Bienal Grand Palais, Paris (1988 e 1989); Biblioteca Duhamel, Mantes-la-Jolie, França (1988); Rentrée des Artistes, Delpha, Paris (1988); Arte Latino Americano, Brémen, Alemanha (1989); Galeria André, São Paulo (1997); Chapel Art Show, São Paulo (1997, 1999 e 2001); Amate Ulturagentur Und, Galerie No. Ter, Berlim, Alemanha (2000); Pallet of Culture, Casselberry, City Hall, Orlando, Estados Unidos (2001); e Sociarte, São Paulo (2002).

Esteve presente em exposições individuais na Galeria Debret, Paris (1988); Galeria Hebraica, São Paulo (1992); Galeria Lúcia Dantas - Espaço de Arte, São Paulo (1993 e 1994); e Galeria de Arte André, São Paulo (1995, 1998 e 2001).

Possui obras em coleções oficiais e em acervos particulares, entre eles: Instituto Britânico Brasileiro, Corps Corporation, Bradesco S/A e Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.

alesp