Otaciano: um escultor autenticamente primitivo e de sentimentos míticos

Emanuel von Lauenstein Massarani
16/12/2003 14:00

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Obra Moisés<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/Otaciano Moises.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Otaciano <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/OTACIANO .jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A extrema facilidade com a qual Otaciano se exprime esculpindo ou entalhando a madeira, satisfazendo uma sua exigência "de criar com segurança na humildade", deve-se, provavelvente, à intensidade com a qual sabe olhar no fundo de seu espírito primitivo sem se deixar arrastar aos entusiastas apelos e efeitos clássicos.

Possui uma riqueza de sentidos que pode orientar os personagens de suas esculturas onde desejar, mas não se submetendo a condicionamentos virtuosísticos que não são de sua índole, nem de sua natureza. A autenticidade de como o artista se exprime está envolvida, portanto, com sentimentos heróicos e míticos, a que sempre acreditou de maneira irreversível.

Otaciano não se serve de modelos históricos ou de esquemas contidos em exemplares arqueológicos. Trata-se indubitavelmente de uma observação frente aos arquétipos, uma individualização dos elementos puros, uma observância dos cânones tradicionais que tendem a desgastar, incidir e gravar na matéria bruta até obter formas reais, figuras humanas, acrescentando-lhes um hálito de espiritualidade.

Em certas obras, a fisionomia de seus personagens, supera a dramaticidade ou a postura pacífica para alcançar uma solução irônica, quase crítica ou grotesca. Uma inconsciente raiz surrealista aparece ao fundo do processo criativo, do qual toma força e se desenvolve a singular fantasia desse artista autenticamente primitivo.

No caso da obra "Moisés", doada ao Acervo Artístico do Palácio 9 de Julho, o artista batizou-a com muita perspicácia de "patrono do Legislativo", numa clara e evidente alusão de que as primeiras leis foram por Ele introduzidas através das tábuas que trouxera ao descer do Monte Sinai.

O Artista

Escultor autodidata e poeta, Otaciano Alves dos Santos nasceu em Valparaíso, interior do Estado de São Paulo, em 1932. Seu primeiro trabalho foi realizado em 1944. Mudou-se para Pereira Barreto em 1962. Exerceu anteriormente as funções de: ajudante de tropeiro, retireiro, condutor de boi, carreiro e carpinteiro. Dotado de uma habilidade invejável, esculpiu cerca de uma centena de obras ao longo de sua vida, trabalhando com tipos de madeira os mais variados. Faz parte da Academia de Letras de Pereira Barreto.

Participou de inúmeras exposições, destacando-se entre elas: 1º Fiap, Pereira Barreto (1973); 1º ExpoArtes Ilha Solteira (1974); 1º Expinte Andradina (1975); Casa Cultura de Araçatuba (1976); Nacional de Alta Noroeste, Penapolis (1980); Arte na Praça, Penapolis (1982); 2º e 5º Salão de Matão (1984 e 1987); Espaço Cultural do Banco do Brasil, Pereira Barreto (1988, 2002 e 2003); Espaço Cultural da Caixa Econômica Federal, Pereira Barreto (1989); 1º e 2º EXAV, Vinhedo (1994 e 1995); Bienal de Santos (1994); Mapa Cultural Pereira Barreto (1998, 1999 e 2000); 1ª Mostra Brasil; 1ª Mostra AIBA e "Festas Juninas", Ilha Solteira e "Primaveril", Pereira Barreto (2003).

Recebeu diversos prêmios ao longo de sua carreira, destacando-se entre elas: Medalha de Bronze no Salão Nacional, Penapolis, SP (1980) e Medalha de Ouro no 1º EXAV, Vinhedo (1994). Possui obras em diversas coleções, notadamente no Acervo Artístico da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.

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