Durante a abertura da 21ª audiência pública realizada na Câmara de São Carlos, nesta segunda-feira, 12/9, o vice-presidente da Comissão de Finanças e Orçamento, Enio Tatto (PT) afirmou que é a primeira vez em 170 anos que o Poder Legislativo estadual toma a iniciativa de ir ao interior do Estado para ouvir as sugestões ao orçamento estadual (em pauta o de 2006).Segundo Tatto, os representantes da sociedade civil têm prioridade para fazer os pronunciamentos. "A participação também pode se dar por meio de formulários que serão cadastrados por técnicos da Assembléia."O prefeito de São Carlos, Newton Lima, lembrou que o município já está habituado à prática do orçamento participativo: "É bom saber que o mesmo procedimento está sendo difundido no Estado." O prefeito apresentou trechos do documento elaborado na última Marcha dos Prefeitos, destacando as dificuldades da Saúde. "Apenas a participação da União na manutenção do SUS não tem sido suficiente para custear a saúde pública." Segundo Lima, a Santa Casa de São Carlos atende cerca de seis municípios e recorre à prefeitura para cobrir seus custos. "É preciso que o Estado também dê a contrapartida do financiamento."A presidente da Câmara Municipal de São Carlos, Diana Cury, disse que a descentralização de decisões é o maior anseio daqueles que apóiam a democracia. "Meu único apelo é pela derrubada do veto às emendas da LDO, porque a Educação merece atenção", afirmou Cury.Reivindicações diversificadasNa audiência, os primeiros pronunciamentos foram feitos por vereadores da câmara local. João Muller pleiteou o recapeamento da vicinal Abel Teruggi, utilizada para escoamento da produção agrícola, sobretudo, de usinas de álcool, entre os distritos de Água Vermelha e de Santa Eudóxia. O representante também pediu melhoria na frota municipal de caminhões e tratores.A implementação de convênio com o Iamspe foi solicitada pelo terceiro vereador de São Carlos a falar, José Pinheiro. Ele enfatizou a necessidade de se construir uma estação elevatória de tratamento de esgoto, com orçamento previsto de R$ 1,3 milhões, para a despoluição do rio Mogi-Guaçu. Pinheiro também requisitou a conclusão da rodovia Guilherme Scatena.Rubens Maciel abordou o problema da segurança pública. Ele pediu reforma da estrutura interna dos prédios que abrigam serviços das polícias Civil e Militar. Também reivindicou viaturas para o destacamento do Corpo de Bombeiros de São Carlos.Secretários apresentam sugestões O secretário municipal de Fazenda de São Carlos, Gilberto Perre reforçou a questão da Saúde, apontando que o fornecimento de medicamentos, por parte do Estado, tem sido obtido constantemente mediante decisões judiciais. "Não é diferente com o repasse para o transporte escolar, também de competência estadual. O mesmo não tem sido feito, e o município tem arcado com o custo de R$ 2 milhões."O secretário municipal de Agricultura de São Carlos, Sergio Gonçalves, apontou uma série de dificuldades vividas em seu município. Disse que a produção de leite passa por uma crise e precisa de incentivos, destacou que não foi implantado em São Carlos o Programa Melhor Caminho, assim como as pontes metálicas solicitadas pela cidade. O secretário afirmou que o governador vincula o orçamento às suas relações pessoais com os prefeitos.Gonçalves pediu a conclusão da ligação entre São Carlos e Descalvado e também infra-estrutura para agricultura familiar.Marcelo de Paula, secretário municipal de Saúde, se restringiu a três solicitações: a participação do Estado no extra-teto dos gastos de saúde, a contrapartida no financiamento de atendimento de alta e média complexidade e a reposição de funcionários. O secretário justificou os pedidos exemplificando que enquanto o município pagou R$ 1,6 milhão nos procedimentos de cateterismo, o Estado cobriu apenas R$ 600 mil, e que muitos servidores estão sendo aposentados sem que outros sejam contratados.A vereadora Diana Cury apontou a ausência do Estado em serviços de sua competência: "Cada vereador tem direito a indicar os segmentos que precisam de recursos no limite de até 1,5% do orçamento municipal. Saibam que a maioria dessas indicações foi para equipar a polícia científica e as escolas estaduais."Opinião dos deputadosEstiveram presentes à audiência de São Carlos os deputados Edmir Chedid (PFL), relator do orçamento, José Zico Prado (PT) e Mário Reali (PT). José Zico Prado disse que a omissão do governo estadual ao longo dos últimos anos é clara. "Por isso, a comunidade tem o direito e, agora, a oportunidade de dizer onde aplicar o dinheiro público, pois o governador não pode seguir investindo os recursos como bem entende".Para Mário Reali o orçamento é mal aplicado: "É fundamental que os recursos sejam perenes e não fiquem à mercê da vontade do governador". O deputado disse que as santas casas não podem sobreviver mediante esmolas, precisam de uma destinação estabelecida. "Com a iniciativa da CFO, o orçamento será uma peça real de planejamento dos investimentos do Estado."O relator do orçamento, Edmir Chedid, afirmou: "Até então, a Assembléia sempre votava o orçamento sem acolher emendas regionalizadas, mas percebemos que esse não é o procedimento correto. O ideal é descentralizar a máquina administrativa com atendimentos regionalizados".Chedid destacou que num universo de R$ 70 bilhões (total do orçamento paulista) basta a vontade política para investir um pouco mais em cada região do Estado. "São Paulo não pode seguir perdendo know how para outros estados. É preciso que o governador avance nas reduções de alíquotas de ICMS e que aperte a fiscalização contra os sonegadores."