EXERCÍCIOS DE CIDADANIA - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
30/01/2001 14:00

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A Organização das Nações Unidas (ONU) definiu que este como o Ano Internacional do Voluntariado. Nada mais apropriado para o início do milênio, no qual o grande desafio da humanidade será o combate às brutais desigualdades sociais e regionais que ainda persistem em subsistir no planeta, apesar do desenvolvimento tecnológico e econômico garantirem condições objetivas para a erradicação da fome e a universalização do acesso à educação e saúde, condições essenciais para dar dignidade a vida humana.

Esse voluntariado pode ser definido como um exercício anônimo criado pela sociedade civil para preencher as lacunas criadas pela ineficiência do poder público, oriundas de um processo global onde o Estado vem diminuindo, deixando várias de suas atribuições à mercê do "mercado". Como a natureza do mercado é concorrencial e compartimentada, os riscos de criação de monopólios (caso não haja controle), naturalmente essas atribuições - principalmente as de ordem social - caíram num perigoso e ameaçador buraco negro.

As chagas sociais embutidas nesse processo estimulam essa reação da sociedade. Ela ganhou fôlego, insistiu-se num contexto mais amplo que hoje é chamado de Terceiro Setor e é responsável por ações importantes em áreas vitais como as da saúde e educação.

No Brasil existem inúmeros exemplos bem sucedidos deste trabalho abnegado, como é o caso das Apaes, do Centro Brasileiro de Voluntariado, da Fundação Educar, do Instituto Ethos de responsabilidade social das empresas e de muitas outras. Neste caso vale destacar a excelência do trabalho desenvolvido por Milú Vilela, coordenadora do Centro Brasileiro do Voluntariado, que lhe valeu a responsabilidade de coordenar no Brasil as atividades do Ano Internacional do Voluntariado, instituído pela ONU.

No caso brasileiro, entendo ser importante estimular e apoiar esse trabalho, sem no entanto perder de vista a cobrança de políticas públicas e ações do Estado que continuam sendo fundamentais para o resgate da nossa enorme dívida social. São ações simultâneas e correlatas que , inclusive, dão musculatura para a nossa frágil democracia - ai entendida no seu sentido mais amplo e não apenas no aspecto político.

O mais importante de tudo é que este processo revela que o caminho das soluções dos problemas passa pela participação ativa de todos os agentes da sociedade e isto nos indica a necessidade urgente de transitarmos de uma democracia representativa para uma democracia participativa, incorporando no nosso escopo institucional essa experiência anônima e silenciosa que vem tornando melhor a vida de milhares de pessoas em nosso País.

Arnaldo Jardim é deputado estadual, engenheiro civil, foi secretário de habitação em 1993, é o Relator Geral do Fórum SP - Séc XXI e Presidente do Centro de Estudos Raduan.

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