Três dados relevantes e altamente correlacionados marcaram os últimos dias no Brasil. O primeiro foi o desemprego recorde de mais de 21% em São Paulo. O segundo foi o recorde histórico de 41,23% do PIB sendo confiscado pelos tributos. O terceiro foi o anúncio do lucro, também recorde, de 18,5%, obtido pelos bancos no primeiro trimestre.

Se cada número por si só já é bastante expressivo, a conjunção dos três revela a essência da política econômica petista, que bem poderia ser chamada de "Projeto Robin Hood às avessas", uma vez que castiga os trabalhadores com a ameaça permanente de desemprego e os empreendedores com uma carga tributária muito acima do razoável, mas premia a banca financeira com juros altos e negociações altamente vantajosas.

O PT tem apontado como seu grande feito a obtenção da credibilidade do governo brasileiro junto aos mercados, mas não explicita claramente que só obteve estes acenos de boa vontade graças à docilidade com a qual tem atendido a todos os pleitos do mercado, às custas de quem realmente produz. A cada bobagem que algum membro do PT ou do governo - separação que até hoje ainda não é clara - diz e lá vamos nós, trabalhadores e empresários, pagar a conta do estrago criado no mercado.

Outro ponto também relacionado com este cortejo petista aos mercados, às custas do povo, nunca é demais lembrar, é o sucateamento da rede de proteção social, duramente construída, mantida, ampliada, estabilizada durante o governo do PSDB. Dia a dia programas sérios e bem estruturados, com resultados já demonstrados e agraciados com prêmios internacionais vão sendo desmontados, perdem espaço, tem seus pagamentos atrasados, vão sendo substituídos por um programa genérico que vem sendo mais eficiente em coletar críticas do que em distribuir resultados, que é o Fome Zero.

Mesmo verbas carimbadas para a educação e a saúde são agora "desvinculadas", permitindo que estes montantes sejam redirigidos para a adulação aos bancos e para compensar a falta de tato petista.Mais um projeto desta operação Robin hood às avessas, sem dúvida.

O PT elegeu-se dizendo que gerar crescimento era fácil, que ampliar a quantidade e a qualidade dos serviços oferecidos aos mais pobres era apenas questão de vontade política, que reduzir impostos era simples, que equacionar a questão do déficit da previdência era algo tranqüilo e indolor, que baixar os juros era questão apenas de dar algumas canetadas. Confrontado com a dura realidade de enfrentar os problemas de fato, não em teoria, vem metendo os pés pelas mãos, só conseguindo evitar o caos praticando uma política pródiga que retira o emprego dos trabalhadores, a receita dos empreendedores, a ajuda aos mais pobres para alimentar o sistema financeiro.

Como os filisteus sacrificavam seus filhos a Moloch, assim tem agido o PT, queimando o futuro do setor produtivo no altar do sistema financeiro para atrair suas boas graças e penitenciar-se de suas blasfêmias anteriores e atuais. Se pelo menos eles todos, incluindo o presidente, se abstivessem de falar besteira tumultuando o mercado certamente já seria uma grande economia para todos os nossos bolsos.

*Vaz de Lima é líder da bancada do PSDB na Assembléia Legislativa e Presidente da Comissão Parlamentar de Acompanhamento da Reforma Tributária da Assembléia Legislativa