O presidente da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, Oliver Hossepian Salles de Lima, reafirmou à Comissão de Fiscalização e Controle que há indícios de que o maquinista não calçou o trem que se chocou com uma composição parada na Estação Perus, no dia 28 de julho, causando a morte de nove pessoas e ferimentos em mais de 110. "Fizemos um teste nas mesmas condições e comprovamos que com duas pedras encontradas no local o trem poderia ter sido calçado", disse. A falta de calço foi apontada em laudo que a CPTM divulgou no último dia 12.Hossepian falou por mais de duas horas à Comissão de Fiscalização e Controle, em reunião presidida pelo deputado Gilberto Nascimento (PMDB). Ele foi questionado pelo deputado Carlos Zarattini (PT) sobre a falta de uma estratégia de ação que poderia ter permitido a evacuação das pessoas que estavam na estação atingida, já que entre a movimentação do trem desgovernado e o acidente ocorreram nove minutos. "Os cinco funcionários da estação fizeram bem em não forçar a evacuação", disse. "Mais gente poderia ter morrido, porque os bloqueios teriam dificultado a saída e haveria uma aglomeração de pessoas exatamente no local onde caiu a passarela."Zarattini disse estar "espantado" por saber que a linha A (Luz-Francisco Morato), onde aconteceu o acidente, tem um pedido de empréstimo para melhorias junto ao Eximbank japonês, por intermédio do governo federal, parado desde 1996, "sem que o governo do Estado adote ações políticas concretas para pressionar por esses recursos". O deputado protocolou ontem pedido de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar não só o acidente de Perus, mas as condições de trabalho existentes na CPTM.O petista Henrique Pacheco também estranhou que a CPTM gaste mais com vigilância e limpeza do que com a manutenção de suas linhas. Segundo ele, a empresa investe pouco na construção de muros, o que diminui a segurança e exige mais investimentos em segurança, "num verdadeiro círculo vicioso". "Nossa manutenção não é prejudicada pelos gastos com vigilância e limpeza", garantiu Hossepian. "Para diminuir esses gastos, precisamos melhorar a qualidade do serviço que prestamos."Participaram também da reunião os deputados Maria do Carmo Piunti (PSDB), Aldo Demarchi (PPB), Celso Tanaui (PTB) e Jamil Murad (PCdoB). O presidente da CPTM mostrou aos parlamentares uma raio X da empresa. Constituída em 1992 e dedicada ao transporte de passageiros, ela conta atualmente com 92 estações, 358 trens que transportam diariamente 870 mil pessoas ao longo de uma malha ferroviária de 270 quilômetros. Segundo Hossepian, 62% da frota está em operação. "Essa disponibilidade é baixa", ele reconheceu, "mas seria irresponsabilidade colocar em operação trens sem manutenção adequada." A receita operacional de 232 milhões de reais, em junho, representa 65% dos gastos com custeio e manutenção da CPTM, segundo Hossepian.