CPI dos Combustíveis ouve prefeito de Potim

(com foto)
21/08/2001 20:16

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O prefeito de Potim, João Benedito Angelieri, em depoimento à CPI dos Combustíveis negou acusações de envolvimento em adulteração de combustíveis e de operar em depósito clandestino. Acompanhado por parentes e vereadores da cidade, o prefeito disse que pouco poderia auxiliar os trabalhos da CPI, pois nunca lidou com combustíveis. Explicou que sua família sempre atuou no ramo de cana-de-açúcar e derivados e que sua empresa restringe-se a uma usina de pinga e álcool industrial.

Angelieri é proprietário de um depósito de álcool, com capacidade para armazenar 2 milhões de litros, e foi citado pelo delegado de investigações de Guaratinguetá, Hélio Borges dos Santos, em depoimento realizado em junho, como envolvido em esquema de adulteração de gasolina na região do Vale do Paraíba. O delegado disse que Anglieri teria recebido uma carga de 120 mil litros de álcool combustível em um depósito caracterizado por ele como clandestino, configurando-se assim um forte indício de prática de adulteração de combustível.

Angelieri contestou a versão do delegado alegando que sua empresa funciona regularmente desde 1989. "O governador esteve nesta semana em minha cidade e visitou esse depósito que querem fazer crer ser clandestino." O prefeito também apresentou laudos da ANP e do Instituto de Criminalística sobre exames realizados em amostras do álcool apreendido pela polícia em sua empresa que não acusam presença de álcool combustível nos tanques analisados. Atestam, segundo ele, que os produtos lá armazenados eram pinga, álcool anidro e hidratado para fins industriais.

/N+/Perseguição política./N-/ É como o prefeito de Potim caracteriza o envolvimento de seu nome com a adulteração de combustíveis e roubo de carga. Segundo ele, a história toda teve início com a aprovação de uma lei municipal sobre apreensão de animais. Ele teria solicitado à delegada da cidade providências em relação ao roubo de animais sob poder da prefeitura, obtendo por parte dela uma "resposta não muito educada". Angelieri disse que entrou com uma representação contra ela junto ao Deinter. Recentemente, a delegada foi afastada do município. Em sua versão, Angelieri diz estar sofrendo agora represálias por parte do delegado Hélio Borges dos Santos, que é marido da delegada afastada e está procurando envolvê-lo na adulteração de combustíveis.

O deputado Arnaldo Jardim (PPS) perguntou se Angelieri se afastou dos negócios para assumir a prefeitura e se ele tinha conhecimento de que Joaquim Savoia, conhecido como Quincas, sofreu processo criminal por roubo de carga. "Estou afastado formalmente, mas acompanho os negócios e não tenho problemas com Joaquim. Ele permanecerá como fornecedor da prefeitura, enquanto a licitação valer", declarou Angelieri.

Ao presidente da CPI, deputado Edmir Chedid, Angelieri disse desconhecer o motivo pelo qual um tanque de sua empresa continua lacrado. "Não tive um advogado eficaz a princípio, contratei outro."

Os deputados solicitaram ao prefeito uma lista de seus fornecedores e compradores e que ele aceite uma nova visita à empresa de órgão que possa elaborar mais um laudo. Angelieri concordou com os pedidos.

/N+/Petroquímica União./N-/ A CPI dos Combustíveis também ouviu o diretor superintendente da Petroquímica União, Wilson Koji Matsumoto, que fez explanações sobre aspectos do mercado de solventes. Ocupante do cargo desde fevereiro deste ano, Matsumoto disse que a ele foi conduzido por decisão do conselho de acionista, após a Agência Nacional de Petróleo (ANP) ter comunicado à Petroquímica União sua insatisfação frente à "dinâmica do relacionamento" entre a agência e aquela empresa. O fato teria ocasionado o afastamento do antigo superintendente Edson Eden dos Santos.

Matsumoto disse que ao assumir o cargo procurou ter conhecimento dos fatos motivadores da "insatisfação" dos acionistas e que a empresa contratou auditoria externa. "Felizmente, verificamos que não houve venda sem notas, nem desvio de produtos, bem como não se realizaram vendas a clientes não autorizados."

A Petroquímica União foi autorizada a produzir gasolina em dezembro de 2000 e iniciou a produção em janeiro deste ano. Com isto, explicou Matsumoto, a PQU passou a vender mais gasolina do que solventes, que são entretanto mais rentáveis. Constatou ainda que, desde 1997, se verificou um aumento do mercado de solventes não proporcional ao crescimento dos mercados de tintas, vernizes e outros setores que utilizam os produtos como matéria-prima. "Temos até dúvidas sobre qual é o verdadeiro mercado de solventes. Gostaríamos de poder escolher nossos clientes, mas isso é impossível, pois existe o sistema de cotas fixado pela ANP." Uma outra questão do setor são as liminares conseguidas por compradores de solventes, que os autorizam a comprar independentemente das cotas.

Para o diretor-superintendente da PQU, a normalização do setor poderia ser conquistada com medidas tributárias que desestimulassem a utilização de solventes e com controles mais eficazes, como a marcação do produto.

O presidente da CPI, deputado Edmir Chedid (PFL), solicitou à Petroquímica União a relação de compras de solventes de algumas empresas produtoras de tintas e de distribuidoras, o faturamento por produto nos últimos dois anos, dados sobre exportação e sobre a venda de gasolina desde janeiro de 2001. A CPI convocou para a próxima reunião, quinta-feira, 23/8, os diretores da TM e da Inca, distribuidoras de combustíveis.

alesp