Opinião - Drogas, um caminho sem volta?


28/07/2011 15:20

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"Era uma questão de tempo", disse Janis Winehouse, mãe da cantora Amy Winehouse, sobre a morte da filha que ocorreu no sábado, 23/7. A causa da morte ainda é desconhecida, mas a imprensa britânica acredita na hipótese de overdose de drogas e álcool, suposição que não é novidade pelo seu histórico.

Amy morreu jovem, aos 27 anos, mas sua trajetória e drama pessoal eram de conhecimento público e preocupavam todos à sua volta. Segundo o jornal Sunday Mirror, Amy comprou cocaína, heroína, ecstasy e ketamina (droga usada via oral para fins de anestesia) na noite de sexta-feira. Nos últimos dias, a cantora também teria sido vista bebendo vodca descontroladamente. Um vizinho da artista disse ter ouvido gritos de dentro da casa da cantora, mas declarou com naturalidade que brincou com o filho dizendo a ele que talvez ela estivesse usando drogas.

A naturalidade e ironia com que falou o vizinho da jovem cantora assustam, já que o que ela vivia era a tragédia que cerca a vida dos viciados em drogas. Amy foi o retrato fiel da vida de tantos outros que buscaram nas drogas o "algo mais" que não encontravam. Hoje, existem jovens morrendo aos poucos e seguindo o caminho da cantora e que, como ela, busca novas emoções e sensações ou mesmo um escape para uma vida difícil. Existem centenas de Amy por todo o Brasil, são homens e mulheres consumidos por este verdadeiro câncer chamado drogas.

Amy, assim como tantas outras pessoas, começou usando maconha, mas logo passou para drogas mais fortes. O pai de Amy, Mitch Winehouse, um senhor de 59 anos, disse: "Não sou desses que acreditam que a maconha é porta de entrada para outras drogas, mas com a Amy aconteceu isso". O comentário exibido no documentário Minha Filha Amy Winehouse, do canal Multishow e narrado por ele mesmo antes da morte da cantora, mostra como a maconha pode ser devastadora.

Muito próximo de nós deputados, a exatos 2 km de distância da Assembleia Legislativa do Estado fica a Cracolândia, área localizada no centro da cidade em que jovens e até mesmo crianças utilizam o crack nas ruas. Entristece ver esses jovens rumo ao um caminho que provavelmente não terá volta e será curto. Assim como a famosa cantora, essas pessoas perderam o controle de suas próprias vidas e são consumidas pelo vicio.

Superexposta, a diva se transformou numa figura precocemente envelhecida, trôpega e dominada por seus vícios. A diferença entre Amy e outros milhares de jovens que sofrem com o mesmo problema está na repercussão de sua imagem, já que a decadência da artista foi vista pelo público como um reality show macabro e dramático. O ator Russel Brand, que conhecia Amy e também teve problemas para deixar a heroína, publicou uma nota que diz que os meios de comunicação estão mais interessados em tragédias e que os viciados não são criminosos, mas, sim, doentes.

Na verdade ninguém se surpreendeu com a morte de Amy Winehouse. A tragédia que se desenrolou em frente aos olhos de milhares de pessoas do mundo todo era quase anunciada, assim como a desses jovens da cracolância. Infelizmente, a vida da cantora era satirizada e exposta como um show de horrores engraçado, mas era a realidade de alguém que se perdeu. Até mesmo um site prometia dar um Ipod à pessoa que acertasse a data da morte da cantora. Não há como achar graça nisso, pois essa foi à história de alguém que se matou aos poucos.

Com a morte de Winehouse, mais uma entra para a lista de grandes nomes que morreram com esta exata idade, o "clube dos 27" conta com Kurt Cobain, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Jim Morrison e Brian Jones, todos com o histórico de abuso de drogas e álcool.

Pessoas como Amy precisam ser respeitadas e tratadas, pois como uma doença terminal, o vício pode destruir a vida de alguém em pouco tempo. É importante que o poder público combata as drogas desde a sua raiz, com uma política de mapeamento de zonas de tráfico e com o tratamento do viciado. É hora de acabar com este mal.



*Gilmaci Santos é deputado estadual pelo PRB e presidente estadual do partido.

alesp