De repente, uma bonita jovem da classe média alta, Suzane VonRichthofen, de 19 anos, fez a sociedade brasileira se esquecer por algunsdias de Fernandinho Beira-Mar, Elias Maluco e outros monstros que bateramrecordes no mundo do crime. A tragédia que se abateu sobre a famíliaRichthofen, em São Paulo, merece reflexões. Ao ficar comprovado oenvolvimento da filha do casal assassinado, Suzane, num crime que chocoua cidade e todo o país, é o caso de se perguntar: qual destino asociedade deve reservar para essa moça?Seria válido ela ficar apenas alguns anos na cadeia e aindareceber metade da herança dos pais? Será que não é mais um exemplo decomo o país precisa reformular os Códigos e o Poder Judiciário? Casoscomo esse não comportariam a pena de morte, como ocorre em alguns Estadosamericanos? O episódio continua sendo discutido.O crime ocorreu no ambiente de família de classe média alta,aparentemente bem estruturada. Portanto, não existe a desculpa dasquestões financeiros ou culturais. A filha do casal, se associando ao seunamorado, Daniel Cravinhos, e ao irmão deste, Christian, participou de ummassacre bárbaro, decifrado pela polícia. Nada devolverá a vida a Manfrede Marísia Von Richthofen. O filho do casal, Andreas, de 15 anos, ficaórfão de pai e mãe, com a irmã na cadeia e com um trauma irreparável.Em 13 de novembro, os programas de televisão quebraram a rotinae passaram a mostrar, ao vivo, a cobertura da reconstituição do crime, namansão do bairro de Campo Belo. As câmeras flagraram a revolta dapopulação: inúmeras pessoas, em volta da casa, ameaçaram agredir Suzane,Daniel e Christian, que chegaram algemados.A frase de Suzane ocupou espaço nos jornais, revistas, emissorasde rádio e TV e sites de Internet: "Foi por amor". No caso, a moçaconfessou que idealizou o assassinato durante dois meses, com a ajuda donamorado, pensando em álibis, entre os quais a história da ida ao motelno momento da morte do casal Richthofen. A alegação: "foi por amor" aDaniel, o namorado de comportamento desajustado que os pais de Suzane nãoaceitavam.Ora... Amor foi o que Suzane recebeu em casa durante 19 anos.Seus pais trataram de dar a ela toda a educação, todo o preparo, emcolégios caros, em viagens para o exterior, culminando com a entrada naFaculdade de Direito da PUC de São Paulo. É claro que cabe uma discussãosobre a validade da educação austera, mas ninguém poderia duvidar dasboas intenções do casal Richthofen: ele, engenheiro da Dersa; ela,psiquiatra. Os pais só queriam que a filha não se desviasse do caminho dobem. Esse caminho já estava tortuoso a partir do momento em que Suzanepassou a consumir drogas em companhia do namorado.Não há dúvidas de que nesse caso específico existe uma dose decrueldade latente. A simples admissão de eventualmente assassinar os paisjá seria suficiente para Suzane ficar com uma imagem de monstro. Aoconsumar o crime, essa imagem fica ainda mais chocante.A sociedade precisa levar em conta que em seu meio existeoutros jovens do tipo de Suzane, outros monstros em potencial. A partirda índole má, determinadas situações levam ao crime. O abuso do consumo de drogas, as más companhias, as distorções acabam tendo um papelimportante nesse cenário. Agora, cabe à Justiça impor um castigo exemplaraos três assassinos. Mas cabe à sociedade discutir meios de evitartragédias semelhantes. *Afanasio Jazadji é radialista, advogado e deputado estadual pelo PFL