DA REDAÇÃO O reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Carlos Henrique de Brito Cruz, esteve na Assembléia Legislativa nesta quarta-feira, 19/5, a convite da Comissão de Cultura, Ciência e Tecnologia, presidida pelo deputado Jonas Donizette (PSB), para apresentar os trabalhos desenvolvidos por aquela instituição de ensino. Como não poderia ser diferente, os parlamentares que integram a comissão quiseram saber qual a opinião do reitor sobre o anúncio do Ministério da Educação do estabelecimento de cotas nas universidades públicas para alunos egressos de escolas públicas.Brito Cruz disse que o assunto quotas tem obscurecido a questão da inclusão no ensino superior. Segundo ele, a maneira de enfrentar o desafio da inclusão deve ser diferenciada em cada setor, e de acordo com as finalidades de cada instituição. "Há possibilidades de desenvolver políticas afirmativas que não sejam exclusivamente as políticas de cotas. Nas universidades, a preparação e a capacidade são muito importantes. Não é possível obrigar por lei que os estudantes que ingressem na universidade sejam deste ou daquele tipo", disse.A inclusão de categorias menos favorecidas nas universidades dependem, na ótica de Brito Cruz, muito mais de desenvolvimentos estruturais que efetivem melhores condições de ensino nos níveis fundamental e médio. O reitor defendeu modelo desenvolvido pela universidade de Campinas que, segundo ele, combina autonomia universitária, valor acadêmico e inclusão. Neste último item, a Unicamp oferece isenção aos alunos de baixa renda na taxa de inscrição do vestibular. Segundo Brito Cruz, existe uma mitologia relativa ao perfil sócio-econômico dos alunos da Unicamp. O vestibular, diz ele, não demonstra ser sensível à cor ou ao nível de renda de seus candidatos. Isto estaria demonstrado nos dados que revelam que 60% dos matriculados nos cursos da universidade têm renda individual inferior a 3 salários mínimos. Já os estudantes oriundos de escolas públicas representam 30% do corpo discente daquela universidade.LimitaçõesConsiderando que nas universidades federais os egressos de escolas de públicas somam aproximadamente 42% dos alunos, a reserva de 50% vai significar um acréscimo de 8% desse contingente específico. Entretanto, o reitor da Unicamp avalia que as cotas em si têm limitações em relação às garantias para a permanência desses estudantes nas universidades. Seriam, portanto, mais adequado desenvolver programas de investimentos que visassem à permanência dos alunos de baixa renda no ensino superior.Outra sugestão de Brito Cruz é estender às universidades públicas as isenções referentes ao INSS, que beneficiam apenas as instituições filantrópicas. A Unicamp, por exemplo, recolhe ao INSS R$25 milhões por ano, recurso que poderia ser direcionado para ampliação do ensino e da pesquisa.Entre os esforços para a expansão de vagas do ensino superior público, Brito cruz reputou inteligente o recurso às suplementações de verbas para desenvolver programas pontuais, como é o caso do Programa de Expansão de Vagas, que resultaram na criação de 360 novas vagas na Unicamp. Os recursos foram aprovados pela Assembléia Legislativa, a partir de proposta elaborada em conjunto pelas três universidades estaduais e governo do Estado. Essa suplementação permitiu à Unicamp construir novas instalações do Ciclo Básico, anfiteatros, salas-de-aula equipadas com ar condicionado, sistemas de som e multimídia e telas retráteis. As novas instalações podem ser consideradas entre as melhores do mundo, conforme avaliação do reitor.Excelência em pesquisaCentro de excelência em pesquisa científica e tecnológica, a Unicamp responde por quase 20% da produção científica do país. É a instituição acadêmica com maior número de registro de patentes de invenções e o quarto maior patenteador do Brasil, quando comparada junto com as indústrias do país. Da ação de seus alunos e professores resultou a criação de 90 empresas, das quais se destacam as de tecnologia de comunicação óptica. No entorno da universidade instalaram-se empresas de tecnologia de ponta, transformando assim a cidade de Campinas em um dos principais pólos de tecnologia.A instituição tem hoje 28 mil alunos, 14 mil em cursos de pós-graduação, 1.800 professores, 93% deles com doutorado, o que representa uma proporção de 18 alunos por docente. Desde 1987, as vagas da universidade duplicaram, enquanto o número de funcionários e de professores se reduziu proporcionalmente. Essa situação agravou-se ainda mais com a corrida de professores à aposentadoria, por conta dos receios causados com a reforma da Previdência.O reitor Carlos Henrique Brito Cruz respondeu as perguntas dos deputados Simão Pedro (PT), Paulo Neme (PTB), Nivaldo Santana (PCdoB) e Célia Leão (PSDB), esclarecendo o funcionamento de programas da universidade, como o de criação de um centro de extensão na cidade de Limeira. Em resposta ao deputado Nivaldo Santana, que questionou se a produção da científica e tecnológica da Unicamp estaria a serviço de um projeto de desenvolvimento nacional ou apenas atenderia aos interesses de empresas multinacionais, o reitor disse que o Brasil disputa com a China e Índia os investimentos de grandes corporações internacionais em pesquisa e desenvolvimento. Segundo ele, essas organizações estão sendo obrigadas a descentralizar seus centros de pesquisa para atender mercados específicos, e o Brasil deve competir com outros países para atrair esses investimentos. Para isso, precisa oferecer ambiente acadêmico e sistema legal, capazes de possibilitar ao país produzir tecnologia para ser aproveitada pelo mercado internacional. Todavia, ponderou que apenas isso não conduzirá o país ao desenvolvimento sustentado. "Só teremos desenvolvimento tecnológico satisfatório quando as empresas brasileiras se conscientizarem da importância do investimento em pesquisa e desenvolvimento tecnológico", concluiu.