Ex-administrador da galeria Pajé nega irregularidades em contratos


05/12/2003 20:48

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CPI federal da Pirataria aprofunda investigação da Galeria Pajé<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/CPI Pirataria.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

DA REDAÇÃO

Afastado por determinação judicial, há cerca de um ano, da direção da empresa Kher Empreendimentos, que administra a galeria Pajé, Ricardo Kherlakian considerou "fantasiosas" as denúncias feitas por seu irmão Reinaldo de que a 80% dos contratos de locação das lojas da galeria seriam irregulares.

Os dois irmãos foram ouvidos pela CPI Federal da Pirataria - Reinaldo anteriormente, em Brasília, e Ricardo na manhã desta sexta-feira, 5/12, na Assembléia Legislativa. Segundo o deputado Luís Antônio Medeiros (PL/SP), a comissão, que é presidida por ele, deve fazer uma acareação entre Reinaldo e Ricardo.



CPI federal da Pirataria aprofunda investigação da Galeria Pajé

Ricardo Kherlakian, ex-administrador da Galeria Pajé, disse ter apresentado requerimento de inquérito policial contra o irmão, que denunciou irregularidades nos contratos de locação das lojas. Segundo ele, Reinaldo Kherlakian teria comprado imóvel em Miami e carros importados, gastos incompatíveis com os rendimentos que declara. Do requerimento consta o pedido de quebra de sigilo bancário e fiscal de Reinaldo. Distribuído para a 7ª Vara da Justiça Federal, da qual é titular o juiz Ali Mazloum, o pedido, de acordo com Ricardo, demorou a ser apreciado e acabou por ser negado. Ricardo apresentou petição ao juiz pedindo reconsideração da decisão.

"Eu também busco, na Justiça, as informações que os senhores querem, sobre a forma como a galeria Pajé tem sido administrada", disse Ricardo. Ele contou que começou a auxiliar seu pai na Kher Empreendimentos, síndica da galeria Pajé, em 1974. Todos os contratos, no período em que esteve na empresa, eram feitos de forma regular, afirmou. Disse, ainda, que se dedicava exclusivamente à locação das unidades do edifício - que podem ser sublocadas - para justificar o fato de desconhecer que o contrabandista Roberto Eleutério da Silva, o Lobão, atualmente preso, mantinha escritório na Pajé.

Deputados apontaram pontos em comum entre a galeria Pajé e Lobão, durante o depoimento de Ricardo. Entre eles, o fato de a empresa Requer, que faz a segurança da galeria, ser a mesma que prestava serviços ao contrabandista.

Lobão e a Kher Empreendimentos também têm em comum a contratação do advogado Francisco Ceres Capaticcio. "Ele foi contratado por meu irmão, e não vejo necessidade de a empresa ter um advogado desse naipe", disse Ricardo.

O depoente disse ter conhecido Lobão há cerca de 20 anos, quando este demonstrou interesse na compra de lojas da galeria que estavam à venda. O negócio, na ocasião, não teria se consumado. A Kher Empreendimentos, segundo Ricardo, é co-proprietária de 24% das cerca de 220 unidades na galeria Pajé. Ele afirmou, ainda, que o chinês naturalizado brasileiro Law Kim Chong, considerado pela polícia o maior contrabandista do país, "é dono de cinco ou seis unidades na galeria".

Operação Cacique

Antes do depoimento de Ricardo Kherlakian, a CPI ouviu o diretor do Departamento do Crime Organizado (Deic), delegado Godofredo Bittencourt. Ele traçou um quadro da Operação Cacique, que reuniu cerca de 200 policiais civis e 360 fiscais da Secretaria da Fazenda para a apreensão de mercadorias irregulares na galeria Pajé.

A operação, que deve estender-se até amanhã, já tem como saldo o confisco de mais de 800 mil peças sem documentação fiscal - elas lotaram 40 caminhões - e a abertura de 150 inquéritos policiais. "Foi derrubada uma parede falsa que escondia cerca de 500 toca-fitas roubados", informou Bittencourt.

O diretor do Deic afirmou que "só a junção de diversos órgãos pode obter sucesso no combate ao contrabando". Esse seria o caminho para vencer o desafio que o comércio ilegal significa e que tem na galeria Pajé uma espécie de ícone, em São Paulo. "Ali existe uma verdadeira zona franca que pertence ao crime organizado", resumiu o deputado Luís Antônio Medeiros.

alesp