A Organização das Nações Unidas (ONU) definiu que este como o Ano Internacional do Voluntariado. Nada mais apropriado para o início do milênio, no qual o grande desafio da humanidade será o combate às brutais desigualdades sociais e regionais que ainda persistem em subsistir no planeta, apesar do desenvolvimento tecnológico e econômico garantirem condições objetivas para a erradicação da fome e a universalização do acesso à educação e saúde, condições essenciais para dar dignidade a vida humana.Esse voluntariado pode ser definido como um exercício anônimo criado pela sociedade civil para preencher as lacunas criadas pela ineficiência do poder público, oriundas de um processo global onde o Estado vem diminuindo, deixando várias de suas atribuições à mercê do "mercado". Como a natureza do mercado é concorrencial e compartimentada, os riscos de criação de monopólios (caso não haja controle), naturalmente essas atribuições - principalmente as de ordem social - caíram num perigoso e ameaçador buraco negro. As chagas sociais embutidas nesse processo estimulam essa reação da sociedade. Ela ganhou fôlego, insistiu-se num contexto mais amplo que hoje é chamado de Terceiro Setor e é responsável por ações importantes em áreas vitais como as da saúde e educação. No Brasil existem inúmeros exemplos bem sucedidos deste trabalho abnegado, como é o caso das Apaes, do Centro Brasileiro de Voluntariado, da Fundação Educar, do Instituto Ethos de responsabilidade social das empresas e de muitas outras. Neste caso vale destacar a excelência do trabalho desenvolvido por Milú Vilela, coordenadora do Centro Brasileiro do Voluntariado, que lhe valeu a responsabilidade de coordenar no Brasil as atividades do Ano Internacional do Voluntariado, instituído pela ONU.No caso brasileiro, entendo ser importante estimular e apoiar esse trabalho, sem no entanto perder de vista a cobrança de políticas públicas e ações do Estado que continuam sendo fundamentais para o resgate da nossa enorme dívida social. São ações simultâneas e correlatas que , inclusive, dão musculatura para a nossa frágil democracia - ai entendida no seu sentido mais amplo e não apenas no aspecto político. O mais importante de tudo é que este processo revela que o caminho das soluções dos problemas passa pela participação ativa de todos os agentes da sociedade e isto nos indica a necessidade urgente de transitarmos de uma democracia representativa para uma democracia participativa, incorporando no nosso escopo institucional essa experiência anônima e silenciosa que vem tornando melhor a vida de milhares de pessoas em nosso País.Arnaldo Jardim é deputado estadual, engenheiro civil, foi secretário de habitação em 1993, é o Relator Geral do Fórum SP - Séc XXI e Presidente do Centro de Estudos Raduan.