Bananal, da riqueza do café às belezas naturais da Serra da Bocaina


16/07/2008 15:26

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Fazenda em Bananal <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/07-2008/bananal sp.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Fazenda Boa Vista<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/07-2008/bananal-Fazenda Boa Vista bananal.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Situada no sopé da imponente Serra da Bocaina, a cidade de Bananal vai contando sua história nos passeios pelo centro histórico e seus arredores. A cidade já foi uma das mais ricas do país, quando o café era a principal atividade econômica do país. Seus principais monumentos têm sua história ligada à produção de café; a Estação Ferroviária veio da Bélgica a mando dos barões e a Pharmácia Popular, a mais antiga em funcionamento no Brasil, foi fundada por um francês atraído pela prosperidade do lugar. Uma caminhada pelo centro histórico nos leva a essas e outras obras erguidas num tempo de dinheiro farto.



No começo, uma estrada



A necessidade de um caminho por terra entre as capitanias de São Paulo e do Rio de Janeiro, que evitasse os riscos das viagens marítimas a partir de Paraty. levou a que em 1725 fossem iniciados os planos para a construção de uma estrada que só seria concluída na década de 1770. Foi quando o capitão-mor de Guaratinguetá, Manoel da Silva Reis, por ordem de Martim Lopes Lobo de Saldanha, do Conselho de Sua Majestade, abriu um caminho "que compreende vinte e tantas léguas de sertão, que ele fez romper pela serra da Bocaina e Paraíba".

Para povoar aquelas terras e criar "arranchamentos para comodidade e necessário sustento dos viandantes daquele novo caminho", foram doadas sesmarias aos que haviam se empenhado na construção da estrada. Uma dessas sesmarias, a do rio Bananal, foi destinada a João Barbosa Camargo e sua mulher. Em 1783, o casal manda erigir em suas terras uma capelinha tosca, dedicada ao Senhor Bom Jesus do Livramento. Em torno dela, cresceria o povoado de Bananal.



Terras férteis, café e riqueza



Na primeira fase de ocupação do vale do Paraíba, predominava a lavoura de subsistência com poucos excedentes para serem comercializados. A situação começa a mudar a partir do início do século XIX, quando a cultura do café, baseada nas grandes propriedades e no emprego da mão-de-obra escrava, chega à região. As terras férteis do vale e o clima propício para o café atrairiam grandes investimentos. A princípio, os lucros obtidos com o café eram aplicados na compra de mais escravos e na ampliação da lavoura. A vida era austera e as rústicas sedes das fazendas eram cercadas pelo terreiro de café, oficinas e senzala. Em 1836, o segundo maior produtor de café da província de São Paulo era Bananal, que concentrava boa parte dos fazendeiros mais ricos do vale.

Com o fim do tráfico de escravos, os fazendeiros começaram a sofisticar seu modo de vida. As sedes de fazenda foram transformadas em palacetes, decorados com móveis importados e afrescos de pintores europeus nas paredes. Aumentava o número de escravos usados nos serviços domésticos. Bananal chegou a ter duas bandas de música formadas por escravos, especializadas em óperas européias.

Com a presença da corte portuguesa no Rio de Janeiro e mais tarde a instalação do Império, o Brasil já não era mais uma colônia e a emergente e poderosa aristocracia rural adotava o código de conduta, a maneira de morar, se vestir e se expressar da corte francesa, a mais influente da época. Em Bananal, os "barões do café" formavam a elite do Império. Com seu dinheiro, depositado nos bancos de Londres, chegaram a avalizar empréstimos feitos pelo Brasil para enfrentar a Guerra do Paraguai. Financiaram a construção da Estrada de Ferro Ramal Bananalense " que passava pelas fazendas mais ricas e iam até Barra Mansa, no Rio de Janeiro " e trouxeram uma estação ferroviária inteira da Bélgica. Por algum tempo, a cidade teve sua própria moeda. Um dos fazendeiros mais poderosos da cidade, Manoel de Aguiar Valim, dono da fazenda Resgate, teria, ao morrer, em 1878, apenas em apólices da dívida pública, quase 1% de todo papel moeda emitido no Brasil.



A decadência



Mas o período de prosperidade obtido com o chamado ouro verde não demorou a chegar ao fim. No final do século, as terras começaram a dar sinais de exaustão, a abertura da ferrovia Santos-Jundiaí veio facilitar o escoamento da produção de pontos mais distantes do litoral, propiciando a expansão da lavoura cafeeira no oeste paulista, e a abolição da escravatura, em 1888, enfraqueceu ainda mais a economia da região. Os filhos dos grandes fazendeiros não conseguiriam manter as fortunas herdadas dos pais, e, embora as pastagens para criação de gado tenham tomado o lugar dos cafezais, não foram capazes de restaurar o poder e a riqueza das famílias de Bananal e de todo o vale, mergulhadas em brigas por heranças e perdidas na lembrança do período de glória.

Na década de 50, mais um golpe. A abertura da Via Dutra, rodovia ligando São Paulo ao Rio de Janeiro, praticamente desativou a estrada dos tropeiros, que passava por Bananal, além de Areias, Silveiras, Formoso e São José do Barreiro. Tornaram-se todas "cidades mortas", como escreveu Monteiro Lobato, que morou em Areias e presenciou a decadência da região.



Agora, o turismo



Bananal procura hoje se reerguer atraindo turistas não só para conhecer sua história de pompa e riqueza, cujos testemunhos são os belos sobrados da cidade e os casarões de suas fazendas, mas também para desfrutar das belezas naturais da serra da Bocaina, onde fica a maior reserva brasileira de mata atlântica.

Seguindo as trilhas que sobem a serra em direção aos campos da Bocaina, encontramos cachoeiras de águas cristalinas, o ar puro das grandes altitudes e uma vegetação exuberante. A história está presente em trechos dos caminhos do ouro, estradas calçadas de pedra pelos escravos, que rompiam a serra, em plena floresta, chegando até os portos do litoral sul do Rio de Janeiro.

As antigas fazendas de café que circundam Bananal são testemunhos de um período áureo, em que o café dominava grandes extensões de terra e criava fortunas. Na Fazenda Resgate, que pertenceu ao vaidoso comendador Manoel de Aguiar Vallim, todo o brilho do passado imperial manifesta-se no luxo e refinamento de seu imenso sobrado, um dos mais importantes exemplares da arquitetura neoclássica da região.

A 25 km do centro histórico, fica a Estação Ecológica de Bananal, uma área de 884 hectares que abriga remanescentes da mata atlântica, além de mais de 200 espécies de animais ameaçados de extinção: o sagüi-da-serra-escuro, a onça-parda, o cachorro-do-mato e aves como o gavião-pega-macaco, o gavião-pomba, a aratinga, o jacu e o inhambu-açu. A importância desse ecossistema " que originalmente cobria todo o litoral brasileiro " fez com que a Unesco declarasse as áreas em que ele ainda ocorre como patrimônio da humanidade.

Criado em 1971, o Parque Nacional da Serra da Bocaina é a maior reserva contínua de mata atlântica do país: 110 mil hectares. Sua área abrange seis municípios, alcançando o litoral na vila de Trindade, em Paraty. A grande variação de altitude do parque " do nível do mar até os 2.088 metros do Pico do Tira Chapéu " explica a diversidade de ecossistemas que abriga: ilhas oceânicas, formações estuárias, encostas recobertas pela floresta tropical, matas de araucárias e campos de altitude. A região é cortada pela Estrada da Cesaréia, também chamada Trilha do Ouro ou Trilha dos Mineiros. Construída pelos escravos no século XVIII, boa parte do seu leito ainda está pavimentado com grandes pedras. Para percorrer toda a estrada, refazendo o percurso das tropas de burros que carregavam o ouro de Minas Gerais até o litoral, é preciso três dias de caminhada.

Fontes: cidadeshistóricas.art.br

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