Quando a crueldade vence o amor

OPINIÃO - Afanasio Jazadji*
13/11/2002 18:54

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De repente, uma bonita jovem da classe média alta, Suzane Von

Richthofen, de 19 anos, fez a sociedade brasileira se esquecer por alguns

dias de Fernandinho Beira-Mar, Elias Maluco e outros monstros que bateram

recordes no mundo do crime. A tragédia que se abateu sobre a família

Richthofen, em São Paulo, merece reflexões. Ao ficar comprovado o

envolvimento da filha do casal assassinado, Suzane, num crime que chocou

a cidade e todo o país, é o caso de se perguntar: qual destino a

sociedade deve reservar para essa moça?

Seria válido ela ficar apenas alguns anos na cadeia e ainda

receber metade da herança dos pais? Será que não é mais um exemplo de

como o país precisa reformular os Códigos e o Poder Judiciário? Casos

como esse não comportariam a pena de morte, como ocorre em alguns Estados

americanos? O episódio continua sendo discutido.

O crime ocorreu no ambiente de família de classe média alta,

aparentemente bem estruturada. Portanto, não existe a desculpa das

questões financeiros ou culturais. A filha do casal, se associando ao seu

namorado, Daniel Cravinhos, e ao irmão deste, Christian, participou de um

massacre bárbaro, decifrado pela polícia. Nada devolverá a vida a Manfred

e Marísia Von Richthofen. O filho do casal, Andreas, de 15 anos, fica

órfão de pai e mãe, com a irmã na cadeia e com um trauma irreparável.

Em 13 de novembro, os programas de televisão quebraram a rotina

e passaram a mostrar, ao vivo, a cobertura da reconstituição do crime, na

mansão do bairro de Campo Belo. As câmeras flagraram a revolta da

população: inúmeras pessoas, em volta da casa, ameaçaram agredir Suzane,

Daniel e Christian, que chegaram algemados.

A frase de Suzane ocupou espaço nos jornais, revistas, emissoras

de rádio e TV e sites de Internet: "Foi por amor". No caso, a moça

confessou que idealizou o assassinato durante dois meses, com a ajuda do

namorado, pensando em álibis, entre os quais a história da ida ao motel

no momento da morte do casal Richthofen. A alegação: "foi por amor" a

Daniel, o namorado de comportamento desajustado que os pais de Suzane não

aceitavam.

Ora... Amor foi o que Suzane recebeu em casa durante 19 anos.

Seus pais trataram de dar a ela toda a educação, todo o preparo, em

colégios caros, em viagens para o exterior, culminando com a entrada na

Faculdade de Direito da PUC de São Paulo. É claro que cabe uma discussão

sobre a validade da educação austera, mas ninguém poderia duvidar das

boas intenções do casal Richthofen: ele, engenheiro da Dersa; ela,

psiquiatra. Os pais só queriam que a filha não se desviasse do caminho do

bem. Esse caminho já estava tortuoso a partir do momento em que Suzane

passou a consumir drogas em companhia do namorado.

Não há dúvidas de que nesse caso específico existe uma dose de

crueldade latente. A simples admissão de eventualmente assassinar os pais

já seria suficiente para Suzane ficar com uma imagem de monstro. Ao

consumar o crime, essa imagem fica ainda mais chocante.

A sociedade precisa levar em conta que em seu meio existe

outros jovens do tipo de Suzane, outros monstros em potencial. A partir

da índole má, determinadas situações levam ao crime. O abuso do consumo

de drogas, as más companhias, as distorções acabam tendo um papel

importante nesse cenário. Agora, cabe à Justiça impor um castigo exemplar

aos três assassinos. Mas cabe à sociedade discutir meios de evitar

tragédias semelhantes.

*Afanasio Jazadji é radialista, advogado e deputado estadual pelo PFL

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