A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) constituída pela Assembléia Legislativa para investigar a guerra fiscal entre os Estados ouviu nesta quarta-feira, 14/2, o promotor da 9ª Promotoria Criminal de Cuiabá (MT), Mauro Zaque de Jesus.Após explicar a operação ilegal de empresas de fachada que usavam notas fiscais clonadas para exportação de soja, causando um prejuízo em torno de R$ 2 bilhões aos cofres públicos do Estado de São Paulo, Zaque concluiu que "deve haver pessoas dentro da administração pública que facilitavam o trâmite das notas falsas". E ponderou: "Não há organização criminosa sem a presença do agente público". Desses R$ 2 bilhões, R$ 500 milhões já retornaram aos cofres da Fazenda estadual.Ainda segundo informações trazidas por ele, empresas de grande porte participaram do esquema. Entre outras, citou o Grupo Pão de Açúcar, Bombril, Arroz Tio João, Tubos e Conexões Tigre e Pernambucanas. "Pessoas apresentavam-se a essas empresas como consultoras, mas, na verdade, integravam uma organização criminosa, um esquema que começou com certa simplicidade e, depois, foi se aprimorando, inclusive agregando valor à fraude", observou, Para o promotor, trata-se de "um tipo de esquema criminoso que favorece a operação de lavagem de dinheiro vindo do roubo de carga, do tráfico de drogas etc."."Estamos diante de um fato muito grave e claríssimo de corrupção. E não só de evasão fiscal, mas também de lavagem de dinheiro, sendo necessário frisar que as empresas citadas são todas de grande porte", observou o relator da CPI, deputado Edmir Chedid (PFL), que sugeriu que a comissão deve decidir pela quebra dos sigilos bancário e fiscal das empresas e consultorias envolvidas. "Muitas vezes, os créditos a serem arrecadados não são nada diante do que está por trás de tudo isso", arrematou.O presidente da comissão, deputado Roberto Morais (PPS), aproveitou para citar outros ramos em que já se constatou a evasão de divisas. "Só na área do fumo foram R$ 5 bilhões. Há outros indícios na indústria de refrigerantes, cervejas, frigoríficos e comércio varejista", relatou.Como sugestão do promotor, a CPI aprovou o requerimento para convidar, entre outros, os fiscais Antônio Carlos Moura Campos, da Secretaria da Fazenda de São Paulo, e Edna Negrini, da Secretaria da Fazenda de Mato Grosso. Segundo ele, são profissionais que participaram da operação desde o seu início e, se ouvidos, muito contribuirão com os trabalhos da comissão.