DO SEQÜESTRO À TRAGÉDIA - OPINIÃO

Afanasio Jazadji*
02/06/2003 17:06

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Uma tragédia ocorrida na Barra da Tijuca, bairro de classe média alta do Rio de Janeiro, chocou a opinião pública nos últimos dias. O empresário Waldo de Carvalho Wunder, de 57 anos, matou sua mulher e as duas filhas enquanto elas dormiam e, em seguida, suicidou-se. Desta vez, aparentemente, não foi um caso de violência direta por parte dos bandidos. Teria sido, na verdade, uma enorme tragédia no âmbito familiar. No entanto, se tomarmos por base informações sobre a vida da família Wunder, vamos encontrar um fato fundamental, ocorrido há oito anos: oito anos atrás, o empresário foi seqüestrado e teve de pagar um alto resgate, cujo valor não foi divulgado. Por causa daquele gasto inesperado, ele teve suas finanças abaladas. Chegou a abrir uma loja num shopping, mas acabou falindo. Nova tentativa no comércio, em seguida, também levou à frustração. Nos últimos tempos, Wunder estava tenso, deprimido.

É claro que problemas econômicos não justificam suicídios ou assassinatos. Hoje em dia, com o Brasil inteiro vivendo crise e São Paulo atingindo um índice de desemprego comparável somente ao de 1985, todos nós seríamos, em princípio, candidatos à depressão. No entanto, é preciso resistir. Lutar sempre, ter esperança. No caso desse empresário falido do Rio, o que choca é algo além da violência que acabou praticando contra sua família: é o fato de ele jamais ter-se recuperado daquele seqüestro. Não houve cura psicológica nem financeira. As seqüelas surgiram e foram muito duras. Wunder desistiu de lutar, e acabou com quem ele mais gostava. Os policiais que atenderam à ocorrência disseram que nunca haviam visto algo igual. De fato, foi terrível.

O empresário, segundo um policial, matou primeiro a mulher, Paulette Kahane Wunder, de 48 anos, na cama do casal, com cinco tiros de pistola calibre nove milímetros. Depois, foi até os quartos das filhas Carolina Kahane Wunder, de 22 anos, e Mariana Kahane Wunder, de 16. Ele atirou seis vezes contra uma filha e sete contra a outra. Uma delas tinha várias marcas de tiros no rosto. Carolina era estudante de Odontologia na Universidade Estácio de Sá. Mariana estava na 8.ª série do Colégio Carolina Patrício, uma escola cara, localizada na Estrada da Gávea, na Zona Sul do Rio. Segundo a polícia, Wunder foi encontrado no chão do banheiro. Ele se matou com um tiro, na boca, de escopeta calibre 12. Não deixou nada escrito.

Diante de tudo isso, podemos fazer uma reflexão. Não é a toa que defendo castigo duro para seqüestradores. Para alguns casos, sou até a favor da pena de morte. Em certas situações, o seqüestrado sofre traumas irreparáveis, por ficar muito tempo no cativeiro e por ter um desgaste financeiro, como foi o caso de Wunder.

Alguns desses seqüestrados voltam a ter vida aparentemente normal. Em São Paulo mesmo, tivemos alguns exemplos disso, ultimamente. Nada, porém, é completamente normal. E o que é pior: surgem novas quadrilhas de seqüestradores. O bando que seqüestrou a ex-nora do ex-governador Mário Covas, por exemplo, era formado por seis garotos de 13 a 18 anos! A idéia de impunidade serve de estímulo para os seqüestradores. Do mesmo modo que uma crise econômica do País não justifica suicídio e assassinato em família, problemas financeiros não podem justificar a crueldade de quem seqüestra.

* Afanasio Jazadji é advogado, jornalista, radialista e deputado pelo PFL.

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