1.º de Maio " Um dia de luta

Opinião - Geraldo Vinholi*
02/05/2005 20:05

Compartilhar:


O Dia do Trabalho, comemorado mundialmente no 1.º de maio, foi instituído a partir de um marco na luta dos trabalhadores de todo o mundo. De grande significado na história das lutas sociais, a data vem sendo lembrada desde 1889, quando, num congresso internacional de trabalhadores, realizado em Paris, foi escolhida para homenagear cinco operários que participaram de uma greve, três anos antes, em 1886, nos Estados Unidos, mais precisamente em Chicago. Aqueles cinco operários grevistas foram envolvidos, por meio de provas forjadas, num atentado. Julgados e condenados, foram enforcados. Seu crime, na verdade, foi a reivindicação da redução da jornada de trabalho para oito horas.

Mas por que, depois de tantas conquistas por parte dos trabalhadores, inicio este artigo com esta pequena lição de história, lembrando fatos que ocorreram tão longe de nós há mais de cem anos? Porque aqueles cinco operários, além de fazerem história, com suas vidas deram o empurrão que faltava ao movimento sindical no mundo todo, inclusive aqui, no Brasil, deflagrando uma luta que, infelizmente, apesar de muitas conquistas, parece longe do fim.

No Brasil, a primeira greve de que se tem notícia ocorreu no Rio de Janeiro, em 1858, quando tipógrafos paralisaram suas atividades por aumento de salário. Eles representavam uma classe de trabalhadores que praticamente nem existe mais. Mas a primeira grande greve no Brasil teve inspiração anarquista. Em junho de 1917 a paralisação iniciada no setor têxtil, sob a liderança dos anarquistas, propagou-se rapidamente e atingiu a área portuária e o interior, envolvendo cerca de 50 mil trabalhadores. Eles reivindicavam aumento de salários, proibição do trabalho infantil, jornada de oito horas, garantia de emprego e direito de associação. Os anarquistas, que os inspiraram, pregavam a extinção do Estado, a democracia direta, o fim da propriedade privada, dos meios de produção e a igualdade social. E eram contrários aos organismos de representação, além de defenderem a organização autônoma dos trabalhadores em seus locais de trabalho. Mas foi exatamente a organização do movimento operário no Brasil e no mundo que deu origem aos partidos políticos, fruto da organização social.

Muitas foram as mudanças ocorridas nesses cerca de cem anos, tantas as evoluções tecnológicas e, lamentavelmente, os trabalhadores ainda não alcançaram um patamar mínimo de dignidade. Ainda temos de lutar por melhores salários. E o pior, temos de lutar por empregos.

O período de maiores conquistas dos direitos trabalhistas foi o do governo do presidente Getúlio Vargas, cujas leis ainda vigoram, e nosso partido, o PDT. Desde então, o partido tem sido o guardião destas causas com a histórica luta de nosso líder Leonel Brizola, cujo legado nos faz ter orgulho e a responsabilidade de levar adiante. Queremos modernizar essas leis, mas ao mesmo tempo ampliar as conquistas de toda a classe produtiva, dando mais dignidade ao trabalhador e a toda população brasileira.

Os trabalhadores brasileiros estão cansados da luta, da espera e, talvez, até de ter esperança, mas não vão arrefecer. O trabalhador brasileiro acreditou que ao eleger um dos seus para a Presidência da República a luta estaria perto do fim, mas não está. O presidente Lula, cuja trajetória política teve início no movimento sindical, continua agindo e falando como se estivesse num palanque. Só que agora seu alvo somos nós. Sua retórica tem se mostrado extremamente infeliz e as atitudes de seu governo também. A política econômica nos arrocha, com impostos cada vez mais altos, necessários para pagar os gastos do governo dos sindicalistas que chegaram ao poder. O presidente nos culpa pelos juros altos. Talvez queira atribuir também aos trabalhadores a falta de emprego.

O povo está cansado, mas não vai desistir. Os trabalhadores, agora unidos aos empresários que querem e precisam crescer e que também não conseguem mais arcar com a carga tributária, continuam na luta. O país precisa continuar se desenvolvendo e não há mágica para isso. O que vai levar o Brasil ao crescimento é o corte dos impostos " com a conseqüente entrada na formalidade de micros e pequenos empresários " e dos juros e a geração de empregos. Temos de criar esse círculo virtuoso se quisermos melhorar a situação dos nossos trabalhadores.

Esta luta se dá por questão de justiça. A simpatia pelas elites não fará nossos cidadãos mais participantes. As conquistas de homens e mulheres por meio de lutas, que às vezes são duras, é que faz com que uma sociedade possa evoluir; a consciência de que as conquistas devem ser para a maioria e de que não podemos excluir as minorias. Também é uma questão de cidadania.

Que este 1.º de Maio seja mais um dia de luta. Que os trabalhadores saiam às ruas e participem dos atos públicos que deverão acontecer por todo o país. Temos de honrar aqueles cinco trabalhadores que deram origem ao Dia do Trabalho. Só com a força e a manifestação de todos é que talvez o sindicalista que hoje está encastelado nos ouça.





* Geraldo Vinholi é deputado estadual pelo PDT e 2.º secretário da Assembléia Legislativa de São Paulo

alesp