Reitor da Unicamp vê limitações na política de cotas nas universidades públicas


19/05/2004 21:17

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Carlos Henrique de Brito Cruz, reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/COm Cien brito cruz  Beto.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

DA REDAÇÃO

O reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Carlos Henrique de Brito Cruz, esteve na Assembléia Legislativa nesta quarta-feira, 19/5, a convite da Comissão de Cultura, Ciência e Tecnologia, presidida pelo deputado Jonas Donizette (PSB), para apresentar os trabalhos desenvolvidos por aquela instituição de ensino.

Como não poderia ser diferente, os parlamentares que integram a comissão quiseram saber qual a opinião do reitor sobre o anúncio do Ministério da Educação do estabelecimento de cotas nas universidades públicas para alunos egressos de escolas públicas.

Brito Cruz disse que o assunto quotas tem obscurecido a questão da inclusão no ensino superior. Segundo ele, a maneira de enfrentar o desafio da inclusão deve ser diferenciada em cada setor, e de acordo com as finalidades de cada instituição. "Há possibilidades de desenvolver políticas afirmativas que não sejam exclusivamente as políticas de cotas. Nas universidades, a preparação e a capacidade são muito importantes. Não é possível obrigar por lei que os estudantes que ingressem na universidade sejam deste ou daquele tipo", disse.

A inclusão de categorias menos favorecidas nas universidades dependem, na ótica de Brito Cruz, muito mais de desenvolvimentos estruturais que efetivem melhores condições de ensino nos níveis fundamental e médio.

O reitor defendeu modelo desenvolvido pela universidade de Campinas que, segundo ele, combina autonomia universitária, valor acadêmico e inclusão. Neste último item, a Unicamp oferece isenção aos alunos de baixa renda na taxa de inscrição do vestibular. Segundo Brito Cruz, existe uma mitologia relativa ao perfil sócio-econômico dos alunos da Unicamp. O vestibular, diz ele, não demonstra ser sensível à cor ou ao nível de renda de seus candidatos. Isto estaria demonstrado nos dados que revelam que 60% dos matriculados nos cursos da universidade têm renda individual inferior a 3 salários mínimos. Já os estudantes oriundos de escolas públicas representam 30% do corpo discente daquela universidade.

Limitações

Considerando que nas universidades federais os egressos de escolas de públicas somam aproximadamente 42% dos alunos, a reserva de 50% vai significar um acréscimo de 8% desse contingente específico. Entretanto, o reitor da Unicamp avalia que as cotas em si têm limitações em relação às garantias para a permanência desses estudantes nas universidades. Seriam, portanto, mais adequado desenvolver programas de investimentos que visassem à permanência dos alunos de baixa renda no ensino superior.

Outra sugestão de Brito Cruz é estender às universidades públicas as isenções referentes ao INSS, que beneficiam apenas as instituições filantrópicas. A Unicamp, por exemplo, recolhe ao INSS R$25 milhões por ano, recurso que poderia ser direcionado para ampliação do ensino e da pesquisa.

Entre os esforços para a expansão de vagas do ensino superior público, Brito cruz reputou inteligente o recurso às suplementações de verbas para desenvolver programas pontuais, como é o caso do Programa de Expansão de Vagas, que resultaram na criação de 360 novas vagas na Unicamp. Os recursos foram aprovados pela Assembléia Legislativa, a partir de proposta elaborada em conjunto pelas três universidades estaduais e governo do Estado. Essa suplementação permitiu à Unicamp construir novas instalações do Ciclo Básico, anfiteatros, salas-de-aula equipadas com ar condicionado, sistemas de som e multimídia e telas retráteis. As novas instalações podem ser consideradas entre as melhores do mundo, conforme avaliação do reitor.

Excelência em pesquisa

Centro de excelência em pesquisa científica e tecnológica, a Unicamp responde por quase 20% da produção científica do país. É a instituição acadêmica com maior número de registro de patentes de invenções e o quarto maior patenteador do Brasil, quando comparada junto com as indústrias do país. Da ação de seus alunos e professores resultou a criação de 90 empresas, das quais se destacam as de tecnologia de comunicação óptica. No entorno da universidade instalaram-se empresas de tecnologia de ponta, transformando assim a cidade de Campinas em um dos principais pólos de tecnologia.

A instituição tem hoje 28 mil alunos, 14 mil em cursos de pós-graduação, 1.800 professores, 93% deles com doutorado, o que representa uma proporção de 18 alunos por docente. Desde 1987, as vagas da universidade duplicaram, enquanto o número de funcionários e de professores se reduziu proporcionalmente. Essa situação agravou-se ainda mais com a corrida de professores à aposentadoria, por conta dos receios causados com a reforma da Previdência.

O reitor Carlos Henrique Brito Cruz respondeu as perguntas dos deputados Simão Pedro (PT), Paulo Neme (PTB), Nivaldo Santana (PCdoB) e Célia Leão (PSDB), esclarecendo o funcionamento de programas da universidade, como o de criação de um centro de extensão na cidade de Limeira. Em resposta ao deputado Nivaldo Santana, que questionou se a produção da científica e tecnológica da Unicamp estaria a serviço de um projeto de desenvolvimento nacional ou apenas atenderia aos interesses de empresas multinacionais, o reitor disse que o Brasil disputa com a China e Índia os investimentos de grandes corporações internacionais em pesquisa e desenvolvimento. Segundo ele, essas organizações estão sendo obrigadas a descentralizar seus centros de pesquisa para atender mercados específicos, e o Brasil deve competir com outros países para atrair esses investimentos. Para isso, precisa oferecer ambiente acadêmico e sistema legal, capazes de possibilitar ao país produzir tecnologia para ser aproveitada pelo mercado internacional. Todavia, ponderou que apenas isso não conduzirá o país ao desenvolvimento sustentado. "Só teremos desenvolvimento tecnológico satisfatório quando as empresas brasileiras se conscientizarem da importância do investimento em pesquisa e desenvolvimento tecnológico", concluiu.

alesp