A VIOLÊNCIA EM JACAREÍ E EM TODO O INTERIOR - OPINIÃO

Afanasio Jazadji*
05/02/2001 12:25

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A primeira grande tragédia da falta de segurança do interior paulista em 2001 ocorreu em Jacareí, no Vale do Paraíba: seis assaltantes atacaram um supermercado no momento em que um carro-forte estacionava no local para retirar dinheiro e dispararam tiros de metralhadoras e de revólveres contra funcionários e clientes.

Balanço da tragédia de 3 de janeiro: cinco pessoas foram mortas pelos ladrões, entre as quais uma mulher grávida, e nove ficaram feridas. Dos seis assaltantes, um foi morto no tiroteio com vigilantes da empresa de transporte de valores, dois foram presos logo em seguida e três conseguiram escapar, levando 46 mil reais.

O que chamou a atenção nesse assalto ao supermercado Pão de Açúcar, em Jacareí, foi a crueldade dos bandidos: eles atiraram até em pessoas deitadas no chão. Outro detalhe: os assaltantes sabiam como agir, despertando a suspeita de que houve cumplicidade entre os ladrões e alguns vigilantes do próprio supermercado. A polícia foi atrás de suspeitos e conseguiu prender, quatro dias depois, em Itanhaém, o PM Flávio Saketti, de 37 anos, acusado de dar ajuda aos assaltantes. Assim como tantos outros policiais militares do Estado, Flávio fazia "bico" nas horas vagas, como vigilante do supermercado. Ele confessou que aderiu ao crime.

Jacareí vai consolidando sua condição de grande pólo de violência do interior, por ficar situada junto a várias rodovias. Esses ladrões que atacaram o supermercado, por exemplo, eram da região do ABC. No 2000, Jacareí foi local da maior chacina dos últimos tempos no Estado: dez mortos. É um caso típico dos novos rumos do interior.

Acompanhado do governador Mário Covas, o secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo, Marco Vinício Petrelluzzi, esteve em Jacareí para acompanhar a missa pelas vítimas do assalto ao supermercado. Moradores da cidade pediram-lhe maior empenho para acabar com o crime no Vale do Paraíba e em boa parte do interior paulista. De modo teórico, o secretário argumentou que, na verdade, Jacareí não é um município violento: está apenas sendo invadido por criminosos de fora, como ocorreu no caso da chacina e, agora, mais recentemente, no assalto ao Pão de Açúcar.

A explicação de Petrelluzzi é simples. Segundo ele, a morte de dez jovens na grande chacina do ano passado foi conseqüência de uma briga entre quadrilhas de traficantes, envolvendo bandidos da Baixada Santista. Já no episódio do supermercado, ficou mesmo constatada a participação de assaltantes do ABC, região metropolitana de São Paulo.

No entanto, não cabe verificar onde nasceram ou onde moram os criminosos: o fato é que o Estado todo está sendo cenário de crimes violentos. Já não existe diferença entre capital e interior. Isso porque, a exemplo do que acontece na capital, os bandidos perceberam a facilidade com que podem praticar roubos, assaltos e homicídios. Nos últimos meses, passaram a abusar da crueldade, matando suas vítimas com a maior frieza, diante do medo de serem denunciados.

Nessas horas, convenhamos, fica impossível ao secretário Petrelluzzi provar que as regiões de São José dos Campos, de Campinas, de Ribeirão Preto e de Santos já estão mais seguras. Marketing é uma coisa; realidade é outra. Não dá para ser otimista.

*Afanasio Jazadji, deputado estadual pelo PFL, é jornalista, radialista e advogado.

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