Dois lados de uma mesma moeda

Opinião
12/06/2006 16:53

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Deputado Romeu Tuma<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/RomeuTumaJr10.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Bruno Costa de Albuquerque Maranhão e Saulo de Castro Abreu Filho nunca se encontraram na vida. O primeiro nasceu rico, filho das elites pernambucanas, mas abdicou da herança quando ainda era jovem. O outro fez carreira pública e ascendeu socialmente graças às habilidades e boas relações políticas que cultivou desde os tempos de estudante de Direito.



Apesar da distância, inclusive ideológica, a dupla ganhou destaque na última terça-feira por utilizar métodos de intimidação contra instituições públicas. Cada um agiu da maneira que achou conveniente. Bruno Maranhão não foi convidado para entrar com seus capangas no Congresso Nacional. Decidiu, então, usar da força para fazer prevalecer suas opiniões em torno da Reforma Agrária. Já Saulo foi convocado para dar explicações na Assembléia Legislativa de São Paulo. Também chegou acompanhado de asseclas ao prédio, embora tenha utilizado a ironia e a truculência como armas para desmoralizar os deputados e esquivar-se das perguntas sobre segurança pública. Um valeu-se da violência física e outro, da moral.



Ambos utilizaram gente humilde como massa de manobra. O ex-usineiro arregimentou um grupo desesperado de sem-terra na invasão à Câmara, em Brasília. Foi preso e depois alegou inocência no quebra-quebra que deixou mais de 40 pessoas feridas. Agora, terá de responder na Justiça por crimes contra o patrimônio público, tentativa de homicídio, formação de quadrilha e corrupção de menores. Reclamou que foi parar atrás das grades por motivos "políticos". Sem dúvida, ninguém no PT ficou satisfeito em ver um dos membros de sua executiva nacional envolvido na confusão, liderando analfabetos armados com paus e pedras. Ao contrário dos "camaradas" do PSDB em relação a seu filiado.



O secretário de Segurança Pública de São Paulo também liderou sua tropa. Todos fardados e uniformizados, em número próximo a 150 policiais e 40 viaturas devidamente estacionadas na porta do prédio. Para piorar, transformou os depoimentos sobre o caos na Segurança Pública em São Paulo num verdadeiro espetáculo. A cada provocação aos deputados, ele ganhava palmas de sua platéia. Em um determinado momento, levantou-se, deu uma voltinha e ergueu os braços. Inaugurou, assim, a dança do PCC. Após cinco horas, saiu sem falar sobre os problemas de segurança em São Paulo, que causaram a morte de mais de 400 pessoas no início do mês passado. Saulo também deveria ter sido preso, como Bruno Maranhão. Mas acabou sendo salvo pelo colarinho branco e por suas boas relações com o poder.



Sorte dos paulistanos que o Ministério Público Estadual decidiu apurar o porquê de o secretário da "insegurança" precisar de uma tropa para ir à Assembléia. Em sua defesa, ele alega que todos os asseclas estavam de folga. É o que vamos ver nos próximos dias. Exigir sua saída imediata da pasta é o mínimo que alguém que respira a democracia pode fazer, não só pela comprovada incompetência, mas pela afronta a um poder que representa a essência do funcionamento do Estado de Direito. Depois de demitir erroneamente o secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, o governador Cláudio Lembo volta a agir como se nada de anormal tivesse acontecido em São Paulo. Ao invés de cobrar explicações, como faz o MP, Lembo limitou-se a dizer que o secretário se tratava de "um homem de forte personalidade e ótimo funcionário público". Ainda que fosse, o governador não poderia dar guarida a suas práticas.



Bruno Maranhão saiu do episódio no Congresso Nacional como um Robin Hood às avessas, um projeto piorado do herói que tira dos ricos para dar aos pobres. Representou o andar de baixo, mas se deu mal com as táticas de guerrilha utilizadas em sua ação. Já Saulo de Castro Abreu Filho entrou na Assembléia pela porta da frente e agiu como se fosse animador de um programa de auditório, inclusive comandando as palmas que recebeu. Como já é de costume, olhou apenas para o próprio umbigo. E se esqueceu dos 40 milhões de habitantes do Estado que esperam por soluções que garantam tranqüilidade para andar pelas ruas, sem a companhia de seguranças oficiais.



* Romeu Tuma é delegado de Classe Especial da Polícia Civil, deputado estadual (PMDB), ex-presidente e atual integrante da Comissão de Segurança Pública, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos do Consumidor e Corregedor da Assembléia Legislativa de São Paulo

alesp