Através da "Art brut", Fernando Nascimento escapa do condicionamento cultural e social

Emanuel von Lauenstein Massarani
02/07/2003 17:43

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Fernando Nascimento<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/Fernando Nascimento.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Obra   A multiplicação dos pães e dos peixes<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/FNasc.Multiplicacao paes pe.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

¨L' Art brut¨ nada mais é do que a visualização de uma cultura marginal ou anticultura que se manifesta através de múltiplos comportamentos, de ritos cotidianos e de produtos nem sempre próximos aos esquemas da sistemática oficial da expressão. Os protagonistas dessa linha escrevem ou pintam na solidão, por um prazer pessoal ou para um público não estereotipado culturalmente, sobretudo através de interlocutores imaginários.

Eles alteram as normas da língua escrita numa miscelânea com aquela falada e com uma terceira língua, ela mesma transgressivamente inventada, violando as convenções comunicativas sentidas como condições repressivas. Assim é a pintura de Fernando Nascimento, um jovem autodidata que se interessa sobretudo em interpretar, à sua maneira, fatos bíblicos nos quais muitas vezes conserva ou faz reaparecer elementos visuais que ultrapassam a escritura conforme uma interdependência entre imagem e traço.

Na definição de Michel Thevoz, conservador-chefe do Museu de Lausanne: ¨L' Art brut¨ é também a arte praticada por pessoas que, por uma razão ou outra, escaparam ao condicionamento cultural e ao conformismo social. Esses autores produzem por eles próprios, fora dos sistemas das belas artes (escolas, galerias, museus), obras que se originam de seu próprio interior, altamente originais por sua concepção, seus temas, seus procedimentos de execução e sem nenhuma ligação ao modismo e à "tradição".

¨A pintura é a arte das cores e dos traços. Os traços exprimem a força, a vontade, a idéia. As cores a magia. Dizemos traços e não sonhos ¨ - essa afirmação, quase banal, foi feita nos idos de 1937 pelo pintor italiano Osvaldo Licini, considerado um caso raro, na arte peninsular, de um artista cujos os traços se transformavam em sonhos. A última frase, a nosso ver, dá idéia de ser um exemplo de negação freudiana.

Fernando Nascimento nos convida a uma viagem no seu ¨longínquo interior¨, de onde não saberíamos voltar sem sermos envolvidos. Sua criação artística é particularmente imaginativa e de intenso cromatismo.

A obra ¨ A multiplicação dos pães e dos peixes ¨, doada ao Acervo Artístico do palácio 9 de Julho, se apresenta como um eloqüente exemplo desse ritual de escrever ou pintar, muitas vezes em contraposição com os sistemas lingüísticos ou artísticos comumente praticados.

O Artista



Fernando Nascimento, pseudônimo artístico de Fernando do Nascimento Pereira, nasceu em São Paulo em 1977. Autodidata, pinta desde 1998 tanto tinta a óleo sobre tela quanto sobre papel.

A convite do Deputado Miguel Colassuono realizou sua primeira exposição em 1999, na Biblioteca Municipal Francisco Patti, em São Paulo, com curadoria do professor Eric Júnior.

Participou ainda de exposições no Espaço Sattis e na Galeria Mosaico (2000); Centro Fragme e "A Arte de Amar" no Espaço Cultural do Shopping Interlar, em Interlagos (2001); Espaço Mathias (2001 e 2002).

Convidado pelo maestro Paulo Muniz, realizou a capa do CD "Banana Creola", enquanto que o Centro Cultural de Interlagos o convidou para expor e participar da realização do projeto "Céus".

alesp