BOICOTE CANADENSE - OPINIÃO

Renato Simões*
19/02/2001 16:14

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Temos acompanhado, ao longo dos últimos meses, a escalada das agressões comerciais do Canadá contra o Brasil. Começou com a disputa pelo mercado de aviões de pequeno e médio porte, que envolveu a Embraer e a empresa canadense Bombardier. Agora o Canadá, em continuidade à defesa dos interesses das suas empresas, desencadeia uma campanha asquerosa contra a qualidade da pecuária brasileira, utilizando-se de informações que nunca foram confirmadas, qual seja, da possibilidade de entrada no Brasil de bovinos europeus que tivessem potencialmente contaminado nosso rebanho pela doença que se convencionou chamar "vaca louca".

O governo canadense, de forma unilateral, decide colocar em questionamento - e rompe - os contratos comerciais de compra de bovinos brasileiros. E mais: tenta fazer com que todo o bloco comercial estabelecido com os Estados Unidos e o México, o famoso Nafta, venha agora a acompanhar a posição do governo canadense.

A própria Secretária da Agricultura do governo norte-americano declarou que havia o compromisso de que o governo norte-americano seguiria o posicionamento do governo canadense, a quem ficou delegado, no âmbito Nafta, a avaliação do rebanho bovino brasileiro.

Ora, não podemos aceitar passivamente esse tipo de agressão, ainda mais porque o governo norte-americano vem constrangendo a diplomacia brasileira, contaminada pelos ventos neoliberais que marcam o atual momento econômico internacional, a aderir a essa malfadada idéia de uma Área de Livre Comércio das Américas - a Alca.

Vamos fazer parcerias com esses que nos agridem? Com esses que, defendendo os interesses internacionais, fazem com que a economia nacional brasileira padeça desse tipo de questionamento que há tantos anos vem sendo evitado pelo desenvolvimento das condições do nosso rebanho? É evidente que não podemos aceitar.

O representante da embaixada canadense disse que isso não tem nada de mais, que esse problema se deveu a um atraso no trâmite burocrático de papéis entre o Ministério da Agricultura brasileiro e as autoridades canadenses. Ora, são histórias da carochinha. A diplomacia canadense imagina que está tratando com lacaios de governos de terceira categoria.

De fato, o governo brasileiro tem-se mostrado altamente subserviente na sua política internacional, mas acreditamos que é chegada a hora de romper com essa paralisia das relações diplomáticas do Brasil com os países do hemisfério norte, particularmente com os países do Nafta.

Em abril acontecerá uma nova rodada de conversas sobre a antecipação dos acordos que devem dar início à Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

Esse tema foi amplamente debatido no Fórum Social Mundial em Porto Alegre, e há o compromisso de ampliar a resistência dos países latino-americanos a essa integração subordinada aos interesses norte-americanos.

Por isso, da mesma forma que nos solidarizamos com todos aqueles que nos vários países do mundo vêm resistindo a essa onda neoliberal, cobramos do governo brasileiro a defesa da nossa economia, a defesa da nossa agropecuária e, principalmente, da nossa soberania contra um ato irresponsável de ataque comercial do governo canadense.

*Renato Simões é deputado estadual prlo PT e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de São Paulo.

alesp