Entidades discutem implantação de um campus universitário no complexo do Juquery


13/09/2006 17:03

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Mário César Nascimento (ao centro): população da região vem debatendo desde 2001 propostas para a implantação de uma universidade <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/AssuntosMetro ESCOLHIDA0038-mauri.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Edificações do Complexo Hospitalar do Juquery, em Franco da Rocha.<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/AssuntosMetroCOMPLEXO JUQUERY.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Professor e arquiteto Sylvio Sawaya<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/AssuntosMetro Sylvio Sawaia-mauri.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Estiveram reunidos nesta quarta-feira, 13/9, na Assembléia Legislativa, representantes de várias entidades que discutem a implantação de um campus avançado da Universidade de São Paulo (USP) ou da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em edificações do Complexo Hospitalar do Juquery, em Franco da Rocha.

Segundo Mário César Nascimento, conselheiro do Instituto de Pesquisas em Ecologia Humana (IPEH), a população da região vem debatendo desde 2001 propostas para a implantação de uma universidade no local, inclusive com representantes da Unesp.

Essa entidade iniciou um movimento que pede a atenção das autoridades para o patrimônio ambiental e histórico que está em processo de ocupação e degradação. "Os representantes do governo têm de estar atentos para essa região da bacia hidrográfica do Alto Tietê/Juquery-Cantareira, constituída pelos municípios de Caieiras, Cajamar, Francisco Morato, Franco da Rocha e Mairiporã e pela zona norte da capital. Ela possui os mais expressivos patrimônios ambientais e ecológicos da região metropolitana, a exemplo dos parques Anhangüera, Albert Logfren (Horto Florestal), Cantareira, Jaraguá e Juquery, além da Área de Proteção Ambiental (APA) de Cajamar e da Área de Proteção aos Mananciais (APM) dos municípios de Mairiporã, Caieiras e Franco da Rocha", argumentou.

Para o representante do IPEH, além de todo o patrimônio ambiental, a região comporta importantes edificações tombadas pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), como o Complexo Hospitalar do Juquery, com seus prédios centenários projetados por Ramos de Azevedo.

Segundo o documento apresentado por Mário César, a população local acredita que há espaço e prédios que podem ser ocupados por uma universidade, já que o Complexo Hospitalar do Juquery possui áreas ociosas, em razão do processo de "desmanicomização" dos seus assistidos.

Proposta da FAU

Um grupo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU-USP), coordenado pelo professor e arquiteto Sylvio Sawaya, apresentou na reunião os resultados de um estudo sobre o local. Para o professor Sawaya, a ocupação da área do vale do rio Juquery é objeto de debates desde 1984. "Na década de 1990, foi criado o Parque Estadual do Juquery, com área de 20 milhões de metros quadrados. Fora dos limites do parque ficou uma área remanescente de 8 a 10 milhões de metros quadrados, parte dela atualmente ocupada. Nosso grupo se dedicou a estudar durante dois anos a possível destinação dos outros 6 milhões de metros quadrados", informou Sawaya.

Pela proposta apresentada pelo grupo, 1 milhão de metros quadrados seriam destinados ao novo Hospital do Juquery, que passaria a funcionar como uma vila terapêutica. Na área destinada a atividades voltadas para a saúde, seria construído também um hospital regional. Já a universidade ocuparia uma área de 3 milhões de metros quadrados, e o restante do espaço seria destinado à construção de um memorial da história do atendimento psiquiátrico, um centro de referência com biblioteca, um centro cultural metropolitano e áreas para uso da população local. Esse mapeamento foi aprovado, segundo Sawaya, em maio último pelo secretário da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata.

Segundo o grupo da FAU, para que o projeto de instalação de uma unidade universitária dê certo é necessário que haja uma proposta para a macrorregião, inclusive com uma gestão única de toda área, inclusive do parque. "Seria uma espécie de subprefeitura", explica Sawaya.

Para o professor, o novo campus deve ser voltado tanto para a área cultural como para a área de tecnologia de ponta, como a biotecnologia. "Esta região está no centro da área metropolitana estendida, que contempla Campinas, São José dos Campos, Sorocaba e Santos. Desta forma, poderia transformar-se em um pólo estratégico integrado ao eixo norte do Rodoanel, cujo traçado poderia ser modificado para que pudesse passar acima do Vale do Juquery e próximo à ferrovia que o governo federal pretende implantar na região", disse ele.

Sawaya acredita que há potencial para que a região possa ter um desenvolvimento urbano ecologicamente integrado, com um centro de produção de tecnologia de ponta e de logística.

Os representantes dos movimentos sociais esperam que os deputados possam incluir no próximo Orçamento verbas suficientes não só para a continuidade dos estudos de viabilidade do projeto, como ocorreu com a aprovação de uma emenda no Orçamento deste ano, mas para o início efetivo da implantação de um campus de uma das universidades estaduais.



Complexo Hospitalar do Juquery: mais de cem anos da história da psiquiatria paulista

No final do século 19, os locais que atendiam os doentes mentais de São Paulo (os Hospitais de Alienados, na capital e em Sorocaba, e a Chácara Ladeira do Tabatingüera) já não comportavam mais o número crescente de pacientes. Para sanar esse problema, o governo do Estado decidiu construir um novo hospital psiquiátrico na cidade de Juquery.

O projeto arquitetônico da Colônia Agrícola Juquery, para a qual foi destinada uma área de 150 hectares, foi confiado a Ramos de Azevedo. As obras começaram em 1895.

Inaugurado em 1898, o mais novo e famoso hospital psiquiátrico do Brasil foi administrado pelo médico Francisco Franco da Rocha, que posteriormente deu origem ao nome da cidade. Com capacidade inicial de 800 leitos, o hospital ocupava um terreno à margem da linha férrea e próximo à Estação Juquery.

Posteriormente, as fazendas Cresciúma e Velha foram incorporadas ao patrimônio do hospital e, em 1916, o governo do Estado adquiriu as terras da 4ª Colônia, que tinham pertencido a Beneducci e a Ângelo Sestini, e as linhas e máquinas para abrigar uma usina elétrica do hospital, que durante alguns anos forneceu energia para a estação e para todo o povoado. A usina abasteceu de luz a Estação Juquery até 1939.

O Complexo Hospitalar Psiquiátrico do Juquery foi inaugurado em 1898. Em 1908, iniciou-se a construção da igreja matriz em louvor a Nossa Senhora da Conceição, padroeira do município. Franco da Rocha foi elevado a distrito do município de Mairiporã em 21/9/1934 e, em 30/11/1944, tornou-se município autônomo.

O Asilo de Alienados do Juquery passou a denominar-se Hospital e Colônias do Juquery em 1929. Nos anos 60, a instituição passou a enfrentar os reflexos da explosão migratória provocada pelo desenvolvimento industrial, que contribuiu para o aumento do desemprego, da mendicância e da marginalidade. Em 1968, chegou a ter mais de 14 mil internados.

Em 1981, o complexo contava com 4.200 pacientes entre o Juquery e o Manicômio Judiciário, instalados na mesma área. Além do hospital e do manicômio, vários outros órgãos públicos foram sendo instalados nos 1.100 hectares ou 731 quilômetros quadrados de área da Fazenda Juquery. Escolas, Corpo de Bombeiros, o 26º Batalhão da Polícia Militar, um lixão e ocupantes de terra passaram a dividir esse espaço.

Nos anos 80, o problema da superpopulação do complexo chamou a atenção da opinião pública e de profissionais de saúde pública da Universidade de São Paulo (USP). Veículos de comunicação flagraram as condições de abandono dos internos, pessoas sujas que vagavam pelo hospital às vezes sem nenhuma peça de roupa. Cenas que poderiam ser comparadas às de um campo de concentração.

A partir de então, foi posto em marcha um contínuo processo de "desmanicomização" no Complexo Hospitalar do Juquery, o que vem acarretando a ociosidade das históricas edificações. Algumas entidades apontam para a necessidade da indicação de novos usos dessas instalações, compatíveis com o desenvolvimento equilibrado e sustentável e capazes de gerar benefícios socioambientais, econômicos e culturais à população metropolitana.

No dia 17/12/2005, o prédio da administração central do Complexo Hospitalar do Juquery foi destruído por um incêndio. O fogo reduziu o edifício a escombros. Restaram apenas as paredes estruturais e uma parte da cobertura do piso inferior, numa das laterais. Foram queimados também prontuários médicos, arquivos técnicos e administrativos, que guardavam mais de cem anos da história da psiquiatria paulista e brasileira e do hospital desde o tempo do médico Franco da Rocha. O edifício abrigava ainda a mais completa biblioteca brasileira de livros e periódicos em psiquiatria da metade do século 19 até metade do século 20. A edificação destruída, juntamente com outras existentes na Fazenda Juquery, sintetiza a linguagem construtiva institucional de um período histórico e representa a arquitetura hospitalar daquele período. O edifício de dois andares é um dos cartões postais da paisagem da cidade de Franco da Rocha.

Há alguns meses, o Instituto de Pesquisas em Ecologia Humana (IPEH) encaminhou moção ao governador do Estado apoiando a implantação de um campus avançado da USP ou da Unesp nas edificações do complexo hospitalar.

O documento denuncia também a inadequação e a ilegalidade da ocupação de parte do Parque Estadual do Juquery, em Franco da Rocha, por duas unidades prisionais, fato que está "sub judice" desde 1999. Segundo os autores da moção, essa ocupação gera "um passivo socioambiental danoso à saúde da população metropolitana, motivando e justificando que se dê outra destinação às referidas edificações prisionais".

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