Nino Millan: o ferro e o aço respondem dóceis aos imperativos de sua composição

Emanuel von Lauenstein Massarani
06/11/2003 14:00

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Nino Millan<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/Nino Millan.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Obra Verticais <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/Nino Millan Verticais.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A chapa de ferro e o aço inoxidável são os materiais sobre os quais Nino Millan experimenta há tempos com o esmerilho, a chama oxídrica e os instrumentos afins. Feita de sinais significativos, de áreas neutras e de luzes instáveis, sua obra transforma-se num conto explicitamente ambíguo e alusivo: um conto feito.

São grandes superfícies caracterizadas por uma insólita e sugestiva sucessão de campos operativos, côncavos e convexos, de inefáveis fermentações dos ingredientes usados e de nítidas e improvisas flutuações de cores . É evidente, que o artista tende a incidir "na luz" com particulares efeitos de ressonâncias internas.

O rigor do procedimento operacional de Nino Milan corresponde, como não poderia deixar de ser, à sua índole meditativa e severa: uma índole que consente a esse escultor de se orientar, decisivamente, em direção de novos desenvolvimentos das relações entre projeto e destino, entre positivo e negativo. Assim nascem os espaços vazios em suas esculturas que, integradas, se confundem na paisagem e lembram colinas e montanhas, como na obra "Recortes verticais", doada ao Acervo Artístico da Assembléia Legislativa.



Trata-se de um continuo dar, passando do conteúdo à forma e da forma ao conteúdo. A terra é pretexto para comover, solicitar e desvendar a possível verdade que não conseguimos descobrir, mesmo exasperando a realidade numa linha puríssima. Um novo misticismo emerge de suas superfícies, a cor pura do ferro modela amplos planos e nos dá uma síntese das imagens.

No abstracionismo a cor, o ferro, o granito, o plástico e o papel parecem se rebelar das mãos dos artistas e permanecem os protagonistas absolutos do fato estético, colocando em segundo plano tudo o que a tradição artística nos deixou de herança. Através de Nino Millan, assistimos agora a uma espécie de reconciliação entre o artista e a matéria em que opera. O ferro, o aço, materiais certamente não tradicionais, respondem dóceis aos imperativos de sua composição.

O Artista

Nino Millan, pseudônimo artístico de Firmino Martinez Millan, nasceu em São Paulo no ano de 1956, filho de pais originários da Catalunia (Espanha). Artesão, projetista, artista plástico e designer, é autodidata. Após seus estudos secundários e cursos de projetos de ferramentas, desenho mecânico e desenho projetista passou a se dedicar à ferramentaria, profissão original de seu pai a quem ajudava desde os 12 anos de idade.

O que era inicialmente um lazer de final de semana foi tomando um espaço cada vez maior em sua vida. A tal ponto se envolveu com o mundo do ferro que muito cedo abriu uma industria metalúrgica: executando vitrôs, janelas e portas.

Nos últimos anos, entretanto, vem adquirindo conhecimentos técnicos por meio de cursos de artes plásticas, notadamente no Museu Brasileiro de Escultura em São Paulo com a professora Vera Martins. Foi assistente dos irmãos Campana. Está presente no II Anuário Brasileiro de Artes Plásticas. Vive na Freguesia do Ó há 45 anos.

Suas peças em design são bem variadas. Já realizou um trabalho temático, revelando a silhueta em ferro de mulheres em diversas situações. Além disso desenvolve uma pesquisa com ferrugem.

Entre as diversas exposições, destacam-se as duas mostras na Casa da Cultura de Freguesia do Ó e nos jardins do Horto Florestal da Cantareira. Participou recentemente de uma mostra coletiva no MUBE.

alesp