O retrato da mulher na visão poética

Acervo Artístico: Dia Internacional da Mulher
07/03/2005 16:02

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O retrato da mulher na visão poética de escultores

Um episódio trágico acontecido nos Estados Unidos em 1857 motivou a Assembléia Geral das Organizações das Nações Unidas (ONU) a decretar, em 1975, o dia 8 de março como Dia Internacional da Mulher. Foi naquele ano que, pela primeira vez, operárias de uma fábrica de tecidos em Nova York se uniram para reivindicar melhorias em suas condições de trabalho. A rebelião que foi contida de forma violenta, culminou com a morte de 129 tecelãs carbonizadas dentro da fábrica. A idéia de se criar uma data para homenagear essas operárias e marcar um dia de luta feminina surgiu em 1910.

Num gesto de solidariedade e homenagear carinhosamente a figura da mulher, reproduzimos nesta página uma poesia de Cecília Meireles e algumas obras do Acervo Artístico da Assembléia Legislativa que enfocam o tema.



Mulher ao Espelho

Cecília Meirelles

Hoje, que seja esta ou aquela,

pouco me importa.

Quero apenas parecer bela,

pois, seja qual for, estou morta.

Já fui loura, já fui morena,

Já fui Margarida e Beatriz,

Já fui Maria e Madalena.

Só não pude ser como quis.

Que mal faz, esta cor fingida

do meu cabelo, e do meu rosto,

se tudo é tinta: o mundo, a vida,

o contentamento, o desgosto?

Por fora, serei como queira,

a moda, que vai me matando.

Que me levem pele e caveira

ao nada, não me importa quando.

Mas quem viu, tão dilacerados,

olhos, braços e sonhos seus,

e morreu pelos seus pecados,

falará com Deus.

Falará, coberta de luzes,

do alto penteado ao rubro artelho.

Porque uns expiram sobre cruzes,

outros, buscando-se no espelho.

(do Livro "MAR ABSOLUTO", 1945).



Daisy Nasser: "Feminilidade"

A escultora traduz na matéria a sua calorosa e humana espontaneidade e a transforma numa realidade lírica e poética. Tensão e abandono poético se fundem em cada sua escultura, onde o elemento vivido se torna quase de sonho, entrevisto, isto é, além dos limites fugazes da aparência real.

Adina Worcman: "Vênus"

Felicidade e segurança no traço são virtudes que essa escultora possui em abundância e sabe utilizá-las. A artista não faz concessões à sua criatividade: constrói suas figuras com sobriedade e as enriquece transformando-as em corpos vivos, respirantes e móveis.

Belkiss Diniz: "Brasil 500 anos"

Artista com conhecimento de anatomia consegue ao mesmo tempo transmitir os anseios das nações indígenas por um Brasil cada vez melhor e integrado. Seu "metier" é um ato de amor para com a figura feminina.

Elizabeth Tudisco: "A Dama com máscara"

Plenitude das formas, sensualidade levada ao máximo, carregada de um orvalho como os brotos na primavera: é a imagem que se oferece ao primeiro olhar.

Gilda Prieto: "Mulher"

Escultora de instinto demonstra um temperamento e uma força expressiva fora do comum. Através de suas obras intuímos um lance vital sem inibições que se traduz em efeitos materializados no bronze e plasmados com força e firmeza.

Guita Lerner: "Quo Vadis?"

Embora fascinada e animada pelo mito da antigüidade, sabe com total domínio revelar o íntimo que emana de suas obras. Por outro lado infunde na matéria aquela tensão e aquela delicadeza que a imagem pretendida necessita.

Leya Terranova: "A Gorda"

Sem ser obrigada a respeitar a realidade fotográfica desenvolveu a sua tendência estética, obtendo o resultado espetacular. Particularmente vigorosa foi a disciplina que a guiou para modelar sua figura, porque vigorosos também são os sentimentos humanos pelo tema enfocado.

Roberto Crivellé: "Desencantos"

Suas composições esculturais revelam uma extraordinária habilidade na manipulação dos materiais e a capacidade de intuir as potencialidades existentes na seleção de cada peça. Como na melhor tradição "dadaísta" o espaçamento sistemático perseguido pelo escultor continua também na escolha dos títulos de suas obras.

Rosina D'Angina: "Mestiça"

Dotada de uma evidente nobreza das formas e despojada de qualquer academismo ela sabe imprimir uma vigorosa e profunda sensibilidade. Beleza de ritmos, seriedade de intenções, profundidade de estudo, poder de síntese e serenidade clássica constituem suas características.

Salazar: "Mãe Negra"

Seu instinto consegue modelar em chave moderna sensações e vultos de ontem e de hoje. Existe nesse artista uma habilidosa criatividade, um ritmo claro que se modula, sem inflexões literárias, com um corte sempre novo da composição.

alesp