Geólogo e empresário falam sobre o acidente da linha 4 do Metrô


01/03/2007 21:21

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Leonidas Alvarez Neto, engenheiro e proprietário da empresa JBA Engenharia e Consultoria<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/Metro-Ze-Leonidas Neto (4).jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Osvaldo Souza Sampaio, geólogo e testemunha do desmoronamento das obras da futura estação Pinheiros<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/Metro-Ze-osvaldo sampaio (6).jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

O geólogo Osvaldo Souza Sampaio, que testemunhou o desmoronamento das obras da futura estação Pinheiros, disse à comissão de representação que investiga o acidente da linha 4 do Metrô não ter notado sinais anteriores que apontassem risco de desabamento. Os deslocamentos do túnel e do solo, segundo ele, estavam dentro dos níveis considerados normais para esse tipo de obra.

Sampaio é assistente técnico da obra do Consórcio Via Amarela. Ao depor nesta quinta-feira, 1º/3, na Assembléia, ele afirmou que o alerta para evacuação aconteceu de forma atabalhoada, depois de se ouvir um estalo. Nesse momento, houve gritos dando ordem de abandonar o poço e o túnel, e todos saíram o mais rápido possível.

Para o geólogo, o maciço era conhecido e havia estudos geológicos confiáveis. No dia 8/1, Sampaio observou comportamento diferente do maciço, mas dentro das movimentações consideradas previsíveis e normais. No dia seguinte, propôs ao Consórcio Via Amarela que fizesse reunião com a empresa projetista para avaliar se alguma providência deveria ser tomada.

Qualidade do concreto

A probabilidade de problemas com a qualidade do concreto terem ocasionado o acidente na estação Pinheiros do Metrô foi praticamente descartada pelo engenheiro Leonidas Alvarez Neto, proprietário da empresa JBA Engenharia e Consultoria, que presta assessoria ao serviço de controle de resistência de concreto realizado pelo Consórcio Via Amarela. "As não-conformidades encontradas nas obras estão dentro das estatísticas, e todas foram notificadas ao consórcio para a correção dos problemas", disse o empresário aos membros da comissão.

Alvarez informou que, especificamente no trecho onde ocorreu o acidente, não foi indicada a necessidade de nenhuma correção. "Estatisticamente, nós teríamos de ter encontrado alguma amostra abaixo dos valores especificados, mas ainda não achamos nada", relatou, considerando que, por isso, a probabilidade de a concretagem ter influído no desabamento é "quase zero".

O proprietário da JBA afirmou que a sua empresa é a única do país acreditada junto ao Inmetro, mas que os ensaios eram realizados no laboratório do consórcio, que, embora sem a certificação do instituto, segue todas as suas especificações. "Eles têm pessoal treinado e equipamentos aferidos". Dos 80 funcionários da JBA, a empresa de consultoria disponibiliza dois engenheiros, além do acompanhamento de Alvarez.

O modelo de contrato turn key, segundo o engenheiro, é indiferente no que tange ao controle de qualidade, que é "inegociável", já que tem de seguir as normas da ABNT. "Cada modelo de contrato tem vantagens e desvantagens apenas quanto à administração e aos mecanismos de aferição. Não há qualquer interferência nos relatórios que nós elaboramos. Não se mexe um uma linha", assegurou.

Alvarez considerou injustas as especulações de que a pressa na conclusão das obras tenham afrouxado os parâmetros de segurança e provocado o acidente, mas, como todos os entrevistados pela comissão, não se considerou apto a dizer quais foram as causas do desmoronamento. "Os conhecimentos geológicos e geotécnicos são muito precisos. Gostaria de saber o que aconteceu, até para dormir em paz."

Nivaldo Santana (PCdoB) perguntou ao depoente se a substituição do método de escavação Shield pelo NATM traria ganho de tempo, economia no custo geral da obra ou redução da quantidade necessária de concreto, já que este é o insumo mais oneroso no projeto. Alvarez afirmou que a resposta às indagações do deputado envolve cálculos com muitas variáveis. "Além do método construtivo, o tipo de solo, os lençóis freáticos, a profundidade e a geometria dos túneis interferem na quantidade de concreto. É preciso um estudo caso a caso." A suposição levantada por Santana de que escolha do NATM tenha se dado para acelerar o cronograma, já que permite a abertura de várias frentes, também foi relativizada pelo depoente: "Poderia ser utilizado mais de um shield".

Quando Santana lembrou do desabamento do edifício Palace II, construído pelo ex-deputado federal Sérgio Naya, Alvarez afirmou que a comparação havia sido muito agressiva e injusta, já que se tratava "do problema de materiais mais grotesco já ocorrido no país".

Álvares garantiu que não foi utilizado material de má qualidade, que todos os ensaios realizados estavam dentro das estatísticas e que não houve nenhuma não-conformidade que pudesse ter causado o acidente. "Se houvesse, teria sido disparado um alarme por nós mesmos", assegurou. "As obras da linha 4 envolveram um elenco gigantesco de técnicos que estudaram a região. Há condições de apurar as causas do acidente e espero que as entidades envolvidas cheguem a um parecer lógico."

Durante a reunião, os deputados que integram a comissão aprovaram convite ao engenheiro José Maria Aragão, que supervisionava a obra quando ocorreu o acidente. Na próxima terça-feira, 5/3, a comissão de representação ouvirá o ex-presidente do Metrô Luiz Carlos David. A oitiva do diretor do Consórcio Via Amarela Fábio Andreani Gandolfo está prevista para o mesmo dia, mas poderá ser adiada para quarta-feira, a pedido do deputado João Caramez (PSDB). Dada a importância dos convidados, o deputado pediu que se reserve mais tempo para a oitiva de cada um.

alesp