Fotografar, para João Carlos, é antes de tudo uma arte de participação ativa na nossa realidade. Trata-se de uma escolha que envolve globalmente o artista, do projeto ao registro de imagens, num intervalo da percepção de um espaço útil, necessário e suficiente para reunir informações e significados, para congelar por intermédio do instrumento mecânico e foto-químico, numa funcional fração de tempo e produzir um testemunho e uma mensagem, cuja eficácia é coerente com a precisão da síntese figurativa.A fotografia é, possivelmente, mais do que outros meios expressivos, um implacável teste projetivo, onde, exatamente pela "mecanicidade" dos instrumentos indispensáveis à sua valorização, exprime-se a constituição cultural do operador, revelam-se as itinerários ideológicos, os mesmos que solicitam e endereçam o percurso, na busca de um lugar onde, provavelmente, naquela fração de segundo se coalizam todos os elementos que qualificarão a imagem bidimensional.João Carlos, por intermédio de suas propostas visuais, exprime com lucidez essa confiança no poder expressivo e comunicativo da fotografia, através da qual se envolve na própria fase produtiva, desde o projeto à "assemblagem" e à impressão, acentuando suas escolhas sem deixar nada ao acaso ou à manipulação de terceiros. Uma excelente capacidade de autonomia fornece ao jovem fotógrafo as conotações de um operador cultural, pois é comum ao profissional delegar a terceiros seja as escolhas temáticas, seja a utilização das imagens .Nesses poucos anos de atividade, João Carlos tem sido constantemente atento a exercer esse papel com energia e clareza, provando que a fotografia não deve ser usada como simples instrumento de documentação, mas de conhecimento e de construção das relações análogas entre tempo e espaço real, entre a memória da história passada e presente, por meio de formas e dos significados de seu habitat, como é o caso das seis fotografias da série São Paulo, terra, gente - doadas ao Acervo Artístico da Assembléia Legislativa -, que testemunham a triste situação dos habitantes de nossas favelas.O Artista João Carlos, pseudônimo artístico de João Carlos Silva, nasceu em São Paulo em 1980. Desde muito jovem desenvolveu pendores artísticos, inicialmente no campo da música e mais recentemente no da fotografia. Trabalhou cerca de 7 anos numa livraria especializada em livros históricos e antigos onde se dedicou também à restauração e encadernação de livros.Autodidata, foi por meio de livros e álbuns de renomados fotógrafos como Sebastião Salgado, Evandro Teixeira e José Bassit entre outros, que passou a pesquisar a fotografia.Participou, ainda, de diversos worshops e aprendeu revelação e ampliação com o conhecido fotógrafo Ênio, na Escola Focus de fotografia. Somente a partir do ano 2000 passou para a profissionalização dedicando-se a foto de moda e de eventos sociais.Sob o título São Paulo, terra, gente realizou, em 2004, sua primeira exposição de caráter artístico no Espaço Cultural Ida Zami, com curadoria da renomada artista. Possui obras em diversas coleções particulares e na Assembléia Legislativa de São Paulo.