Uma lição do passado

Opinião
30/09/2005 18:43

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Arnaldo Jardim<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/ajardim.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

O Brasil foi palco do mais importante acontecimento do setor de açúcar e álcool do mundo " a Sugar Week. Como coordenador da Frente Parlamentar pela Energia Limpa e Renovável, tive a oportunidade de participar de vários eventos, como a Fenasucro, a Agrocana, o VII Fórum Nacional do Álcool, a V Conferência Internacional da Datagro, a apresentação da Unica, além de ser homenageado com o Prêmio Mastercana 2005. Em todos estes, pude constatar o bom momento desta cadeia produtiva e as ótimas expectativas em relação ao futuro, principalmente em torno do álcool carburante " o país tem condições reais de se tornar exportador do produto, do conhecimento e do maquinário para produção deste biocombustível.

Diante desta nova realidade do setor sucroalcooleiro, alguns podem se perguntar " como fomos capazes de desenvolver o mais bem sucedido programa de produção e uso em larga escala de um combustível renovável e "virtual substituto" dos derivados fósseis? A resposta está no pioneirismo aliado à visão estratégica brasileira.

A história do uso do álcool carburante começa em 1876, com o cientista alemão Nikolaus August Otto, que desenvolveu o primeiro motor de combustão interna, chamado "Ciclo Otto" " tecnologia utilizada até hoje em nossos veículos. Entre 1890 e 1914, a Europa promoveu várias corridas das chamadas "carruagens sem cavalos", para promover o uso do álcool puro ou misturado à gasolina. Em 1896, Henry Ford apresentou o seu primeiro automóvel, capaz de rodar com ambos os combustíveis. No Brasil, a primeira mistura obrigatória de álcool na gasolina, na proporção de 5%, foi adotada em 1931, mas já havíamos utilizado esta alternativa, temporariamente, durante a 1º Guerra Mundial.

Em suma, há muito tempo os benefícios do álcool carburante são conhecidos, mas nenhum país do mundo encarou, como uma política estratégica de Estado, o desafio de desenvolver uma alternativa energética ao petróleo " decidiram por um caminho mais ortodoxo. Como quem planta colhe, hoje podemos comemorar trinta anos do nosso Programa do Álcool, enquanto os outros países correm atrás do tempo perdido, seja pelo aumento da cotação do petróleo ou pela preocupação crescente com o meio ambiente.

Hoje, nossas plantações de cana são monitoradas via satélite, uma ferramenta fundamental para o planejamento da safra. Com o genoma da planta codificado, somos capazes de criar espécies de plantas específicas para cada região. O uso da queima está sendo substituído, gradativamente, pela colheita mecanizada. Da cana nada se desperdiça, além de produzirmos açúcar e álcool, utilizamos o bagaço como fonte de autogeração de energia elétrica e desenvolvemos outros 66 subprodutos, como plástico biodegradável, resinas, gêneros alimentícios e etc. O preço do álcool está extremamente competitivo em relação à gasolina. Todo o maquinário é genuinamente nacional. A indústria automobilística já anuncia que, em breve, todos os veículos novos serão dotados de tecnologia flexível.

Daqui por diante, nossos desafios são de outra ordem, principalmente nas áreas de infra-estrutura, tributária e de comércio exterior. Investir no transporte intermodal, na logística e na modernização dos nossos portos reduziria os custos, conferindo maior competitividade às exportações e fomentando o uso deste combustível nas regiões mais longínquas do país.

Outro aspecto é o combate à sonegação e à adulteração, em que defendo uma alíquota única de ICMS sobre o álcool (12%) e uma mudança na legislação para permitir que as usinas vendam álcool diretamente para os postos de combustíveis. Também entendo que as autoridades deveriam rapidamente, estabelecer medidores de vazão nas usinas e chamar todos para a legalidade. O setor precisa de regras, legalidade e estabilidade para consolidar sua maturidade.

Com a ratificação do Protocolo de Kyoto, a diplomacia brasileira precisa arregaçar as mangas para escoar nosso álcool pelo mundo, derrubando barreiras tarifárias, estabelecendo acordos comerciais multilaterais ou bilaterais, além do intercâmbio de conhecimento e mão-de-obra.

No âmbito do setor, o desafio reside no aperfeiçoamento do Consecana, no sentido de distribuir os ganhos deste bom momento por todos os elos da cadeia produtiva sucroalcooleira.

O pioneirismo e a visão estratégica nos colocaram em um lugar de destaque no mercado internacional de biocombustíveis. São estas as premissas que deverão nortear governo e iniciativa privada, no sentido de assegurar o abastecimento da crescente demanda, seja interna ou externa, pelo nosso combustível verde.

*Arnaldo Jardim

Engenheiro e deputado estadual

arnaldojardim@arnaldojardim.com.br

www.arnaldojardim.com.br

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