Promulgando sua doutrina sobre a linha, o plano e a cor, os artistas futuristas previam nos idos de 1920 que suas criações assumiriam um lugar de destaque nas "atividades cooperativas do mundo exterior, onde elas representariam a quintessência da genialidade". Pintores, escultores e arquitetos de então propunham como finalidade uma vida autêntica num mundo autêntico e rejeitavam, para esse efeito, a linha reta, porque eles a consideravam morta e estática, a menos que fosse reforçada por contrastes.Curiosamente, em 1921 a pintura de Kandinsky envereda numa direção totalmente nova: a geometria que ninguém esperava em sua obra faz sua aparição. "A figura geométrica na arte é um meio plástico em vista de um fim mais exaustivo", afirmavam os intelectuais da época que defendiam que ela deveria se dobrar a uma imaginação bem oriental e aceitar as mesclas às mais surpreendentes.Sem estabelecer um paralelo rigoroso com a obra atual de Camilla Passarelli, observamos que o vocabulário desta artista é voluntariamente ampliado com o concurso de cores fortes e marcantes. Sua geometria abstrata, diversificada e plena de fantasia,tem como elementos principais o retângulo e o quadrado envolvendo figuras simbólicas, dentro de uma estrutura em planos ortogonais. Na maioria das vezes, a composição se desenvolve em diversos sentidos, embora criando células estanques que envolvem as formas sobre tons de branco, preto e vermelho. A superfície pintada reflete força, dinamismo, contraste e visibilidade na busca de um equilíbrio.Nas versões I e II da obra Geometria Ponto e Contraponto, Camilla Passarelli constrói solidamente e exprime uma profundidade imaginária através da variação cromática que utiliza. À distancia, seus quadros dão a impressão de verdadeiros labirintos fechados.A artistaCamilla Passarelli, pseudônimo artístico de Maria Camila Passarelli,nasceu em Sorocaba, em 1954. Cresceu na cidade de São Paulo, onde se formou psicóloga. Seu interesse pelas artes a levou a participar de cursos livres, desenvolvendo trabalhos inicialmente em tapeçaria e depois investigando diferentes disciplinas, a partir da cerâmica. Durante alguns anos desenvolveu técnicas de modelagem e esmalte, dedicando-se à cerâmica utilitária e decorativa. A partir de 1999, passou a se interessar pela pintura sobre tela e outros materiais, pesquisando diferentes texturas e técnicas mistas. Atualmente, é diretora cultural da Galeria Navegare Art & Design, em Paraty, RJ, onde organiza mostras e exposições de diversas disciplinas artísticas e desenvolve intenso trabalho de gestão cultural.Realizou os seguintes cursos: restauração em antiguidades (1993 e 1995), com Sinara Trein de Aguiar; Modernas Técnicas de Restauração de Telas, com Gustav A. Berger (1993); modelagem em cerâmica, com Dora Algodoal (1995); workshop de cerâmica, com Sara Carone (1996); esmaltes cerâmicos, com Célia Cymbalista (1996); moldes para cerâmica, na FAAP (1996); workshop de cerâmica Raku, com Paul Soldner (1996); ateliê de cerâmica (1995-1997); pintura sobre tela, com Gislene Marques (1999-2003); e história da arte, em Nova York e Washington, nos Estados Unidos, e na Galeria Mali Villas-Bôas, em São Paulo (2004).Participou ainda de diversas exposições individuais e coletivas, entre elas: "Fragmentos", na Galeria Mali Villas-Bôas, São Paulo (2002); 7º Salão de Artes Plásticas da Galeria Mali Villas-Bôas, "Arte In Forma", São Paulo (2003) ; "450 Anos de São Paulo", no Centro Cultural Santa Catarina, São Paulo (2004); XXIX Semana de Portinari, Brodowski, SP (2004); Espaço Cultural Spasex, São Paulo (2004); "Intromissão da Cor", na Galeria Mali Villas-Bôas, São Paulo (2004); Espaço "Compasso Arqui Design", São Paulo (2004); "450 Anos de São Paulo", na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo (2004); 2ª edição do "Festival das Artes Plásticas de Paraty", RJ (2006); e Galeria Navegare Art & Design, em Paraty, RJ (2006). Possui obras em diversas coleções particulares e nos acervos da APAE, Fundação Cafu e Museu de Arte do Parlamento de São Paulo, em São Paulo.