O jovem e a sociedade moderna

Opinião
07/04/2006 17:10

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Arnaldo Jardim<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/ajardim.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

No exercício do meu mandato parlamentar tenho dialogado sempre com os jovens e com entidades que tratam da adolescência. Colho depoimentos que me fizeram refletir que não é fácil ser adolescente nos dias de hoje. As ideologias que sempre orientaram o nosso modo de vida estão em crise, o sonho do socialismo ruiu em meio ao excesso de burocracia e ao capitalismo que tem se mostrado excludente e conservador. Como conciliar a distribuição de renda e a melhoria na qualidade de vida com a economia de mercado e sua competitividade feroz?

A inovação tecnológica trouxe consigo transformações significativas na sociedade, influenciaram as relações entre as pessoas e o modo com que elas se relacionam com o mundo. Hoje, o estímulo é voltado ao individualismo e à venda de facilidades, em detrimento ao esforço conjunto e à persistência. Não existe mais a utopia de viver em um mundo mais justo, sem conflitos armados, capaz de acabar de vez com as chagas da pobreza e da desigualdade social.

Lembro-me quando era líder estudantil, uma época em que lutávamos contra um inimigo comum: a mão de ferro do regime militar. Hoje, em uma sociedade democrática, o inimigo muitas vezes é oculto, apesar das mazelas serem latentes no Brasil. Faltam empregos, qualidade no ensino, renda, atendimento médico etc. Mas, como os jovens lidam com tudo isso?

Hoje, vejo como mudaram as relações entre pais e filhos. As crianças estão se tornando adolescentes cada vez mais cedo, mas a emancipação financeira está mais tardia. Nesta dicotomia, estão nossos jovens na busca de sua identidade e do reconhecimento.

Segundo pesquisa do Dieese, os jovens com idade entre 16 e 24 anos correspondem a 27% da população economicamente ativa, mas representam quase a metade (45,2%) dos desempregados. Grande parte desse desemprego está concentrado entre os mais novos (entre 16 e 17 anos), cuja taxa de desemprego chega, em algumas regiões a superar 50%. Para aqueles que conquistam uma ocupação, ela se refere, com freqüência, a funções mais instáveis, sem proteção de leis trabalhistas e com rendimento extremamente baixo. Além disso, têm que acumular as tarefas profissionais com a educação, que não é garantia de bons empregos no futuro. As melhores oportunidades ficam reservadas para aqueles que conseguem freqüentar boas escolas e que constituem uma minoria. Os jovens de famílias de menor renda tendem a se transformar em adultos que estarão nos patamares mais baixos da distribuição de renda.

Enquanto isso, a expectativa de vida do brasileiro cresce e a mortalidade infantil recua, segundo o IBGE. A idade média do brasileiro é de 71,7 anos, enquanto as mortes no primeiro ano de vida diminuíram 61,5% em 25 anos. Ou seja, temos uma população cada vez mais jovem e que vive cada vez mais. Se não formos capazes de garantir uma colocação profissional a um número cada vez maior de jovens, que ingressam no mercado de trabalho, nem conseguirmos equacionar a questão do ensino público, estaremos condenando toda uma geração.

Em São Paulo, há uma lei de minha autoria que instituiu o Programa Saúde do Adolescente, sancionada pelo governador Geraldo Alckmin, que tem como principal objetivo combater a gravidez precoce na adolescência e o crescente número de jovens envolvidos com o tráfico de drogas. Recentemente, promovi uma palestra com a doutora Albertina Duarte, uma ginecologista renomada, que coordena o programa em nosso Estado, para falar sobre os desafios da regulamentação e da implantação desta legislação inovadora.

O objetivo é oferecer um atendimento diferenciado que busca amparar os jovens, por meio de um atendimento multidisciplinar, envolvendo várias áreas como assistência social, educação sexual, ginecologia e pedagogia, que envolve não apenas os adolescentes, mas, a família e a comunidade. São atividades que criam uma referência de grupo, que estimulam à solidariedade, a integração e a troca de experiências, que já apresentam resultados práticos como a redução de 28% da gravidez precoce na adolescência em nosso Estado. Agora, quero me empenhar para que novos indicadores de saúde dos jovens sejam incluídos na elaboração do Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS), uma ferramenta fundamental para nortear as políticas públicas estaduais.

Trata-se de um exemplo prático de como elaborar e implantar uma política voltada para os adolescentes, com um olhar acolhedor, que respeite as diferenças e estabeleça um canal de comunicação permanente entre esses adolescentes e a administração pública. Faço várias indagações neste texto sobre a inserção do jovem na sociedade moderna e o retorno da utopia, mas reconheço que não sou um super homem portador de respostas prontas para esses desafios. Acredito que a melhor maneira de encarar essas questões está no diálogo permanente. Vamos trazer esses jovens para participar dos debates sobre questões fundamentais como saúde, educação, empreendedorismo e criminalidade, pois estes brasileiros são o futuro e precisamos escutá-los.

*Arnaldo Jardim é autor do projeto de lei que institui o Programa Saúde do Adolescente

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