76 anos da revolta constitucionalista de 1932


08/07/2008 19:41

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Pedro de Toledo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/07-2008/pedro de toledo.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Antonio Americo de Camargo Andrade<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/07-2008/antonio americo de camargo andrade.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Monumento Obelisco <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/07-2008/Obelisco detalhe.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Capacete - Revolução de 1932<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/07-2008/capacete 1932.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Clique para ver a imagem " alt=""República Paulista" representada por efígie com a forma do Estado de São Paulo Clique para ver a imagem "> Mario Martins de Almeida<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/07-2008/mario martins de almeida.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Soldado - Revolução de 1932 <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/07-2008/soldado.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Cartaz da Revolução <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/07-2008/rev 32 abaixo a dictadura.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Drausio Marcondes de Souza<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/07-2008/drausio marcondes de souza.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Nove de Julho de 1932. Há 76 anos, iniciava-se em São Paulo o movimento armado contra o governo revolucionário instalado em 1930 por Getúlio Vargas e as forças políticas representadas pela Aliança Liberal e o Tenentismo. Os diversos interesses, projetos divergentes e contraditórios da revolução liberal de 30 desembocaram nos trágicos episódios de uma guerra civil que mobilizou forças políticas e militares para uma luta encarniçada.

Parte dos sete milhões de habitantes do Estado de São Paulo viveu e testemunhou, naquele ano, acontecimentos marcados por ódios, paixões e ideais. O conflito armado durou 85 dias (de 9 de julho a 2 de outubro). Do lado paulista, cerca de 200 mil voluntários inscritos. Aproximadamente 66 mil soldados, voluntários e tropas regulares do exército e da Força Pública, participaram dos combates. Geograficamente, o conflito envolveu principalmente os Estados de São Paulo e Mato Grosso, com episódios isolados no Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Bahia, Pará e Amazonas. Todavia, foi um movimento sobretudo paulista, já que a leitura dos antagonismos fixou-se na equação São Paulo versus Ditadura.

O número de mortos do lado constitucionalista chegou a 830 soldados, quase o dobro dos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira que perderam a vida nos campos da Itália na Segundo Guerra Mundial.

Uma das características sui generis que marca a memória desse episódio é o fato de não existir, ao que se sabe, registros em nossa história de outro movimento revolucionário cuja comemoração do evento e o culto aos heróis sejam tradicionalmente realizados pelos vencidos, e não pelos vencedores da guerra.



Revolução e revolução



Os números demonstrados acima vão a favor da produção de uma memória sobre o movimento paulista que, freqüentemente, não dispensa superlativos: o maior movimento armado já registrado em território brasileiro, ou mesmo a maior mobilização popular da história do país. Sobre este último aspecto, tanto as disputas dos atores pela memória dos acontecimentos quanto as interpretações criadas pela literatura em torno da revolução de 1932 deixam-nos uma instigante indagação. Os acontecimentos de 1932 refletiriam tão-somente as cisões da burguesia paulista em confronto com o governo federal? Ou ainda, qual foi verdadeiramente o papel da grande massa da população trabalhadora?

A questão é intrincada, mas ao mesmo tempo reveladora das contradições do processo aberto em 1930, que de uma lado abrira perspectivas para aspirações sociais representadas pelo tenentismo, pretensamente arvorado em porta-voz dos interesses das classes menos favorecidas, do "povo", contra a dominação das chamadas oligarquias, dos políticos "carcomidos", e a ordem estabelecida pela chamada velha República. Acenavam, assim, os tenentes com promessas de mudanças radicais a serem garantidas por uma legislação social, ao mesmo tempo em que impunham repressão pesada aos movimentos de trabalhadores, insuflados pela crise econômica. De outro lado, setores da oligarquia paulista dissidentes e opositores do Partido Republicano Paulista, representados no Partido Democrático, prestaram mão forte à revolução de 30 e esperavam obter com isso o comando político do Estado mais importante da federação.

A luta pela conquista da hegemonia durante do governo provisório colocara os tenentes num campo de oposição ao dos tradicionais donos do poder em São Paulo. No primeiro round, os tenentes contabilizam vantagens. Getúlio nomeia o pernambucano João Alberto Lins de Barros interventor federal em São Paulo, e para a chefia da polícia paulista, o antigo membro da Coluna Prestes, Miguel Costa. Desejosos de alijar do poder aqueles que por decênios comandaram o Estado e chefiaram a República, os tenentes intentam mudanças em todos os altos cargos da administração, reformulação do secretariado, além de medidas de censura à imprensa e de vigilância a clubes, entidades e associações. Fundamentalmente, pretendem controlar a condução dos negócios econômicos e políticos do governo.



Protestos



A essas pretensões não tardaram protestos veementes por parte da burguesia e da oligarquia paulistas, cujas cisões estão prestes a se dissolver, em nome da unidade de classe, ameaçada pelo adversário comum. Em clima de tensão crescente, Getúlio reorienta sua tática para aplacar os ânimos paulistas e substitui o interventor, colocando um civil local à testa do governo do Estado. Entretanto, a posse de Plínio Barreto foi impedida por resistências de integrantes da Legião Revolucionária, liderada por Miguel Costa. Sucedem-se a partir daí interventores estaduais, sem que contudo a estabilidade política seja garantida: Laudo Camargo, Manuel Rabelo e, finalmente, já em 1932, Pedro de Toledo.

A esta altura já se firmara um pacto político entre as principais facções políticas de oposição ao governo federal, o Partido Democrático e o Partido Republicano Paulista, solidificando-se assim uma "Frente Única", responsável pela série de acontecimentos importantes que teriam lugar em São Paulo.



Movimento Constitucionalista



Unida, a burguesia paulista centra sua campanha contra o governo provisório na convocação de uma Constituinte. "O governo provisório está provisório por tempo demasiado", fazem coro políticos, juristas, intelectuais, profissionais liberais, oficiais da Força Pública. Sob as bandeiras do civismo, do constitucionalismo e da paulistanidade toma corpo o movimento pela convocação de eleições para a Assembléia Constituinte, campanha que assume grandes proporções por meio da multiplicação de comícios e de manifestações públicas.

Como diz o historiador Holien Gonçalves Bezerra em seu livro O Jogo do Poder, a repressão aos movimentos operários garante a paz social propícia à defesa de ideais ""mais elevados"". "Com a liderança operária encarcerada, não se registram greves nem movimentos contestatórios a partir de junho. Prega-se a colaboração mútua, sem distinção de classes, para o bem de São Paulo."

Convergências operam-se. Perrepistas, cientes de que sua participação no poder dependia da reconstitucionalização, fazendeiros e burgueses arruinados pela crise econômica, militares humilhados da Força Pública passam a confluir para uma única palavra de ordem: contra os males da República Provisória só um remédio, as armas.

Entretanto, a oportunidade da luta armada não era uma unanimidade entre políticos do PD e do PRP. A marcha dos acontecimentos deixaria a muitos surpresos e compelidos a assumir posição frente ao movimento constitucionalista. Em maio, depois da morte de quatro manifestantes - Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo, o célebre MMDC - em conflito ocorrido em frente a sede da Legião Revolucionária, na praça da República, a tensão política chega ao ponto culminante.

Em julho, o general Bertoldo Klinger é deposto do comando do quartel-general em Mato Grosso. Getúlio envia novo comandante militar para São Paulo com o intuito de restabelecer a ordem e a autoridade, ao mesmo tempo em que descia de Mato Grosso à frente de 5 mil soldados o general Klinger disposto a formar fileiras com o exército constitucionalista. Os revoltosos se põem em prontidão e o general Euclides Figueiredo recebe ordens de assumir o comando do levante em São Paulo.

Após um comício, a Frente Única PRP/PD consegue, com o apoio do interventor Pedro de Toledo, depor as autoridades de confiança de Getúlio em São Paulo.

Desencadeava-se a Revolução Constitucionalista, em 9 de julho, através da proclamação de uma "Junta Revolucionária", assinada por Francisco Morato (do Partido Democrático), general Isidoro Dias Lopes, General Bertoldo Klinger, Pádua Sales (do PRP) e Pedro de Toledo. Como medida militar, o general Euclides Figueiredo apossa-se do comando da 2ª Região, determinado a prisão de Miguel Costa e outros oficiais que não aderiram ao movimento. No dia seguinte, Pedro de Toledo é aclamado presidente de São Paulo.

Apesar de todos os chamados ao povo paulista e às campanhas feitas mobilizar recursos, como a chamada "Ouro para São Paulo", o Estado não tinha condições militares para enfrentar as forças do governo federal. Os apoios de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul ficaram nas palavras. Com armamento e munições precários, a Força Pública acabou por assinar um tratado de paz em separado com o governo federal.



Resistência



Durante três meses os paulistas tentaram resistir ao avanço das tropas federais, comandadas por Góis Monteiro. Os esforços e o entusiasmo dos voluntários, no entanto, regrediram progressivamente até a capitulação final.

Ao fim dos conflitos, restaram as ruínas de uma mobilização que havia servido às aspirações das oligarquias locais. Para a classe média, que deu apoio entusiástico à causa da revolução constitucionalista, restou a frustração e o orgulho ferido. Quanto aos trabalhadores urbanos, que não chegaram a protagonizar nos episódios revolucionários, ficou a constatação de que aquela não era sua luta, e sim dos seus patrões do PRP, os mesmos que haviam esmagado, havia pouco tempo, uma greve de 200 mil trabalhadores na capital.

A derrota do movimento de 32 consolidou o poder de Getúlio Vargas, ainda que após alguns meses este acabasse por convocar a desejada assembléia constituinte. Figuram entre os eleitos representantes do PD e do PRP, vencidos na véspera, agora vencedores. Para a história, ficam os registros das disputas pela memória daqueles acontecimentos e seu significado.



Dados biográficos dos cinco heróis de 32



Mario Martins de Almeida



Nasceu em São Manuel (SP), em 8 de fevereiro de 1901. Era filho do coronel Juliano Martins de Alemida e de Francisca Alves de Almeida. Foi estudante do Mackenzie College, na capital, tendo terminado seu curso sob a direção do professor Alberto Kullmann. Martins era fazendeiro na cidade de Sertãozinho, estando naquele 23 de maio de 1932 de passagem na Capital, em visita aos pais. Seu corpo foi sepultado no Cemitério da Consolação.



Euclydes Bueno Miragaia



Miragaia nasceu em São José dos Campos (SP), em 21 de abril de 1911. Era filho de José Miragaia e Emilia Bueno Miragaia. Aluno da Escola de Comércio Carlos de Carvalho, foi transferido, no terceiro ano, para a Escola de Comércio Álvares Penteado. Quando faleceu, em 23 de maio de 1932, era auxiliar de cartório em São Paulo.



Drausio Marcondes de Souza



Nasceu na Capital, em 22 de setembro de 1917. Era filho do farmacêutico Manuel Octaviano Marcondes de Souza e de Otilia Moreira da Costa Marcondes. No tiroteio de 23 de maio de 1932, foi gravemente ferido, vindo a falecer, com apenas 14 anos de idade, em 28 de maio, tendo sido seu corpo sepultado no jazigo da família no Cemitério da Consolação.



Antonio Américo de Camargo Andrade



Nasceu na Capital em 3 de dezembro de 1901. Era filho de Nabor de Camargo Andrade e de Hermelinda Nogueira de Camargo. Foi casado com Inaiah Teixeira de Camargo, tendo deixado três filhos: Clesio, Yara e Hermelinda. Camargo era comerciário na capital quando morreu vitimado pelos tiros de 23 de maio de 1932.



Orlando de Oliveira Alvarenga



Alvarenga nasceu na cidade mineira de Muzambinho, em 18 de dezembro de 1899. Filho de Ozório Alvarenga e de Maria Oliveira Alvarenga, deixou viúva Annita do Val, com quem tinha um filho de nome Oscar. Ferido em 23 de maio de 1932, foi conduzido ao Hospital Santa Rita, onde faleceu no dia 12 de agosto, tendo sido sepultado no Cemitério São Paulo. Exercia, quando de sua morte, as funções de escrevente juramentado. Em sua memória, o governo do Estado de São Paulo oficializou, pelo Decreto 46.718, editado em 25 de abril de 2002, o Colar Cruz do Alvarenga e dos Heróis Anônimos.



Comemorado há mais de 70 anos, 9 de Julho só é feriado há 11



Embora os paulistas celebrem todos os anos a Revolução Constitucionalista, o dia 9 de Julho só passou a ser feriado estadual em 1997, com a promulgação da Lei 9.947/1997. Isto foi possível porque a Lei federal 9.093/1995, detetrminou, entre outros, que cada estado brasileiro teria uma data magna fixada por lei estadual.

alesp