Educação Física é tema de palestras na Assembléia Legislativa


26/08/2008 17:06

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Roberto Felício e Maria Izabel<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/08-2008/SEMINA EDUCA FISICA felicio e maria isabel ROB.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Deputado Felício, Maria Izabel (apeoesp), João Batista Tojal, José Guilmar Mariz de Oliveira<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/08-2008/SEMINA EDUCA FISICA MESA ROB.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Teve início na manhã desta terça-feira, 26/8, o seminário As Conquistas da Educação Física, realizado no auditório Franco Montoro da Assembléia Legislativa. Serão discutidos até o dia 28 de agosto diversos assuntos durante as palestras, que contarão com a presença de nomes importantes da área.

O deputado Roberto Felício (PT) abriu o seminário dizendo que aquele era um espaço importante para que os profissionais da área de educação física pudessem se reunir e discutir. "A educação física é tão importante quanto qalquer outra disciplina", ressaltou.

Um dos assuntos abordados durante o encontro da manhã foi a implementação das aulas de educação física para alunos do período noturno, que hoje não é obrigatória. "É primordial que seja colocada na grade da educação noturna essa matéria, pois esses estudantes necessitam da disciplina como os outros", falou Maria Izabel, presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).

O palestrante José Guilmar Mariz de Oliveira, diretor do Instituto de Cinesiologia Humana de São Paulo, abordou assuntos polêmicos em sua apresentação. Ele afirmou que a Educação Física nada tem a ver com esporte. "Elas são manifestações distintas. Enquanto uma evita a competição, a outra estimula", disse.

Segundo ele, o modelo atual da prática de educação física não está dando certo, e um dos motivos é o fato de as pessoas confundirem-na como uma prática de esporte ou lazer, e não uma educação dos movimentos do corpo.

Uma possível solução para o problema, de acordo com Oliveira, seria mudar a forma como as pessoas vêem a disciplina, a começar pelo seu nome, que deveria ser cinesiologia humana, ou seja, o estudo do movimento humano. "Somente com uma mudança na visão das pessoas sobre a educação física é que conseguiremos saber a real importância dela na vida dos alunos, nas escolas e, conseqüentemente, na qualidade de vida", afirmou.



História da Educação Física



Resgatando a história da educação física no Brasil, Ana Maria Cristina Arantes narrou como foram as primeiras aulas da disciplina ministradas no país. "Na Constituição de 1822, Dom Pedro I instituiu que a educação deveria ser estendida para todos os brasileiros proprietários". O Colégio Dom Pedro II, do Rio de Janeiro, foi o pioneiro a contratar um militar (professor específico) para ministrar aulas de ginástica. Os alunos faziam exercícios específicos para cada parte do corpo, inspirados nos modelos sueco e alemão. A atividade era vista como recreação.

Em São Paulo, a escola Rodrigues Alves, localizada entre a avenida Paulista e a rua Teixeira da Silva, foi a primeira a ter, em sua grade curricular, espaço para a educação física.

Já na década de 1930, fundou-se a escola para formação de professores: a Escola Militar da Praia Vermelha. A modalidade da época continuava a ser basicamente ginástica. Nesse período, já havia presença feminina. Para participar, elas deveriam ser bonitas e charmosas e os homens tinham de ser fortes e viris. Desde o início, os militares sempre estiveram presentes na história da educação física. Durante décadas, eles foram os professores.

Pensando em expandir um pouco mais a educação física e fugir do padrão europeu, Mário de Andrade propôs em 1935 a instalação de quatro a seis parques, que teriam atividades culturais, jogos e recreação, entre outros, para brasileiros e imigrantes. "Era uma idéia inovadora, porém, infelizmente, os parques não duraram muito", relatou Arantes.

A Lei 4024/61 incluiu a prática da educação física, com o Programa da Escola Primária de São Paulo. Dez anos mais tarde, houve um avanço, com a Lei 5692, que publicou uma listagem de modalidades esportiva e ginásticas para alunos da 1ª a 8ª série do primeiro grau.

A última lei, instituída em 1996, abarca todos os níveis escolares: ensino infantil, fundamental e médio. Ela também estabelece as cinco modalidades que devem (ou deveriam) ser trabalhadas ano após ano: dança, luta, ginástica, jogo e esporte. A regulamentação da educação física, que a transforma em disciplina, é uma forma de desvinculá-la do conceito inicial de recreação.



Ciência factual e social



O professor João Batista Tojal, coordenador da UniPiaget " Brasil, falou sobre o tema Trabalho e sociedade: a contribuição do profissional de educação física. Iniciou separando o conhecimento nas categorias de vulgar ou popular e científico. Segundo ele, as ciências formais, nas quais se incluiriam a lógica e a matemática, são ciências em que não se discute, tendo de ser aceitas sem críticas, e as factuais nascem dos fatos, nelas se incluindo as ciências naturais (física, química, biologia, entre outras), e as ciências sociais (antropologia, direito, economia, política, sociologia, etc). A educação física, enquanto ciência, surge dos fatos, portanto é uma ciência factual e, trabalhando com o conhecimento do ser humano e da sociedade, é social. Segundo Tojal, para atuar na área da educação física são necessários recursos humanos, que englobam desenvolvimento físico, capacitação técnica, espaços físicos, equipamentos e materiais. Destaca que a intervenção de um profissional do setor deve ser no sentido de prevenir, promover, proteger e reabilitar a saúde.

"Considerando que o ser humano é complexo, a educação física deve trabalhar capacidades, qualidades e possibilidades visando desenvolver cultura, na busca de preparar o indivíduo para conviver com toda a sua complexidade humana. Hoje, a pessoa é vista de forma integral, portanto deve-se trabalhar corpo, alma e desejo. O desejo é a parte principal e é ele que trabalho. O papel do profissional de educação física é proporcionar ao indivíduo uma vida melhor consigo mesmo e com a sociedade. Para isso é preciso identificar, diagnosticar, prescrever, planejar e avaliar. Ou seja, quem é o sujeito, o que ele deseja, o que fazer para obter o que quer e como fazê-lo, e depois refazer o diagnóstico", declarou.



Expectativas para a profissão



Tojal citou uma declaração do sociólogo italiano Domenico de Masi segundo a qual, a partir da segunda metade do século XXI, devido ao aumento populacional e desenvolvimento tecnológico, ocorrerá a diminuição da jornada de trabalho. Projetar e desenvolver atividades no período de tempo livre será tão importante quanto preparar as atividades a serem executadas nas horas de trabalho. Seguindo essa idéia, Tojal acredita que à educação física serão abertas oportunidades para a utilização do tempo livre dos trabalhadores.

"Espero que a interdisciplinaridade desenvolvida nos cursos de educação física proporcione ao profissional da área o domínio de conhecimentos, conceitos, procedimentos e técnicas sobre sociedade, saúde, pedagogia, psicologia, tecnologia, gestão e rendimento que envolvam a complexidade do ser humano. A disciplina educação física, além de todos os seus benefícios já bastante difundidos no processo de formação da cidadania e inclusão social, deve buscar conscientizar os jovens quanto à importância de uma vida ativa ao longo de suas existências, representando uma arma eficaz para a promoção da saúde, para o controle dos fatores de risco e como caminho para a melhoria da qualidade de vida",finalizou.



Desafios



Encerrando o seminário, a professora da USP Ana Lúcia Padrão dos Santos falou sobre os Desafios do ensino superior em educação física e apontou, entre esses desafios, o que se espera da universidade, de uma maneira geral, e de uma universidade de classe mundial, em especial. A professora chama a atenção para a influência da globalização nos negócios e na educação e, dentro desse novo paradigma, o surgimento da universidade de classe mundial, que teria a obrigação, entre outras, de promover o conhecimento e a capacidade de entender o que ocorre no país e no mundo. E questiona: "a educação física conta com esse tipo de estrutura na formação de seus profissionais? A resposta é não".

Além da falta de professores cuja formação tenha sido preparada para esse novo conceito " os professores que atuam hoje, em sua maioria, tiveram sua formação acadêmica em um currículo que abarcava todas as formas de atuação profissional " há sérias restrições na organização didática pedagógica e nas instalações físicas. A professora mostrou gráficos que refletem o cenário de carência das escolas superiores de educação física em que apenas uma instituição entre diversas avaliadas recebeu nota 5.

O seminário continuará nesta quarta-feira, 27/8, às 9h, com os seguintes temas: Avanços científicos em educação física; O componente educação física da educação básica nacional; Cultura e educação física; Inclusão ou exclusão " responsabilidades da educação física; e Esportes adaptados e terceira idade.

alesp