"O CLONE" E A RESPONSABILIDADE SOCIAL NO COMBATE ÀS DROGAS - OPINIÃO

Luís Carlos Gondim*
03/05/2002 11:38

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Há muito tempo venho observando, com grande otimismo, a inserção de temas atuais e polêmicos nas novelas da TV Globo. Considero a iniciativa de extrema importância, uma vez que leva o debate para a sociedade e provoca profundas reflexões sobre assuntos que fazem parte do nosso dia-a-dia, muitos deles difíceis e indigestos, mas que não podem ser ignorados. Só para citar alguns, vale lembrar a questão dos sem-terra e da reforma agrária, inserida na novela "O Rei do Gado"; o drama vivido pelas pessoas que passam anos aguardando por uma doação de órgãos, como na novela "Laços de Família"; e o sofrimento das mães que procuram pelos filhos desaparecidos, destacado na novela "Explode Coração".

Esse novo caminho adotado pela Rede Globo é chamado de merchandising social e eleva a teledramaturgia a patamar muito mais importante do que a simples veiculação de folhetins melodramáticos. Tanto é verdade que a Rede Globo recebeu, no ano passado, na categoria Global Leadership, o Awards for Excellence 2001, um dos mais respeitados prêmios do mundo na área de responsabilidade social empresarial. Pelos altos índices de audiência e, conseqüentemente, pelo gigantesco número de telespectadores que acompanham as novelas, a teledramaturgia global não pode mesmo ser considerada simples entretenimento. Vai muito além disso. As novelas estão cumprindo hoje função social de grande valia, muitas vezes exercendo o papel de educador e orientador diante de situações delicadas e difíceis de tratar.

Digo tudo isso para destacar o mais atual exemplo dessa responsabilidade social praticada com muito êxito pela Rede Globo: a novela "O Clone", de Glória Perez, dirigida pelo brilhante Jayme Monjardim. Além das questões abordadas no enredo sobre clonagem humana e a religião muçulmana, a autora inseriu, numa trama paralela, o grave problema das drogas, que afeta milhares de famílias brasileiras. De forma dura, realista, mas com muita propriedade, Glória Perez tem explorado o tema com a maior clareza, ao mostrar de que maneira as drogas vêm atingindo número cada vez maior de jovens brasileiros.

Por meio da personagem Mel, vivida pela atriz Débora Falabella, a história mostra que o primeiro contato com as drogas se dá por curiosidade, para, em seguida, transformar o jovem num dependente que passa a trilhar um caminho de angústia, sofrimento e grandes perdas. Esse drama é compartilhado sobretudo pelas famílias, que não conseguem enxergar qualquer possibilidade de reverter esse triste quadro.

Mesclando ficção com realidade, Glória Perez também inseriu nos capítulos de "O Clone" depoimentos reais de usuários de drogas, contando a terrível trajetória de quem vê seu mundo literalmente ruir por causa da dependência química.

Muito mais do que um alerta, a novela tem sido um orientador para os dependentes e seus familiares, que sempre encontram muitas dúvidas e dificuldades na luta pela recuperação. Da mesma forma que "Laços de Família" provocou aumento no número de doações de órgãos, sangue e medula óssea, esperamos que "O Clone" obtenha resultado positivo na prevenção das drogas e na recuperação dos dependentes. O simples debate do assunto e as importantes informações

transmitidas por meio dos personagens já contribuem para que pelo menos parte dos jovens reflita várias vezes antes do primeiro contato com as drogas.

Parabéns à Rede Globo pela responsabilidade social assumida em sua programação. Parabéns à autora Glória Perez e ao diretor Jayme Monjardim, que com talento e sensibilidade expõem as feridas dolorosas de nossa sociedade com o objetivo de ajudar a curá-las. Parabéns também ao elenco da novela e a todos os demais profissionais da área técnica e de apoio, que contribuem com o sucesso de "O Clone", fazendo desta inteligente trama um marco importante no processo de conscientização da nossa sociedade.

*Luís Carlos Gondim é médico e deputado pelo Partido Verde (PV).

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