Da redaçãoNo primeiro dia de debates do 48º Congresso Estadual de Municípios, que acontece na cidade de Campos do Jordão até sábado, 27/3, o tema Saúde esteve em destaque. Uma mesa de discussões presidida pelo deputado Pedro Tobias (PSDB) tratou o tema "Novas Diretrizes da Saúde para a gestão Municipal". José Ênio Servilha Duarte, secretário de Saúde de Marília e presidente do COSEMS/SP, e José Carlos Seixas, assessor técnico da Secretaria de Estado da Saúde, foram os expositores.O tom da discussão foi estabelecido pelo deputado Pedro Tobias. "Saúde precisa de dinheiro. Os municípios gastam hoje de 18 a 20% dos seus orçamentos com serviços de saúde."Municípios gestoresCom a Constituição de 1988, lembra Servilha Duarte, os municípios passaram a ser gestores da saúde. "Eles saíram do paraíso e passaram a enfrentar a responsabilidade por serviços de saúde. Hoje, quase todos os municípios de São Paulo estão habilitados para a gestão. Dos 645 municípios, 643 são gestores, básicos ou plenos".Acrescenta o secretário de Marília que o Estado tem o papel de prover apoio técnico e financiamento às administrações locais. "Há uma dependência mútua entre Estado e municípios. Podemos dizer que o atendimento básico avançou muito em nosso estado graças aos municípios, principalmente com os programas Saúde da Família". Os principais problemas indicados por Servilha Duarte estão na média e na alta complexidade e na cesta farmacêutica. "Apesar de o nosso Estado ainda estar patinando no serviço farmacêutico, o caminho adotado está correto", avaliou. A discussão atual, na opinião do presidente da COSEMS, não deve mais se centrar nas questões de financiamento, já em parte resolvidas pela emenda 29, que destina recursos para a saúde em percentual do PIB. A questão do momento seria como gastar, um gerenciamento racional e eficiente dos recursos e dos instrumentos disponíveis. "Em São Paulo, os gastos com saúde estão assim divididos: 36% dos gastos são feitos pelo Governo Federal, 30%, pelo Estado e 34%, pelos municípios. Relativamente ao restante do país, em São Paulo, Estado e municípios gastam mais do que a média nacional, e o Governo Federal participa com um percentual menor".Por isso, sugeriu a formação de uma comissão de estudos para subsidiar as bancadas federal e estadual paulistas com dados que possam contribuir para a correção do teto de recursos passados pelo SUS para São Paulo.RevoluçãoJosé Carlos Seixas considerou que o modelo de gestão de saúde no Brasil é ainda muito novo e exige um choque de cultura administrativa. "Hoje, a luta se traduz em obter recursos. A vinculação de receita para a saúde foi boa, pois deu previsibilidade a estados e municípios. Contudo, o panorama atual é obscuro na esfera federal. Como a previsibilidade se assenta no percentual do PIB destinado à saúde, a estagnação econômica impõe um quadro negativo. Mais pobreza, mais desemprego e mais doenças". Para Seixas, as perspectivas de crescimento econômico neste ano exigem dos administradores mais atenção com relação à disputa dos recursos financeiros.Ainda em sua avaliação, desviar recursos da saúde para outros fins é "roubo", e desperdiçar medicamentos, apesar de ser prática corrente, também é uma ação criminosa. Seixas acrescentou que é preciso estimular uma revolução ética dentro das corporações profissionais da saúde, capaz de elevar sobretudo a qualidade do atendimento básico. O papel dos administradores da saúde seria assim o de intermediar os vínculos entre os usuários e os produtores de serviços de saúde.