MP é acionado para investigar morte por suspeita de dengue na Praia Grande

Amostra de sangue desapareceu, e corpo de Ivanise Borges poderá ser exumado
27/05/2002 11:26

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DA ASSESSORIA

A deputada Maria Lúcia Prandi (PT) acionou o Ministério Público de Praia Grande, reivindicando a abertura de investigação das responsabilidades pela morte de Ivanise Maria Teixeira Borges (Dedéu), moradora daquele município que faleceu no dia 12/5, com suspeita de dengue hemorrágica. A parlamentar também pede que o MP apure o desaparecimento do material hematológico recolhido da paciente, para confirmação da causa mortis. A amostra do sangue sumiu da Vigilância Sanitária da cidade.

"Esse absurdo não pode ficar impune", disse a deputada. "Primeiro, houve desleixo no atendimento. Depois, desaparece o exame que poderia comprovar a causa da morte." Prandi esteve na Delegacia de Praia Grande no dia 17/5, junto com Ivete Borges, irmã de Ivanise, para registrar um boletim de ocorrência sobre o sumiço do material hematológico. "Não podemos permitir que o aconteceu com minha irmã fique impune", enfatiza Ivani Borges, outra irmã de Dedéu.

Sangue no lixo

Conhecida em Praia Grande por seu trabalho comunitário, Ivanise morreu no dia 12/5. Dois dias antes, ela procurou o Pronto-Socorro da Cidade Ocian, apresentando queda de pressão, febre alta e vômito com sangue. Com suspeita de dengue, o médico de plantão determinou a coleta de material para exame, mas liberou a paciente, pedindo que voltasse no dia seguinte.

Ivanise retornou ao PS com o mesmo quadro e foi removida para a Santa Casa de Praia Grande, onde foi internada, medicada e liberada na madrugada. Poucas horas depois, piorou e foi conduzida por familiares à emergência do Pronto-Socorro. Mesmo medicada, teve uma parada cardiorrespiratória e faleceu. O médico de plantão voltou a determinar coleta de sangue para análise.

No Instituto Adolfo Lutz de Santos, Prandi ficou sabendo pela médica Liliane Zamaraioli que não havia requisição de exame para a paciente. Na Vigilância Sanitária de Praia Grande, ela foi informada pela médica Carmem Arguello Perandones de que o material hematológico não havia sido encaminhado para análise, apesar da indicação no prontuário de Ivanise. Na última quarta-feira, 22/5, em entrevista à imprensa regional, a médica Leila Prieto, também da Vigilância Sanitária, confirmou que o sangue coletado, em vez de seguir para análise sorológica, foi encaminhado para o hemograma e acabou sendo jogado fora.

Epidemia em Santos

Em julho do ano passado, a deputada Maria Lúcia Prandi acionou a Promotoria Pública de Defesa da Cidadania para apurar as responsabilidades pela epidemia de dengue em Santos. A representação deu origem a um procedimento investigatório a cargo do promotor Eduardo Antônio Taves Ramero. O trabalho já tem pelo menos dois volumes e o Ministério Público vem cobrando explicações e informações a órgãos públicos municipais, estaduais e ao governo federal.

Na representação, Prandi já alertava para o risco de a epidemia da doença explodir este ano, em conseqüência da descontinuidade das campanhas preventivas. Além disso, a parlamentar apontava o risco de ocorrerem mortes por dengue hemorrágica e surgirem casos com o vírus do tipo 3. "Anos antes dessa representação, já pedíamos socorro às autoridades públicas de saúde. Fui a única a rebater a redução dos recursos para o combate ao Aedes aegypti. Infelizmente, tudo que apontávamos se tornou realidade. Agora, precisamos intensificar o trabalho, impedindo que a epidemia seja ainda mais forte no próximo ano", finaliza Prandi.

alesp