Presidente da TV Cultura pede investimentos federais

Jornalistas e radialistas acusam Fundação Padre Anchieta de manter contratos profissionais irregulares
27/09/2005 21:20

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José Caldini Crespo, presidente da Comissão de Finanças e Orçamento<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/FECOMERC09MARC.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Marcos Mendonça (ao microfone), presidente da Fundação Padre Anchieta " Centro Paulista de Rádio e TV Educativas<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/FINANORC35CINT.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Convidado pela Comissão de Finanças e Orçamento, o presidente da Fundação Padre Anchieta " Centro Paulista de Rádio e TV Educativas ", Marcos Mendonça, esteve na Assembléia Legislativa nesta terça-feira, 27/9, para explicar detalhes de sua atuação frente à autarquia, iniciada em junho de 2004. O ex-deputado estadual e secretário de Cultura durante a gestão Mário Covas fez um contraponto entre a rede pública e as TVs comerciais, já que estas, como dependem financeiramente de seus anunciantes, têm de buscar audiência a qualquer preço, mesmo que isso implique exploração de erotismo, sensacionalismo e violência.

Infantis

Entre as lacunas deixadas pelas emissoras comerciais, Mendonça destacou a importância dos programas infantis desenvolvidos pela Cultura, já que esse segmento de público não atrai financiamento privado. "O único programa do gênero produzido no país é o Sítio do Pica-Pau Amarelo, da Rede Globo, mas mesmo esta "novela" já encontra características para cativar o público adolescente, mais apreciado pelos anunciantes", afirmou.

Programas como Castelo Rá-Tim-Bum, o infantil mais premiado da televisão brasileira, não se fazem sem dinheiro. Respondendo ao questionamento de Mário Reali (PT), que criticou a falta de produção de novos programas, Mendonça afirmou que "quinze minutos de uma produção do nível de Castelo Rá-Tim-Bum não saem por menos de R$ 60 mil", o que fez com que os mesmos episódios fossem reprisados por gerações, principalmente nos últimos dez anos, quando a crise financeira da fundação aprofundou-se.

"Em São Paulo, uma criança passa, em média, quatro horas e meia em frente ao televisor, mais do que nos bancos escolares. Isso nos confere grande responsabilidade em sua formação, pois temos de transmitir-lhes valores e informações sobre a cultura, o folclore e a memória brasileira, e não optar pela solução mais barata, que é a exibição de enlatados estrangeiros", comentou.

Eu quero!

A exposição de Mendonça deu margem à contra-argumetação de Nilton de Martins, secretário geral do Sindicato dos Radialistas do Estado de São Paulo. "Pesquisas de opinião mostraram que as mães de baixa renda deixam seus filhos assistindo à programação da Cultura não por sua qualidade, mas porque a emissora não veiculava publicidade de brinquedos que elas não podiam comprar", indicou o radialista, criticando a exibição da publicidade do Danoninho, "que sugere que iogurte pode substituir refeições balanceadas, com arroz, feijão, salada..."

Mas a publicidade é uma fonte de recursos de que o presidente da Cultura não está disposto a abrir mão. Sem contar com aumento no orçamento repassado pelo Estado, Mendonça disse que tirou a emissora do vermelho com uma política que incluiu, como fonte de recursos, o lançamento do canal pago TV Rá-Tim-Bum, presente nos pacotes básicos dos operadores TVA e DirecTV, que já tem três milhões de assinantes, além da venda de direitos sobre personagens.

Os licenciamentos vendidos pela TV Cultura vão desde a marca Rá-Tim-Bum, comercializado em 1990, ao mais recente, o Cocoricó. Ao todo, foram firmados contratos com mais de 40 empresas referentes a mais de 100 ítens. Para completar a captação de receita, há ainda a venda dos mais variados produtos, desde bonecos de personagens a DVDs de programas, além de CDs de trilhas sonoras. Mesmo recebendo críticas de mercantilização, a emissora pública elevou seu orçamento de R$ 28 milhões para R$ 44 milhões.

Inclusão

Marcos Mendonça afirmou ter consciência de que essa mídia exclui a população de baixa renda, justamente a que mais necessita de uma rede pública de qualidade. "Nosso objetivo é atingir cem milhões de pessoas. Para isso, chegamos a firmar um entendimento com ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social do governo, Luiz Gushiken, pelo qual o governo federal disponibilizaria o sinal para um novo canal aberto, incluindo os custos com a transmissão por satélite". Outro compromisso da União seria a disponibilização de 10% dos R$ 15 milhões da conta Restos a Pagar do Ministério da Cultura. "Mas, até agora, não vimos nem um tostão nem das verbas públicas nem das propagandas institucionais dos Correios, do Banco do Brasil ou da Petrobras", afirmou o presidente da fundação, atribuindo a omissão federal a um possível revanchismo político. "Os recursos aplicados em TVs educativas no Brasil não passam de R$ 150 milhões, dos quais R$ 80 milhões são investidos por São Paulo".

Na grade de programação da TV Cultura, que inclui 50 títulos, há vários que não dão ibope. "Mas é justamente por isso que existem as emissoras públicas", afirmou Mendonça, lembrando que programas musicais nunca decolam nas pesquisas. "Além da Cultura, a MTV é a única que produz musicais. Mesmo a Globo faz um único programa anual do gênero, com Roberto Carlos. Mas, apesar disso, mantemos programas de música erudita, o Sr. Brasil, com apresentação de Rolando Boldrin, e organizamos o Festival Cultura, com objetivo de revelar novos talentos".

Dissídio

O presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Fred Ghedini, acusou a direção da Fundação Padre Anchieta de não cumprir o dissídio coletivo da categoria, além de ter inúmeras contratações irregulares. "Em um único dia, uma inspeção do Ministério do Trabalho, entrevistando os funcionários ao acaso, encontrou mais de 30 contratações irregulares. No caso dos jornalistas, há muitos que são contratados como pessoa jurídica. Quando essas pessoas entrarem em juízo contra a fundação, terão suas verbas rescisórias calculadas sobre a jornada de cinco horas, sendo que as excedentes serão consideradas horas adicionais. Essa gestão, embora pareça financeiramente saudável, está deixando um enorme passivo trabalhista para seu sucessor", alertou o sindicalista.

A acusação do radialista Nilton de Martins é que, embora o reajuste da classe tenha sido fixado em 5,5% em convenção coletiva, a Rádio e a TV Cultura só concederam reajuste de 4,18%. "E isso após uma greve de 24 horas, porque a proposta da autarquia era que teríamos de abrir mão dos 5,5% para receber os 4,18%."

Para Enio Tatto (PT), além de não serem realizados concursos públicos, para dar efetivo provimento às vagas existentes, a fundação deveria valorizar e lançar seus profissionais, em vez de contratar profissionais famosos, como Sílvia Popovik, cujo programa, segundo o deputado, não difere em nada da programação das emissoras comerciais.

Já Simão Pedro (PT) citou editorial de O Estado de S. Paulo e artigo da Carta Capital, que questionava os critérios de seleção de jornalistas e comentaristas, como o caso de Alexandre Machado, ex-assessor de Mário Covas. Marcos Mendonça, considerando a afirmação dos parlamentares petistas como uma ofensa ao profissionalismo dos jornalistas da casa, lembrou o passado de esquerda de Paulo Markun e afirmou que gostaria de ter nos quadros da emissora o jornalista Ricardo Kotscho, ex-assessor de imprensa de Lula.

alesp