ELEIÇÕES 2000: ANÁLISES E PERSPECTIVAS - OPINIÃO

Jilmar Tatto*
08/11/2000 17:14

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Analistas políticos, através dos meios de comunicação, líderes de partidos e inclusive o presidente Fernando Henrique apresentaram suas avaliações sobre as eleições 2000. Em síntese, todos consideram que o PT foi o grande vitorioso. Alguns, no entanto, apressaram-se em relativizar o fato, de tal forma que sua importância e significado sejam secundarizados.

Talvez embalado pelo sentimento quase generalizado anti-Maluf na capital paulista, mas sem o seu posicionamento claro nesse sentido, para FHC, o que mais pesou na decisão do voto do eleitor foram "circunstâncias locais e não o cenário nacional". O presidente é pródigo em fazer avaliações e análises sem que seu governo seja incluído. Basta lembrar que, em suas visitas ao exterior, costuma reclamar de injustiças sociais e corrupção no Brasil como se o país não fosse o que ele governa há seis anos.

A impressão é que FHC acompanhou as eleições municipais de outro país, e não do Brasil. A grande maioria dos candidatos a prefeito, inclusive os tucanos, abordou a questão do emprego e prometeu o resgate da ética e da moralidade na gestão da coisa pública. Neste segundo tema, se a capital paulista tem a dupla Maluf/Pitta como principal expoente, em nível nacional a trinca Lalau/Eduardo Jorge Caldas/Luiz Esteves tem muito a esclarecer sobre verbas públicas desviadas, que o governo federal impede apuração dos fatos através de uma CPI.

João Paulo (PT), prefeito eleito de Recife, afirmou com muita propriedade que o resultado das eleições é "recado para FHC", o que concordamos plenamente, pois já no início deste ano afirmávamos que, independentemente da abrangência das eleições, o eleitor está preocupado com o que lhe atinge mais diretamente: emprego, moradia, segurança, serviço público de qualidade, saúde e educação. Difícil detectar quanto há de equívoco ou de cinismo, quando o presidente deixa de considerar o caráter nacional desses temas, como se o seu governo não tivesse nada a ver com isso.

Com base no resultado das eleições deste ano, as perspectivas para 2002 também vêm suscitando polêmica, que é reduzida à especulação em torno de nomes, articulações de partidos e seus virtuais presidenciáveis. O debate sobre as eleições daqui a dois anos pode e deve começar desde já, mas não somente a partir de eventuais candidaturas.

É claro e evidente o esgotamento da política do governo FHC. Este é o ponto de partida para a construção de propostas com base no clamor da "voz rouca das ruas", cujo recado foi dado agora, nas eleições municipais.

As candidaturas de oposição vitoriosas, além da abordagem das circunstâncias locais, souberam resgatar a esperança do eleitor em governos voltados para o atendimento às demandas sociais e, principalmente, que têm reconhecido compromisso com a ética e a moralidade na política.

Estes preceitos não são, evidentemente, suficientes para a conclusão de um projeto de governo para daqui a dois anos, mas representam importante ponto de partida para unificar a oposição que passa a governar 27 dos principais centros urbanos do país. São as vitrines, que serão governadas para toda a sociedade, privilegiando a participação popular, investimentos de verdade em programas sociais como a renda mínima e a bolsa escola e, sobretudo, muito rigor na transparência dos seus atos e ética na ação política.

Através da efetiva implantação dos programas de governo que elegeram prefeitos contrários à política de FHC em milhares de municípios pelo Brasil afora e, principalmente, com a construção de um programa que unifique os partidos de oposição estarão dadas as condições para o embate entre o modelo implantado pelos tucanos e aliados que governam há seis anos e o projeto democrático e popular que defendemos. E 2002 poderá repetir, em todo o Brasil, outubro de 2000 nos grandes centros urbanos.

Jilmar Tatto é deputado estadual pelo PT

alesp